Quando a
canalha que nos governa assenta os seus êxitos na redução do défice, no
equilíbrio das contas externas e coisas assim, ignorando os danos causados aos
milhões que suportam os resultados das suas políticas na pele, é bom recordar esta passagem de
Rentes de Carvalho:
“Ao guarda-livros
[Salazar] não se pode dar desculpa, mas tem que se lhe dar um crédito: o de
exigir que as despesas não ultrapassem as receitas, e a submissão absoluta de
todos os ministérios ao das Finanças. Desse modo, pela terceira vez em setenta
e cinco anos, o orçamento do Estado apareceu equilibrado, e assim se manteve
até que sobre ele caiu o desproporcionado peso da guerra colonial.
Mas acrescente-se
o que os panegiristas sempre passaram por alto e que os bajuladores nunca
quiseram ver: orçamentos equilibrados graças à miséria atroz para quase todos,
privilégios desmesurados para um pequeno grupo. Tudo isso em nome de Cristo, da
Família e da Ordem, e de uma bizarra concepção da sociedade, infelizmente
partilhada por mais, e exposta pela última vez num discurso do ditador
proferido em 1967: “Sempre houve pobres, sempre os há-de haver, é preciso que
os haja.”
In “Portugal,
a Flor e a Foice” de J. Rentes de Carvalho.