quarta-feira, 9 de abril de 2014

Quem sai aos seus...


Quando a canalha que nos governa assenta os seus êxitos na redução do défice, no equilíbrio das contas externas e coisas assim, ignorando os danos causados aos milhões que suportam os resultados das suas políticas na pele, é bom recordar esta passagem de Rentes de Carvalho:
“Ao guarda-livros [Salazar] não se pode dar desculpa, mas tem que se lhe dar um crédito: o de exigir que as despesas não ultrapassem as receitas, e a submissão absoluta de todos os ministérios ao das Finanças. Desse modo, pela terceira vez em setenta e cinco anos, o orçamento do Estado apareceu equilibrado, e assim se manteve até que sobre ele caiu o desproporcionado peso da guerra colonial.
Mas acrescente-se o que os panegiristas sempre passaram por alto e que os bajuladores nunca quiseram ver: orçamentos equilibrados graças à miséria atroz para quase todos, privilégios desmesurados para um pequeno grupo. Tudo isso em nome de Cristo, da Família e da Ordem, e de uma bizarra concepção da sociedade, infelizmente partilhada por mais, e exposta pela última vez num discurso do ditador proferido em 1967: “Sempre houve pobres, sempre os há-de haver, é preciso que os haja.”
In “Portugal, a Flor e a Foice” de J. Rentes de Carvalho.