sábado, 29 de setembro de 2012

António Broncas Borges



“Que a medida é extremamente inteligente, acho que é. Que os empresários que se apresentaram contra a medida são completamente ignorantes, não passariam do primeiro ano do meu curso na faculdade, isso não tenham dúvidas”, afirmou.

António Borges falava durante o I Fórum Empresarial do Algarve, que decorre este fim-de-semana em Vilamoura e reúne mais de 300 empresários, economistas e políticos de Portugal, Brasil, Angola, Índia, Emirados Árabes Unidos e Moçambique.”
Público online

O presidente da CIP, António Saraiva, considerou hoje "infelizes" as afirmações de António Borges, que acusou os empresários que criticaram a redução da TSU, de serem "ignorantes", realçando que a maioria das empresas não contrataria o consultor do Governo.
"Se tivéssemos que reagir emotivamente a estas declarações do António Borges, se calhar a maioria dos empresários portugueses também não o contrataria, não passaria na seleção dos recursos humanos das empresas, porque só tem um determinado conhecimento e não tem uma visão alargada", afirmou hoje à Lusa o dirigente patronal.
Expresso online

Em declarações à Lusa, Filipe de Botton disse que "é pena que [António Borges] fale sem conhecimento", acrescentando que o consultor do Governo em matéria de privatizações "nunca trabalhou na vida, nunca teve de pagar salários e não sabe do que está a falar".
Expresso online

"São declarações muito insensatas, que colocam em causa a imagem do PSD e do Governo e que são completamente inaceitáveis e condenáveis porque são de uma insensatez absoluta", afirmou Menezes em declarações à agência Lusa. Expresso online

O empresário do setor do calçado [Luís Onofre], que admitiu partilhar com os trabalhadores o valor que viesse a poupar com a redução da TSU, considerou "extremamente deselegante [António Borges] ter feito um comentário destes sobre empresas que fazem andar este país, ao contrário daquilo que está a ser feito no Governo com conselhos que este senhor tenha dado".
Expresso online

Nada a fazer. Borges, para além de desbocado, nem se dá conta da acrescida deselegância de chamar ignorantes aos empresários portugueses diante de outros de diversas nacionalidades.
Mas a questão agora é esta: para Passos, Borges tem condições para se manter no posto depois desta patifaria, mais esta patifaria? Não seria de o deixar em regime de exclusividade nas empresas do merceeiro do Pingo Doce?
A proceder como no caso Relvas, Passos assobiará para o lado, quando se está perante broncas de pessoas de quem depende e a quem tudo perdoa. Veremos.

Quando lhes falam de cultura eles sacam da pistola...



A direita não gosta que se lhe apontem certas incapacidades, ou falta de jeito, ou de gosto, ou menor apetência pelos assuntos culturais. Mas tem que ter paciência, que factos são factos.
Tivemos um primeiro-ministro – Santana Lopes -  que muito gostava de uns inexistentes concertos para violino de Chopin e um outro, o atual PM, que leu com proveito um livro -  “Fenomenologia do Ser” - que Sartre nunca se lembrou de escrever mas que Passos Coelho, apesar disso, lhe atribuiu.
Mas não estão sós os nossos concidadãos da direita. Lá fora também é assim. De facto, no programa de David Letterman, o PM Cameron não conseguiu explicar o significado da Magna Carta imposta a João Sem-Terra, coisa que nós, portugueses, pelo menos no meu tempo do liceu, tínhamos que saber identificar, fossem as circunstâncias em que surgiu, fosse o fundamental do seu conteúdo.
Caso para dizer que, na matéria, estes estarolas da direita, em nada se distinguem entre si. Em geral, obviamente, mas as exceções apenas confirmam a regra.

