sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Que falta nos faz a Natália...

Há frases que a história não registará, mas que integrarão sempre o curriculum de quem as profere. Muitos já esqueceram quem foi o deputado Morgado que Natália Correia transformou num capado em poema que lhe dedicou, e outros esquecerão facilmente Marinho Pinto, mestre da verborreia, reacionário como poucos, que de tanto gritar já se ensurdeceu.
Tudo isto porque em entrevista ao PÚBLICO de hoje, este canastrão tem uma saída digna do tal Morgado, mas com a sorte de agora se poder safar de uma reação à altura por parte de Natália Correia. Afirma ele:
“Os filhos não se fazem por download, está a perceber? Para mim é tão contranatura dizer que o sexo só serve para procriação como usá-lo só para prazer.”
Marinho é casado, pai de apenas duas filhas e já avô. Assim sendo, e pegando nas suas palavras, ou é um completo desnaturado, um contranatura, ou desde há muito que aquilo só lhe serve para mijar, ou então o truca-truca não é mais que o cumprimento de um dever conjugal e para o quê a ereção terá que ser conseguida a ferros. Ou teremos mais um capado?

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

1966 - Eu estive lá...







Estávamos em 1966 e a FCG ainda não tinha as instalações e auditórios sitos na avenida de Berna. Daí a importância em ter um primo que fazia um biscate como porteiro e arrumador no Tivoli, sala onde se realizava a maior parte dos concertos que integravam os festivais Gulbenkian. O de 1966 era a décima edição, e 1966 era o meu primeiro ano em Lisboa, trabalhador-estudante no Colégio Manuel Bernardes, o que me permitia ter, para além da cama, comida e roupa lavada, 500$ por mês que me permitiram vícios que ainda hoje me acompanham.
Mantenho desde então o programa de um festival que saía da capital para Mafra (os concerto de carrilhão), Coimbra, Setúbal, Leiria, Santarém, Aveiro, Guimarães, Covilhã, Évora, Beja, Braga e Faro. Na altura o resto não era apenas paisagem.
Esta facilidade do acesso ao Tivoli, onde então nunca pagava concertos ou cinema, tinha ainda a vantagem permitir ir até aos camarins e sacar um ou outro autógrafo recordando, em especial, o de António Pedro que, como declamador, participou na 1ª audição absoluta de “O Encoberto” com que Maria de Lourdes Martins ganhara o Prémio Calouste Gulbenkian de Composição em 1965. Era o mês de Maio e António Pedro faleceria no mês de Agosto do mesmo ano.
No dia 1 de Junho estou no Coliseu, suponho que a troco de 7$50, para ouvir “A Sagração da Primavera” e o “Oedipus Rex”, este dirigido pelo próprio Stravinsky. E recordo o modo como foi efusivamente ovacionado por uma sala cheia, em contraste com umas ligeiras palmas para Tomás que na altura o condecorou.
De pequenas coisas se faz a vida e as que nos marcam revivem-se como se fossem de hoje, por terem lá o seu que de eternas, permanentes.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Fala quem sabe para o surdo Crato

Sobrinho Simões
P. Os anteriores governos do PSD seguiram a linha iniciado por [Mariano] Gago. Este não fez o mesmo?
R. Este governo fez uma ruptura, que não foi só na ciência. Mas na ciência foi mais grave, porque é um tecido relativamente novo. Fez uma espécie de destruição criativa: rebentou com tudo, esperando que, das cinzas, nasça algo de novo. Na ciência, não nasce.
P. Como vê a proposta do Orçamento do Estado para o sector?
R. É péssima, porque corta de uma forma cega. Não reforça as instituições que merecem e deviam ser premiadas. Ao mesmo tempo, deveria reformular as instituições que não merecem. Do lado da ciência, há uma ideia de que um investigador muito bom pode juntar dois amigos e vai ali para o pátio do Hospital de S. João fazer um projecto de investigação.
P. É aplicar à ciência a cartilha do empreendedorismo?
R. A ciência, antes de mais, precisa de um tecido de suporte. O empreendedorismo é criminoso, porque tem estimulado perversões. O cientista que é muito empreendedor deve ser um empresário. Os estímulos deste tipo podem acabar por ser um convite ao chico-espertismo.
P. Como vê as alterações que a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) introduziu ao financiamento da ciência?
R. A FCT está de uma incompetência como eu nunca vi. Está a mudar permanentemente as regras e os prazos. Não há coisa mais difícil do que alguém planear a sua vida sem um mínimo de estabilidade.
P. E concorda com os critérios de avaliação, baseados na produção científica e obtenção de patentes, por exemplo?
R. São terríveis. Primeiro, porque coloca os investigadores das ciências sociais e humanas numa situação de dificuldade. E a sociedade portuguesa precisa, como de pão para a boca, de ciências sociais. Depois, parece-me que é mais importante a repercussão da nossa actividade no mundo científico e na sociedade do que o facto de se publicar numa revista com muito impacto. A FCT não pensa o mesmo.
Extratos da entrevista de Sobrinho Simões ao PÚBLICO de 22-11-2013

