segunda-feira, 23 de abril de 2012

Leituras em dia:"Operação Antropóide" - Laurent Binet


Não se trata de um “era uma vez”…
Na verdade, Laurent Binet foge à tentação de inventar para ser fiel à realidade, à verdade histórica. E narra factos históricos de uma forma muito original e que lhe valeu o Prémio Goncourt de 2010 para o 1º romance. No caso as circunstâncias que rodeiam o atentado contra Heydrich que Binet descreve como “o homem mais perigoso do IIII Reich, o carrasco de Praga, o carniceiro, a besta loira, a cabra, o judeu Süss, o homem de coração de ferro, a pior criatura jamais forjada pelo fogo escaldante dos infernos, o homem mais feroz que alguma vez saiu de um útero de mulher…”
A ironia: o inventor da “solução final”, esta besta loira, era acusado de ser judeu na escola e, no entanto, fez jus ao HHhH, iniciais da frase alemã “o cérebro de Himmler é Heydrich”, porque ele suplantava, em atrocidades, o seu chefe e carrasco Himmler.
É por causa das marcas deixadas por estas bestas que Binet afirma que Daqui a 600 anos vamos continuar a falar da Segunda Guerra Mundial porque é o mal absoluto, é o heroísmo absoluto, é um reservatório de história trágico, terrível, extraordinário” (Ípsilon 06-05-2012).
E heroísmo absoluto é o de quem, encarregados de eliminar Heydrich, sabe antecipadamente de que o fazem com sacrifício das suas próprias vidas, no caso as dos paraquedistas Kubis e Gabcik, nesta obra homenageados, embora, como escreve Binet “Os que estão mortos estão mortos, e é-lhes indiferente que lhes prestem homenagem. Mas é para nós, os vivos, que isso tem significado. A memória não tem nenhuma utilidade para aqueles que ela honra, mas serve aquele que dela se serve. Com ela me construo, e com ela me consolo.”
E quando temos que nos defrontar com novas bestas loiras, por França, pela Alemanha, é de desejar que a memória não seja curta e que, sobretudo, nos seja útil.

1 comentário:

Mário Santos Reis disse...

Muito bom livro, este. Recomendo também «As Benevolentes» de Jonathan Litell. O Binet refere-o no livro discordando do perfil psicológico da personavem principal. No entanto é um muito bom retrato do início e desenvolvimento das campanhas de extermínio a leste. Também foi prémio Goncourt, suponho que em 2008.
Parabéns pela crónica.