terça-feira, 12 de junho de 2012

Leituras em dia: "Adão no Éden" de Carlos Fuentes


Um país sem rumo, sem fé para nada, muita luta política, sem propostas capazes de afrontar a corrupção que grassa ou o narcotráfico que de tudo vai tomando conta. Não é ficção, é o México de hoje.
Que será, em tal contexto, o Éden do narrador Adão? O refúgio que lhe permite o que designa por sorte, sorte em cima de tudo quanto tem a partir de uma vida de sucesso no plano profissional e que não encontrou num casamento que ele assume ter constituído apenas um golpe de baú, mesmo se com a Rainha do Carnaval, com a filha do Rei do Biscoito. Que, de tão piedosa, escapulário sobre o sexo.

“O que ninguém sabe é que, eu sim, eu conheço a origem da minha sorte. Tem nome. Tem sexo. Tem voz. Chama-se L. Sem L, tudo o resto cairia. Ou, a existir, não teria valor. Não digo nada que os leitores não saibam. Cada um de nós entende que há um valor íntimo que atribui um preço ao valor exterior das coisas. Ter dinheiro, sucesso profissional, amigos, tudo o que é bom na vida se baseia, no fim de contas, na existência de uma relação amorosa fundamental.”

E é esta particular relação com L que leva Adão Gorozpe, o narrador, a iniciar uma feroz batalha contra o seu homónimo Góngora, político da pior espécie e ministro da Administração Interna que, ressabiado, ousara, de forma cobarde, atacar L, para se vingar de si, Gorozpe.
O livro não permite saber se tal assomo de consciência política foi consequente, isto é, se Gorozpe assumiu que não basta estar de fora da corrupção, do narcotráfico, para também se ser responsável pela sua existência.

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