“Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto”
Mário de Carvalho
Editora: O campo da Palavra - Caminho
Editora: O campo da Palavra - Caminho
Lidas cerca de 50 páginas de um fôlego, já deu para entender que não faltará mordacidade, cinismo e bom humor nas que ainda faltam. No total são pouco mais que duzentas.
De há tempos para cá, deu-me para ler o último parágrafo de cada livro que inicio. Não sei por quê, são coisas que nos podem acontecer. Mas não deve ser nada grave.
E este livro acaba assim:
“Uma ocasião, Jorge Matos encontrou-o e dirigiu-lhe pela quinquagésima vez a pergunta que todos os comunistas de todo o Mundo já se fizeram, no íntimo, pelo menos quatrocentas vezes: ‘que significa ser comunista hoje?’. Vitorino recolheu-se, sisudo, durante um momento brevíssimo. Depois, abriu um sorriso jovial, de orelha a orelha, e deu-lhe uma palmada sonora nas costas; ‘É pá, tem calma, pá’ disse.
E o Tejo continuou a correr, e os tempos a não haver meio de os parar.”
Eu sei, são dois parágrafos.
Nas páginas lidas, ainda não entraram o Jorge e o Vitorino. Mas que isto vai ser um gozo… isso vai. Pois não é que numa advertência inicial o autor chega a prevenir para o facto de o livro, entre outras coisas, até conter alguns anacolutos?
Sabia lá eu o que era isso. Mas a Wikipedia explica:
“Anacoluto, ou frase quebrada, é uma figura de linguagem que, segundo a retórica clássica, consiste numa irregularidade gramatical na estrutura de uma frase, como se começássemos uma frase e houvesse uma mudança de rumo no pensamento - por exemplo, através do desrespeito das regras de concordância verbal ou da sintaxe. Muito frequente na oralidade, onde poderá ser apenas considerado como um erro de construção frásica, num texto escrito dá a sensação de espontaneidade. Na frase de Almeida Garrett "Eu, também me parece que as leio, mas vou sempre dizendo que não", o termo "eu" é posto em destaque, desligado dos outros elementos sintáticos - no resto da frase, através de uma elipse (o "eu" passa a estar apenas subentendido).
Da mesma forma, em "a minha roupa, levo-a sempre àquela lavandaria", frase típica do discurso oral, o termo "a minha roupa" aparece desligada do resto da frase, onde é substituído por um pronome.” Etc…
4 comentários:
Um dos meus autores nacionais vivos preferidos. E sim, é uma desbundazinha muito, muito divertida. Leu o "fantasia para dois coronéis e uma piscina"? Uma desbunda ainda maior, embora não tenha contado os anacolutos ...
Li. E passados uns tempos, volto ao M Carvalho. E já ganhei essa dos anacolutos.
Quando apanhar alguém, não deixarei de dizer que está a anacolutar...
"Bem, hoje já tenho os TPCs feitos" foi o q pensei. É que, há um tempo a esta parte, diariamente tento aprender uma nova palavra,numa tentativa de reforço da neuroplasticidade (parece fácil mas, se experimentarem,não é lá muito).
Assim, concluí que, oralmente não tenho desorganização cognitiva mas abuso de anacolutos, rs
Deu para me relembrar o MC e, de como a minha "antologia" está cheia de defuntos... barómetro de que estou a passar ao lado de algo... Bem, toca a contemporeizar (?) e fiquei com curiosidade de ler o dito livro, q me livrou hoje dos tpc's.
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