Não tenho
por hábito meter conversa com quem não conheça, sou mesmo muito reservado. Mas correspondo
a um olhar, a um sorriso, a uma saudação.
Naquele
restaurante, as mesas permitiam a proximidade física de quem nelas se sentava, de
pequenas que são, encostadas umas às outras em espaço modesto, incluindo a sua
dimensão.
De repente
tenho a oferta de um copo de tinto da garrafa que o meu companheiro de frente,
acabado de chegar, bebia, quando eu me tinha limitado ao vinho da casa. Aceitei
dada a insistência e foi mesmo por ele pedido copo de decantar que agora a
pinga era outra.
E fomos
fazendo conversa de circunstância, facilitada pelo jogo que olhávamos na televisão, comentando o
que se passava no campo.
Estava para partir para Inglaterra, que as coisas aqui
estavam a correr-lhe mal, quase obrigado a desfazer-se do apartamento aqui
próximo do meu.
Acabado o
jantar, sacou de uma saqueta e sugere-me que desfaça na boca uma espécie de
sementes coloridas que facilitariam, segundo ele, a digestão. Aqui fiquei
alarmado e tive que me desenrascar fingindo que procedia conforme pedido, embora
ele mastigasse aquela mistura, convictamente.
Depois disso,
e andando então de canadianas, fez questão de me fazer companhia até à porta de
casa, uma conversa quase sem fim, grãozinho na asa.
Ontem passei
pelo Centro Comercial da Mouraria, pela zona de cheiros e sabores do oriente. E
fiquei a saber o que eram aquelas sementes de que desconfiara. Nada mais que “MUKHWAS,
mistura de sementes digestivo” (sic). E comprei.
Ah! Aquele
meu amigo, que nunca mais vi, pertence à comunidade indiana. Uma simpatia. Eu…
um desconfiado.
A vida tem
destas surpresas…
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