As medidas do Zé Fernandes, à falta de melhor



José Manuel Fernandes  
“Tenho falado nos últimos meses com muitos economistas, incluindo com antigos ministros das Finanças, que conhecem os números e convergem quase sempre num ponto: assim não vamos lá. Curiosamente quase todos eles se inibem de tirar consequências, porque isso implica tocar em dois tabus, são esses tabus que temos que começar a discutir. O primeiro tabu é o da renegociação das dívidas, não que essas dívidas não existam, como dizem os viciados na despesa pública. Mas porque genuinamente não conseguimos pagá-las e elas condicionam demasiado o nosso futuro para podermos ter qualquer esperança.
O segundo tabu é o do abandono do euro, acabando de vez com a ilusão de que conseguimos ter a disciplina dos alemães. A nossa economia, para a nossa desgraça, não mostrou ser capaz de viver sem inflação e sem desvalorizações. Será o fim do nosso sonho de convergência com “a Europa”, mas marcará também o regresso a uma vida com os pés na terra.
O país que sairia destas duas medidas não seria bonito de ver, mas seria ao menos um país de novo entregue a si próprio, que teria reconquistado a liberdade que pusemos nas mãos da troika. É altura de começar a discutir o preço que teriam para todos nós estas alternativas. Estou cansado da conversa sobre os “cortes” por parte de quem, na verdade, não quer “cortes” nenhuns e tem como único sonho encontrar quem nos pague as contas, chamando a isso “solidariedade”.
PÚBLICO, 28-09-2012 
Uma maravilha!
O Zé fala com “muitos economistas, incluindo com [adoro este incluindo com] antigos ministros da Finanças”. E afinal cabe-lhe a ele, face à falta de coragem dos seus interlocutores, que não querem cortes nenhuns e querem é que outros paguem as nossas dívidas a pretexto da solidariedade, enunciar as medidas para sair da crise: renegociar a dívida e sair do euro.
Até que enfim que nos chega a salvação. Eu registava a patente, de tão original.
Vale aos "muitos economistas, incluindo com antigos ministros das Finanças" não terem sido citados. Seria caso para nunca mais sairem à rua. De vergonha.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Saia Möet & Chandon para esta mesa no Cais de Gaia

Estamos f... eitos
Convivas: Luís Filipe Menezes que quer ir de Gaia para o Porto, que isto de autarca é que está a dar, e a lei parece ter uma escapatória, útil para quem sempre teve muita lata. Nuno Cardoso, que acompanhará Menezes e que já é responsável pelo projeto Elena em Gaia, com financiamento comunitário garantido. Ter sido condenado a 3 anos de prisão por crime de prevaricação em funções autárquicas é mero pormenor, quando a vergonha não é nenhuma. Ricardo Almeida, presidente da concelhia do Porto do PSD, mas administrador da empresa municipal Gaianima e influente maçon. Virgílio Macedo, deputado, líder da distrital do Porto do PSD, dono da sociedade de revisores oficiais de contas que fiscaliza diversas empresas municipais em Gaia. Narciso Miranda, admirador da “ambição, criatividade e imaginação” de Menezes e que já tem uma das filhas a trabalhar na Gaiurb, outra empresa municipal.
Crise? Só para quem não gosta do champanhe que a gente paga.
Isto segundo a Visão de 20-09-2012

Leituras em dia: "A Cidade de Ulisses" de Teolinda Gersão



“O que havia em ti que eu não encontrava noutras mulheres, o que te singularizava no espaço reduzido da sala de aula?
Penso que para lá da atracção inicial, inteiramente física, e do desejo de por minha vez te agradar, foi o lado mental e emocional que me fez olhar para ti de outro modo. Descobri que eras sensual e brilhante e cedi ao desejo de dialogar contigo. As palavras tiveram um papel decisivo no que se passou entre nós. Eu procurava, a todos os níveis, uma interlocutora, percebi. Era isso, finalmente, o que encontrara. Julgava conhecer as mulheres, mas percebi que tinha aportado, contigo, a um outro continente.
[…]
“A nível colectivo, a recordação mais forte é a de uma crise generalizada. Em 83 já tinha havido 10 eleições desde 74, havia greves, salários em atraso, uma dívida externa gigantesca.
Lembro-me de começarem a demolir o Monumental, apesar dos protestos e dos baixo-assinados, que também ajudámos a recolher.
Sim, lembro-me dos teatros, dos cinemas, dos cafés. Lembro-me de termos visto Dreyer e Max Ophuls na Cinemateca, Mariana Espera Casamento na Cornucópia, Uma Comédia Sexual Numa Noite de Verão de Woody Allen, de Fanny e Alexandre de Bergman.”
 […]
“Na Assembleia da República, para negociar medidas de combate à corrupção, por duas vezes faltou o quórum.
A seguir os impostos aumentaram, houve novas greves, a dívida externa cresceu seiscentos milhões de dólares num semestre.
O FMI interveio, para evitar o descalabro. Mas obviamente nada fez para resolver os problemas estruturais do país.”
[…]
Comove esta serena melancolia que vai por esta “Cidade de Ulisses”, considerada uma história de amor por Lisboa. Cidade que sempre mexeu obrigando-nos a estar vivos, sempre vivos. O livro é um convite a uma viagem que vale a pena, ao lado de um par que vive intensamente uma relação de amor.