“- Queria saber: depois que se é feliz, o que acontece? O que vem depois? – repetiu a menina com obstinação.
A mulher encarava-a surpresa.
- Que ideia! Acho que não sei o que você quer dizer, que ideia. Faça a mesma pergunta com outras palavras…
- Ser feliz é para conseguir o quê?
A professora enrubesceu – nunca se sabia dizer por que ela avermelhava. Notou toda a turma, mando-a dispersar para o recreio.
O servente veio chamar a menina para o gabinete. A professora lá se achava:
- Sente-se… Brincou muito?
- Um pouco…
- Que é que você vai ser quando for grande?
- Não sei.
- Bem. Olhe, eu tive uma ideia – corou.
- Pegue num pedaço de papel, escreva essa pergunta que você me fez hoje e guarde-a durante muito tempo. Quando você for grande leia-a de novo. – Olhou-a. – Quem sabe? Talvez um dia você mesmo possa respondê-la de algum modo… - Perdeu o ar sério, corou. – Ou talvez isso não tenha importância e pelo menos você se divertirá com…
- Não.
- Não o quê? – pergunta surpresa a professora.
- Não gosto de me divertir – disse Joana com orgulho.
A professora ficou novamente rosada:
- Bem, vá brincar.
Quando Joana estava à porta em dois pulos, a professora chamou-a de novo, dessa vez corada até ao pescoço, os olhos baixos, remexendo papéis sobre a mesa:
- Você não achou esquisito… engraçado eu mandar você escrever a pergunta para guardar?
- Não, disse.
Voltou para o pátio.”
“Perto do Coração Selvagem”, Clarice Lispector
A mulher encarava-a surpresa.
- Que ideia! Acho que não sei o que você quer dizer, que ideia. Faça a mesma pergunta com outras palavras…
- Ser feliz é para conseguir o quê?
A professora enrubesceu – nunca se sabia dizer por que ela avermelhava. Notou toda a turma, mando-a dispersar para o recreio.
O servente veio chamar a menina para o gabinete. A professora lá se achava:
- Sente-se… Brincou muito?
- Um pouco…
- Que é que você vai ser quando for grande?
- Não sei.
- Bem. Olhe, eu tive uma ideia – corou.
- Pegue num pedaço de papel, escreva essa pergunta que você me fez hoje e guarde-a durante muito tempo. Quando você for grande leia-a de novo. – Olhou-a. – Quem sabe? Talvez um dia você mesmo possa respondê-la de algum modo… - Perdeu o ar sério, corou. – Ou talvez isso não tenha importância e pelo menos você se divertirá com…
- Não.
- Não o quê? – pergunta surpresa a professora.
- Não gosto de me divertir – disse Joana com orgulho.
A professora ficou novamente rosada:
- Bem, vá brincar.
Quando Joana estava à porta em dois pulos, a professora chamou-a de novo, dessa vez corada até ao pescoço, os olhos baixos, remexendo papéis sobre a mesa:
- Você não achou esquisito… engraçado eu mandar você escrever a pergunta para guardar?
- Não, disse.
Voltou para o pátio.”
“Perto do Coração Selvagem”, Clarice Lispector
3 comentários:
É para conseguir valorizar o que temos e saber fazer a escolha entre o que é importante e o que não é. Mas isso, claro, só se aprende com a idade.
Também li este, várias vezes, mas não consegui ser feliz ao ponto de ter entendido a mensagem inserida no texto.
Talvez seja porque eu não saberia o que conseguir após alcançar essa suposta felicidade.
Vou guardar o texto para ler mais tarde. Decerto que a felicidade não se importará de esperar por mim, já que tanto eu esperei por ela.
Talvez para ter força para se chegar à meta!!!A questão está em cada um perceber qual a sua verdadeira meta.
Numa permanente mutação,também o conceito de "felicidade" não é estáctico, tem a ver com o tempo e com o espaço:o homem primitivo não seria feliz com relógio, pois sabia ler as horas no sol e nas estrelas, por isso, a sua felicidade residia na observação dos astros; o homem do campo, jamais se sentirá feliz num apartamento!
Felicidade é mais causa do que consequência.
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