APRe!

Maria do Rosário Gama
Tenho para com esta senhora uma mala-pata desde que a conheci enquanto cúmplice destacada na contestação a Maria de Lurdes Rodrigues liderada pela Fenprof e seu Nogueira, fazendo então questão de se apresentar, para se dar ares de independência, como militante socialista.
Na altura, alinhava mesmo publicamente com Crato que agora, em entrevista à Antena 1, confessa ser pior que a antiga ministra de um governo liderado pelo partido em que milita.
E estava para mim esquecida até que a vejo presidente da APRe!, e pasmei, sobretudo pela falta de jeito e de substância no desempenho das funções para que foi catapultada.
Aquela entrevista à Antena 1 foi uma prova triste disso. Nada, mas nada, para além de banalidades. Mas chocou-me uma brincadeira, uma foleirice própria de gente tonta. Na verdade, comentando as linhas do seu recibo de pensão, reparou a senhora que descontava para a ADSE sobre 14 meses de retribuição, quando não pode estar doente mais que 12 meses por ano. Ora, com esta graçola tonta, nem se dá conta de que assim dá argumentos aos que põem em causa haver 14 retribuições mensais para 12 meses de trabalho, pois também não se trabalham 14 em 12 meses que o ano tem. E bastaria que lhe ocorresse uma coisa comezinha: se uma contribuição está fixada numa percentagem da retribuição, pouco importa o número das frações em que a retribuição é paga. Mas como ela gozava com aquilo que para ela, certamente para mais ninguém, seria uma aberração.
Os reformados e pensionistas que se cuidem e escolham melhor logo que possível, pois não será difícil, longe disso, encontrarem melhor. Além de que merecem melhor.
 

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Leituras em dia: "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta


Natália Correia pediu a Fernando Dacosta que contasse a história do seu Botequim, razão porque temos “O Botequim da Liberdade” dez anos decorridos sobre a morte da poeta, também notabilizada noutras áreas.
Nunca fui ao Botequim e, se por lá passaram muitos ilustres, não vejo no livro as revoluções que por lá se congeminaram, nem que governos lá se fizeram ou desfizeram, nem que movimentos cívicos se criaram naquele ambiente. Mas é para isso que chama a atenção a contra capa e que foi, em grande parte, a motivação que me levou a comprar as mais de trezentas páginas.
Uma desilusão… salvo a confirmação dos excessos de Natália Correia que impunha respeito (ou medo?) a muita gente, os seus odiozinhos de estimação, as suas fraquezas.
Mas fica a impressão de que se tratou de despachar uma encomenda, de satisfazer o pedido feito. De facto, para quem se descreve quase como secretário particular de Natália Correia, é imperdoável que a) se não tenha referido corretamente o nome do livro da marquesa de Jácome Correia, amiga de Natália – “Amores da Cadela ‘Pura’” e não “Memórias de Uma Cadela Pura”-, dando de barato a explicação para o título do livro, para o que tenho outra bem mais atendível e que foi recolhida em tempos junto de um sobrinho da marquesa, na ilha de São Miguel, e b) se tenha amputado o poema suscitado pelo deputado Morgado dos seus versos finais, essenciais para se perceber aquilo que até se apresenta como algo “da nossa melhor poesia satírica”.
De facto, Fernando Dacosta transcreveu apenas até “parca ração” o poema que se segue
Já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.
Pena, até porque haveria que saber que o Morgado ficou capado!
 

