Pichelim
Um dia, vésperas de Natal, a minha Mãe pôs-se a caminho do
Brasil, mas deixou as coisas encaminhadas para a consoada, a sempre enorme
consoada, tendo em contas as habituais vinte e muitas presenças.
Mas havia postas esquisitas no que era apresentado como
sendo bacalhau, sobretudo pela quantidade de espinhas e em locais onde não era
suposto haver espinhas, espinhas muito pequenas, arredondadas. E alguém, não
recordo quem, explodiu: "o bacalhau está misturado com pichelim". Eu estava longe
de saber o que era pichelim.
Mais tarde, num restaurante aqui ao lado, pedi bacalhau à
Brás, e lá vieram tais espinhas. E reclamei: “Sr. Sacramento, isto não é
bacalhau… olhe para estas espinhas…” Não valia a penas insistir, para o Sr.
Sacramento aquilo era bacalhau e eu é que era esquisito. Tempos depois a mesma cena mas, dessa vez, o Sr.
Sacramento fez questão de me convencer, trazendo à mesa uma embalagem com uma
pasta congelada, constando da etiqueta a menção “bacalhau à Brás”. Para o Sr.
Sacramento bastava a etiqueta, o que me levou a perguntar se ele acreditaria
que fosse lagosta se tal lá estivesse escrito. “Sr. Sacramento, isso é pichelim…”.
“ O quê? O que é pichelim?”. E lá expliquei, ao dono de um restaurante, que havia
um peixe muito parecido com o bacalhau e que, fraudulentamente, era vendido
como tal.
Peixe-caracol
Julgava que as aldrabices se ficassem pelo pichelim.
Mas não. Hoje é notícia que, num preparado para fazer bacalhau com natas, o
bacalhau foi substituído pelo peixe-caracol. Mas que falta de respeito ao bacalhau.
Por estas e outras, para mim bacalhau é posta, uma boa posta:
cozida, assada na brasa, à lagareiro, à Narcisa... Bacalhau à vista, sem
disfarces.
1 comentário:
E ainda há o escamudo ou paloco que é enfiado a torto e a direito como se bacalhau fosse.Cá em casa é a Maria que compra o fiel pois conhece-o a léguas.
Abraço
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