sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Hoje como ontem...

Até então, não tinha ido além de Ayamonte, ida e volta no mesmo dia. Era o tempo as férias em Pêra e do pirex em Espanha. As irmãs Lima iam ao pirex, eu e o Asdrúbal seria o que fosse. Desse tempo perdurou durante anos, como decoração do meu quarto, uma raquete de ténis, de liga de alumínio, e ainda tenho o D Quixote e Sancho Pança em madeira. Claro que isto com a ajuda de uma cunha na PIDE de Portimão, pois sem papelinho nada feito para quem estava em idade de cumprir serviço militar e se podia pirar.
Também até então, dormidas fora de casa ficavam-se pelos acampamentos na Serra da Estrela, na Lagoa de Albufeira, no parque de campismo de Escaroupim, no quintal do Lelo…
Desta vez fazia a minha estreia de avião a caminho de um hotel em Zurique, com o pretexto de um estágio profissional na mais importante resseguradora suíça. Tirei o passaporte, comprei um fato de bombazine bege, uma pasta nova, uma mala para o porão. E tudo corria bem até ao controlo de entradas do aeroporto de Zurique. Passaporte em ordem, mas o bilhete da viagem só compreendia a ida e não o regresso.
De nada serviu jurar que ia fazer um estágio de 15 dias, que depois entraria de férias com saída em direção a Dijon, podendo acontecer que me viessem buscar e que, a não ser assim, sairia de Zurique por comboio. Porque era mesmo assim que as coisas estavam definidas: sair para Dijon, depois Nice e a seguir Roterdão. Uma coisa em grande para a minha primeira saída a sério.
Mas nada feito, apesar da minha insistência, apesar das minhas juras. E fui mesmo obrigado a comprar no aeroporto, acompanhado por um polícia, um bilhete de regresso a Lisboa, porque nem sequer aceitavam um para França.
No aeroporto era esperado pelo André que não conhecia e que fora indicado para meu tutor durante o estágio. E que ficou amigo para uma vida. Sabia o meu voo, perguntou por mim pela instalação do aeroporto, mas não dei por nada, embrulhado que estava naquela bem esquisita trapalhada.
Chegado ao hotel Bellaria, tinha uma mensagem. Dei-lhe seguimento e, pouco tempo depois, estou em casa do André. Caras incrédulas face ao que relatava.
A permanência de 15 dias permitiu-me defrontar outros episódios da mesma natureza, de xenofobia, mas não no hotel, nem no local de estágio.
Mas tudo se passou há 40 anos, há muito tempo. Mas se recordo isto é porque houve um referendo na Suíça, com os resultados que se conhecem. As coisas não mudaram muito no país das contas bancárias numeradas e que levou Jean Ziegler a escrever o seu “A Suíça Lava Mais Branco”, em 1989.
E quase juro que a UE vai vergar-se ao poder que se esconde atrás de tais contas, permitindo à Suíça escolher os tratados bilaterais que lhe convém ter.
Veremos.
 
 
Este hotel já não existe, mas alguém vende este autocolante na net, onde encontrei a imagem.

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