Facto é que tinha um jornal para as minhas crónicas. E agora tenho as crónicas e uma fotocopiadora. Por isso vos deixo uma fotocópia. A minha crónica numa fotocópia. Nada mais terrível que não ter um jornal para a minha cópia. Tiraram-me o jornal.
Mas que mal há nisso se eu até lia o Avante em fotocópias? Claro que mais adiante direi que nunca tive interesse pela política, certamente por lapso, por distracção. Mas deve ficar bem falar na leitura do Avante em fotocópias. Clandestinamente, sem o Kaulza saber.
Claro que me lembro do momento do telefonema a anunciar a censura da minha crónica. Estava deitado com a minha mulher a ler o livro (desculpa, cronista, escapou-me o título, mas era livro de peso, isso juro). E decidi logo: nunca mais terás crónicas minhas. Ou eu não seja o Mário. Acabou, não quero mais.
E lembro mesmo um pormenor: no dia seguinte tinha exame para tirar a carta de patrão de costa. Um exame duríssimo de 3 horas. Como poderia esquecer isto? Já agora: passei, com excelente nota. Podem dar-me os parabéns. Voltar a isto, de ser snob, mas para falar do bife.
Nunca pensei publicá-las em livro. O quê? As minhas crónicas, claro. Pensava antes em coisa literária mais sumarenta, mas só para depois da reforma. Agora sou cronista em livro, porque me tiraram o jornal que publicava as crónicas mais lidas, desculpem a vaidade.
Mas descansem. Enquanto houver fotocópias, haverá crónicas. Sim, no tempo de Jefferson não havia fotocópias e vocês sabem que ele disse (desculpa de novo: não retive as diversas tiradas atribuídas a Jefferson).
Conhecem o conteúdo daquela emenda à Constituição dos USA segundo a qual nenhum soldado pode ocupar casas sem o consentimento do comandante? Pois, apesar de tal emenda, tiraram-me a casa, a casa das minhas crónicas que era o jornal. Mas tenho as fotocópias.
Sim. A estabilidade financeira do jornalista é importante. Doutro modo, como pagar o bife no Snob - lembram-se da carta de patrão de costa? - e poder ter aquelas conversas com jornalistas. E estabilidade para ter família. Sobre isto muito poderia falar, se me desse para aquelas opiniões sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Quando temi que vinha aí o pior? Quando recebi esta T-shirt. Olhem-na. Nunca a pus em público, mas já dormi com ela diversas vezes. É com que uma (desculpa, cronista, aqui saiu um termo caro, mas escapou-me).
Como vêem, já me habituei a este ritual. Poderia ficar aqui pela noite dentro, se não fosse o meu jornal das 9. Não fosse o jornal e juro que não seria tão selectivo a responder. Escolhendo o que me dá mais jeito.
Mas retenham isto: um tinha um jornal e, agora, restam-me as fotocópias. Que vos passo, salivando os dedos, para que seja uma para cada um de vós. Não mais, em benefício do bife do Snob.
Posso pedir um favor?
Não apaguem a gravação. Eu quero uma cópia. Antes Crespo na comissão da AR que o melhor dos Gatos Fedorentos.
Internar este tipo? Tenham juízo. Eu quero mais. Quero Crespo membro vitalício de todas as comissões da AR. E com mais tempo de antena.
E atenção, deputados. Topei que havia por ali alguns sorrisos – de gozo – contidos. Custa aguentar? Custa, mas é serviço público permitir a auto-denúncia de gente enfatuada. Com um ego de fazer saltar todos os botões da camisa.
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