Nem que seja a tiro












Foi há pouco, há poucos dias, a caminho da Bica, numa vadiagem, pois num vadio ando transformado, talvez irremediavelmente, que dei com este par de portas, gémeas na origem, bem diferentes no momento em que capturei as fotos. Salvo erro, em frente da Escola David Mourão-Ferreira, na Rua das Chagas.

E tudo vem a propósito: uma escola, as chagas, as chagas consequência desta política canalha que nos rouba a esperança.
Porque isto me fez matutar no seguinte: as portas, na origem, seriam iguais mas, sei lá por que razões, hoje são bem diferentes: uma bem tratada mas com sinal a prevenir que ali não se brinca, outra com ares de maus tratos e acorrentada.
Ora isto ilustra, pode ilustrar, o futuro das políticas que vão contra a coesão social, coesão só possível por uma escola que, mais que a liberdade de escolha, garanta a igualdade de acesso ao ensino, a par de um SNS para todos, independentemente da sua condição e uma Segurança Social que para todos consagre condições dignas, ainda que não necessariamente iguais.
Mas estas não são preocupações da canalha que nos governa. Por isso, amanhã, poderemos ter uns protegidos por uma porta em que basta um sinal a garantir os privilégios de uns quantos, enquanto a maioria ficará trancada atrás de uma porta acorrentada, para evitar incómodos aos primeiros.
Até quando? Até que a raiva exploda e a justiça se faça. Nem que seja a tiro.
 

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Margarida Alforreca com cara de Couve, ou vice-versa.

Devo a Margarida Rebelo Pinto uns momentos de gozo, de grande gozo, na leitura deste livro logo que editado em 2006.
Valeu bem a pena a leitura, certamente penosa, que João Pedro George fez então de 8 livros desta indigente mental, para concluir que a dondocas é, por exemplo, mestre do copy & paste de livro para livro, sempre na expectativa, admito, de que ninguém dê por isso, tal a consideração que tem por quem a lê.

Na altura, quando se anunciou a publicação do livro, a dondocas quis impedir a sua publicação, invocando um curioso argumento: o seu nome seria uma marca registada, logo a sua utilização no título do livro significaria uma violação dos direitos de autor, de personalidade, de propriedade industrial. Só mesmo de uma tonta que não se enxerga. De facto não é para qualquer um escrever “impotente como um peixe”, “cara inchada que parece um bolo”, “com a cara feita num croissant amassado”, “duas loiras bem cheias, com cara de couve”, “o Pedro era uma couve”, "fico aqui fechada em casa (…) em frente à televisão, como uma couve”, “cara de ovo cozido”, “mirrada como uma batata velha”…
Ó meus amigos: isto não é para qualquer um, a par de deslizes de ortografia e erros gramaticais. Só mesmo ao alcance de uma alforreca com cara de couve, ou vice-versa.

 

 


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Uma cadela, de nome Pura.


Na minha segunda ida aos Açores, mais exatamente a São Miguel, fiquei alojado numa cottage que os proprietários da casa senhorial de que era anexa alugaram. E levei comigo um dos dois volumes de “Amores da Cadela ‘Pura’”, de Margarida Victória, Marquesa de Jácome Correia.
O atual proprietário, apercebendo-se do livro, ficou curioso e quis saber se sabia onde me encontrava. E não é que me encontrava numa propriedade que foi da Marquesa Jácome Correia e que agora pertencia a um seu sobrinho?
O livro relata as memórias, particularmente as de carater amoroso, da marquesa, mulher de fortuna e cosmopolita, cuja vida escandalizava a sociedade local, vida também com muito de trágico, sobretudo no seu final.
Na altura foi-me explicado o título do livro, título claramente equívoco mas que se devia ao facto de a marquesa ter então uma cadela chamada Pura, razão por que no título Pura se escreve entre parêntesis.
Ora, em “O Botequim da Liberdade”, Fernando Dacosta, parecendo desconhecer o que atrás relato, escreve que foi Vitorino Nemésio, por quem a marquesa teve uma grande paixão, “quem deu o estrambólico nome ao livro”, livro para o qual, erradamente, Fernando Dacosta dá o título de “Memórias de uma Cadela Pura”.
Mas tudo indica que assim não foi. Pelo menos existia uma cadela e que era pura de nome, e apesar do contexto da relação vivida entre Nemésio e Margarida Victória, bem expressa nos sensualíssimos e eróticos poemas de Nemésio em “Poemas para Marga” (Marga de Margarida) e que estipulou que só vissem a luz do dia após a sua morte.
 

