“Há pouco
mais de 40 anos, no final dos anos 60 do século passado, as palavras-chave de
um relatório da Unesco sobre a juventude eram estas: contestação, transgressão,
contra-cultura, contra-poder, cultura
dos jovens. Hoje, já nem é preciso relatórios para conhecermos as palavras que
descrevem a situação dos jovens: desemprego, precaridade, pragmatismo,
sobrevivência. Da época em que a juventude teve uma grandiosa significação
cultural e quis assumir a responsabilidade do devir histórico, com o entusiasmo
político de quem se sentida um grupo messiânico, chamado a libertar a
humanidade da opressão e da injustiça, passámos para a época em que ser jovem significa
ausência de projecto, aceitação dos limites, repetição. Do grande espaço
público, a juventude passou para a estrita cena privada. A ideia de juventude
desligou-se, aliás, de uma ideia cultural e ficou vinculada apenas a lógicas de
consumo, de trabalho , e a modos de ocupação do tempo. As famigeradas praxes
não são mais do que uma forma de querer recuperar, pelo lado grotesco e alarve, uma
coisa que já não existe nem tem condições para existir: a comunidade a que a
vida dos estudantes dava forma, dotada de um grande significado cultural e intelectual.
Elas exercem-se, portanto, no mais completo vazio, e por isso é que são
violentas e patéticas. A herança do nosso tempo é a do acaso dessa invenção recente:
a juventude enquanto categoria da descrição e análise sociológicas e agente de
uma cultura. (…)”
António
Guerreiro, PÚBLICO / ípsilon de 31-01-2014
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1 comentário:
Uma boa análise, muito bem exposta.
Uma outra excelente dissertação:
http://obloguedasantagonices.blogspot.pt/2014/01/dos-abusos-dos-abusados-e-dos-abusadores.html
Com simpatia.
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