Era estudante quando, em sessões de café – recorrentes locais
de estudo à época – fazia pausas olhando o DN que, de tão oficioso que era, publicava
na íntegra os inenarráveis discursos do almirante Tomás (com h, eu sei),
particularmente os daquelas visitas ao longo do país. E quanto não me divertia,
lendo-os para os colegas presentes, tentado imitar aquele que igualmente nos enchia os
ouvidos na rádio e na televisão.
Agora ainda se vai arranjando alguma coisita pelos jornais:
um José Manuel Fernandes que, de tão sério, a sério ninguém o leva, a um
exaltado e enraivecido Santana Castilho que parece que já nem com ele concorda.
Pelo meio ficam outros, tesourinhos deprimentes, como é o caso do professor
Espada que hoje me deixou perplexo com a crónica a que deu o título “Surpresa
no Brasil, choque em Portugal”.
E choque e surpresa porquê?
Espada foi ao Brasil e isto quando, segundo diz, já se
considerava, por razões da idade, alheio a qualquer surpresa. Há quem envelheça
depressa ou quem de tão pedante já se sinta detentor ou conhecedor de tudo. Vai
daí aterra em Porto Alegre e assiste à 25ª edição do Fórum da Liberdade,
promovido pelo Instituto de Estudos Empresariais, parecendo-lhe, afirma, estar
em Nova Iorque ou Washington, que Espada só usa como comparação cidades assim. De
facto, naquele fórum, celebrava-se “democracia e liberdade, os direitos da
pessoa humana e, por essas razões, o livre empreendimento, a limitação do
Estado, o combate à corrupção e ao compadrio promovido pelos dinheiros públicos…”
Isto com “uma organização ultraprofissional, amaciada pela
incrível simpatia brasileira” e com a presença de “milhares de pessoas
aprumadas, devidamente vestidas, pontuais, alegres e bem-educadas”. Espada
estava radiante, estava mesmo parvo com o que via.
E regressa de peito cheio, cabeça fresca, quando experimenta
um choque logo que aterra em Lisboa. Mas não se tratava das medidas de
austeridade, do mau desempenho do Benfica ou da bolsa, do aumento dos preços dos
combustíveis, da seca, ou dos taxistas do aeroporto, pouco aprumados e mal
vestidos. Nada disso. É que Espada, pessoa sensível, não gostou de ver numa
revista de grande circulação o título “Precisamos de um novo 25 de Abril”. Ele
nem queria acreditar. Que se desejasse um “golpe de Estado” quando se está em
plena democracia. E admitia mesmo ter aterrado, por engano, na Guiné, não precisando de qual delas se trataria. Que, meus
caros, Espada é mesmo de extremos, ou não tivesse já sido da extrema-esquerda
até perceber quem é que lhe permitiria uma pose aprumada, um vestir como deve
ser, uma postura pedante.
Felizmente regressaria à Polónia no dia seguinte donde nos
continuará a brindar com os seus deprimentes tesourinhos que rotula de “Cartas
de Varsóvia”, no Público, às segundas, numa banca ou quiosque perto de si. E bom proveito,
sem esquecer que rir faz bem à saúde.
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