A primeira imagem que me ocorre é a das luzes das ruas
percorridas, deitado em maca, entre os dois hospitais. Experimento a primeira angústia
quando, por agravamento do quadro clínico, foi necessário regressar para o HSM.
Depois, durante uns dias, senti-me lá, na fronteira, com muitos a puxar-me para
este lado, a insistirem que não era ainda a minha vez. E não foi.
Só muito mais tarde tive presença de espírito para ler
documentos de alta, os diagnósticos, os tratamentos feitos, os resultados das
análises e exames efetuados. Que palavrões tão obscenos para um leigo que até
então apenas entrara em hospitais como visita e que chegara à pré-reforma sem
um dia de baixa. E logo uma septicémia…
Foi há dois anos. E tudo começou na noite de 21 para 22
de Julho, a partir de um episódio banal, segundo a minha interpretação: uma
injeção por causa das dores no ombro direito, julgo que uma tendinite.
Estou aqui porque não era ainda a minha vez. E não era
porque o não quiseram médicos, enfermeiros e outro pessoal do HSM, enfim, o
nosso SNS. E porque, de forma muito intensa e dedicada, houve quem me puxasse
para este lado, animando-me, sobretudo quando era fácil desistir.
Renasci das cinzas, à conta de uma dívida de gratidão
que nunca conseguirei pagar.
Obrigado a todos.
Sem comentários:
Enviar um comentário