Lendo "Alfabetos" de Magris


“Kafka dizia que um livro deve atingir-nos como um soco, abalar com violência o leitor e a sua habitual visão das coisas. Receber um soco não é agradável; segundo Kafka, uma autêntica literatura deve pois conter – além do jogo, do prazer, do sabor do mundo e da sua reinvenção – também um certo desagrado, algo de chocante que desconcerta e cria mal-estar.
Poucos livros conseguem lidar com esse lado desagradável, por vezes insuportável, da vida que é uma sua verdade e não pode ser iludida ou atenuada. São esses livros que obrigam o leitor a atravessar os desertos da existência, sem levá-lo pela mão e sem ajudá-lo a esquivar-se às areias movediças – como faz a literatura bem-intencionada e tranquilizadora -, mas obrigando-o a refazer o mesmo caminho do escritor e a atolar-se na angústia e no lodo desse caminho, em vez de  lhe oferecer uma varanda panorâmica da qual ele possa tranquilamente admirar os infernos e os abismos sem se sentir ameaçado ou sorvido no remoinho.”
Claudio Magris, in “Alfabetos”

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Claudio Magris: Utopia, Desencanto e Ironia


“A literatura do desencanto não é a destruição do encanto, é a consciência melancólica mas necessária da realidade. Quando Dom Quixote fantasia numa coisa aquilo que ela não é, tem razão, contra Sancho Pança, porque as coisas não se reduzem à sua dimensão prática. O desencanto, que nos faz ver o mundo como é, torna verdadeira e não falsa a consciência da vida, que é uma consciência dolorosa, mas não retira o encanto. Creio fortemente na força criativa do desencanto. Mesmo politicamente, sinto o desencanto como positivo: se uma visão política do mundo pretende ter uma receita absoluta, naturalmente que é falsa. Moisés não tem ilusões e sabe que não alcançará a terra prometida, mas não desiste de caminhar para ela.”

“… basta pensar em Musil, que dizia que no nosso mundo pode suceder que um génio seja tomado por um imbecil, mas nunca um imbecil será visto como um génio. Ou a história da imperatriz Sissi que escrevia poemas que dizia ser o resultado de um contacto mediúnico com Heine. Um conselheiro imperial da corte comentou: vê-se bem que Heine, depois de morto, piorou imenso como poeta.”
Claudio Magris, vencedor do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a divulgação do património cultural, de 2013, em entrevista ao ípslon / PÚBLICO.

A solidão, lendo Arthur Schnitzeler


Defende-te das más companhias, mas não te esqueças que se escolheste a solidão, essa não será sempre a melhor companhia.
Afasta-te cem passos do caminho balizado e eis-te sozinho. E se encontras alguém, não sabes se procura a solidão como tu ou se vai em expedição de pilhagem.
Desconfia do instante em que começas a ficar orgulhoso da tua solidão; no momento seguinte desperta em ti o desejo de encontrar pessoas.”
Arthur Schnitzler, in “Relações e Solidão”, editora Relógio d’Água

Lendo Arthur Schnitzler


“Uma mulher prudente dizia-me um dia: os homens sabem sempre muito bem aquilo que conseguiram alcançar connosco; mas não têm geralmente nenhuma ideia de tudo aquilo que não alcançaram.”
Arthur Schnitzler, in “Relações e Solidão”, editora Relógio d’Água