quarta-feira, 24 de julho de 2013

MUKHWAS...

Não tenho por hábito meter conversa com quem não conheça, sou mesmo muito reservado. Mas correspondo a um olhar, a um sorriso, a uma saudação.
Naquele restaurante, as mesas permitiam a proximidade física de quem nelas se sentava, de pequenas que são, encostadas umas às outras em espaço modesto, incluindo a sua dimensão.
De repente tenho a oferta de um copo de tinto da garrafa que o meu companheiro de frente, acabado de chegar, bebia, quando eu me tinha limitado ao vinho da casa. Aceitei dada a insistência e foi mesmo por ele pedido copo de decantar que agora a pinga era outra.
E fomos fazendo conversa de circunstância, facilitada pelo jogo que olhávamos na televisão, comentando o que se passava no campo.
Estava para partir para Inglaterra, que as coisas aqui estavam a correr-lhe mal, quase obrigado a desfazer-se do apartamento aqui próximo do meu.
Acabado o jantar, sacou de uma saqueta e sugere-me que desfaça na boca uma espécie de sementes coloridas que facilitariam, segundo ele, a digestão. Aqui fiquei alarmado e tive que me desenrascar fingindo que procedia conforme pedido, embora ele mastigasse aquela mistura, convictamente.
Depois disso, e andando então de canadianas, fez questão de me fazer companhia até à porta de casa, uma conversa quase sem fim, grãozinho na asa.
Ontem passei pelo Centro Comercial da Mouraria, pela zona de cheiros e sabores do oriente. E fiquei a saber o que eram aquelas sementes de que desconfiara. Nada mais que “MUKHWAS, mistura de sementes digestivo” (sic). E comprei.
Ah! Aquele meu amigo, que nunca mais vi, pertence à comunidade indiana. Uma simpatia. Eu… um desconfiado.
A vida tem destas surpresas…

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