O patético
presidente em exercício pedia, a quem se manifestava nas galerias, respeito
pela Assembleia da República. Respeito, imaginem.
O quê?
Deveria escrever pateta e não patético? Devem ter razão: fica, então, pateta.
Isto baixou
ao nível da pouca-vergonha, da mais abjeta indecência. E nada de poupar em
adjetivos na miséria a que se assistiu. Aquilo foi um nojo, jamais visto.
A AR, a
chamada casa da democracia, tinha aprovado na generalidade um projeto de lei
que permitia a coadoção por casais homossexuais. Verdade que surpreendeu que,
entre a reacionária direita, tivesse havido quem ousasse votar a favor de tal
projeto.
A partir daí,
passou-se à apreciação na especialidade, tendo sido ouvidas personalidades tidas
como competentes para ajudar os deputados a fundamentar a sua decisão. Também nisto,
talvez para surpresa de muita gente, vimos pessoas insuspeitas, como é o caso
de representantes do IAC, a dar a sua opinião favorável ao projeto.
Aqui os
ultramontanos entraram em pânico e tiveram que arranjar uma saída: um referendo
sobre uma matéria que já estava em discussão na AR e com aprovação na
generalidade, uma coisa nunca vista. Como se num referendo aquela canalha
pudesse ficar melhor esclarecida, quando já tinha ouvido quem quis ouvir sobre a
matéria. Como se os votantes no referendo disponham de melhor informação que
aquela que a canalha obteve em audições na AR.
Claro que a
canalha não se dá conta de que é exatamente assim que se desprestigia um órgão
que o tal patético presidente em exercício – está bem, um pateta – quer ver
respeitado. E, em vez de acossar a polícia contra os colegas do seu partido,
ameaça com ela quem não consegue travar a indignação, tal a pouca vergonha
exibida num órgão permanentemente enxovalhado por membros seus.
Este vale
tudo tinha que ter consequências, desde a demissão de uma vice-presidente da
bancada do partido maioritário, ao anúncio indignado de declarações de voto de
uns quantos deputados que fizeram questão de afirmar terem sido obrigados a
votar contra a sua consciência, em matéria de consciência, e isto quanto na
votação na generalidade tal não foi, e bem, imposto.
A iniciativa
do referendo é da jumentude – não é erro – do PSD como, no congresso do CDS, a
congénere jumentude – não é erro – ousou sugerir que a escolaridade obrigatória
retrocedesse de 12 a 9 anos, com o argumento, imagine-se, da liberdade de escolha.
Com iniciativas
desde género não admira termos, com a mesma origem, puros canalhas à frente dos
destinos de um país que já era, que se foi. E que só recuperará a decência
correndo com ela, nem que seja a tiro.
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