segunda-feira, 23 de abril de 2012

Cantinho dos cromos - Prof Espada


Era estudante quando, em sessões de café – recorrentes locais de estudo à época – fazia pausas olhando o DN que, de tão oficioso que era, publicava na íntegra os inenarráveis discursos do almirante Tomás (com h, eu sei), particularmente os daquelas visitas ao longo do país. E quanto não me divertia, lendo-os para os colegas presentes, tentado imitar aquele que igualmente nos enchia os ouvidos na rádio e na televisão.
Agora ainda se vai arranjando alguma coisita pelos jornais: um José Manuel Fernandes que, de tão sério, a sério ninguém o leva, a um exaltado e enraivecido Santana Castilho que parece que já nem com ele concorda. Pelo meio ficam outros, tesourinhos deprimentes, como é o caso do professor Espada que hoje me deixou perplexo com a crónica a que deu o título “Surpresa no Brasil, choque em Portugal”.
E choque e surpresa porquê?
Espada foi ao Brasil e isto quando, segundo diz, já se considerava, por razões da idade, alheio a qualquer surpresa. Há quem envelheça depressa ou quem de tão pedante já se sinta detentor ou conhecedor de tudo. Vai daí aterra em Porto Alegre e assiste à 25ª edição do Fórum da Liberdade, promovido pelo Instituto de Estudos Empresariais, parecendo-lhe, afirma, estar em Nova Iorque ou Washington, que Espada só usa como comparação cidades assim. De facto, naquele fórum, celebrava-se “democracia e liberdade, os direitos da pessoa humana e, por essas razões, o livre empreendimento, a limitação do Estado, o combate à corrupção e ao compadrio promovido pelos dinheiros públicos…”
Isto com “uma organização ultraprofissional, amaciada pela incrível simpatia brasileira” e com a presença de “milhares de pessoas aprumadas, devidamente vestidas, pontuais, alegres e bem-educadas”. Espada estava radiante, estava mesmo parvo com o que via.
E regressa de peito cheio, cabeça fresca, quando experimenta um choque logo que aterra em Lisboa. Mas não se tratava das medidas de austeridade, do mau desempenho do Benfica ou da bolsa, do aumento dos preços dos combustíveis, da seca, ou dos taxistas do aeroporto, pouco aprumados e mal vestidos. Nada disso. É que Espada, pessoa sensível, não gostou de ver numa revista de grande circulação o título “Precisamos de um novo 25 de Abril”. Ele nem queria acreditar. Que se desejasse um “golpe de Estado” quando se está em plena democracia. E admitia mesmo ter aterrado, por engano, na Guiné, não precisando de qual delas se trataria. Que, meus caros, Espada é mesmo de extremos, ou não tivesse já sido da extrema-esquerda até perceber quem é que lhe permitiria uma pose aprumada, um vestir como deve ser, uma postura pedante.
Felizmente regressaria à Polónia no dia seguinte donde nos continuará a brindar com os seus deprimentes tesourinhos que rotula de “Cartas de Varsóvia”, no Público, às segundas, numa banca ou quiosque perto de si. E bom proveito, sem esquecer que rir faz bem à saúde.

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