Nesses tempos muito idos, agora estaríamos ainda na Missa do Galo. Antes disso, antes de
entrar na igreja, fazia-se um aquecimento na fogueira do adro, fogo alimentado
com tocos de madeira, raízes de pinheiros arrancados uns dias antes e
transportados até ao adro da Igreja matriz em zorras. Mas houve anos em que
havia duas fogueiras, a do adro e a da Carreira, suponho que por causa de
rivalidades estabelecidas entre quem habitava no Cimo e no Fundo da vila. E até
se chegavam a roubar tocos, às escondidas, pela noite calada, porque havia que
garantir que a de cada um era a melhor.
E só depois
da missa se passava às doçarias do Natal, em geral modestas, mas nada havia
como o Natal com aquelas filhós em leite quente com canela. Antes disso, da Missa
do Galo, era o bacalhau cozido, as
couves, as batatas, o azeite, este a usar com parcimónia, pois era o ingrediente
mais caro do repasto. Na verdade, na altura, usava-se, a desvalorizar a
importância do bacalhau, o dito “para quem é bacalhau basta”. Porque de produto
para pobres se tratava, antes de ser consagrado, mais tarde, como iguaria de
luxo.
Depois, pela
manhã, era altura de ver o que havia, nos sapatos colocados junto ao fogão,
sido deixado pelo Menino Jesus, pois na altura ainda não era nascido o Pai Natal. E lá
estavam as bolachas, as laranjas (luxo na Beira interior), um par de meias…
coisas assim, para o corpo ou para o estômago. Porque longe, muito longe,
estava o tempo das play stations e coisas aparentadas, sobretudo porque
distantes disso estavam as bolsas dos pais. E ali só contavam os pais, com a
ajuda do Menino Jesus, claro.
Mas éramos
felizes. Ao ponto de podermos dizer que já não há Natais como aqueles.
Sem comentários:
Enviar um comentário