Um país sem rumo, sem fé para nada, muita luta política, sem
propostas capazes de afrontar a corrupção que grassa ou o narcotráfico que de
tudo vai tomando conta. Não é ficção, é o México de hoje.
Que será, em tal contexto, o Éden do narrador Adão? O
refúgio que lhe permite o que designa por sorte, sorte em cima de tudo quanto
tem a partir de uma vida de sucesso no plano profissional e que não encontrou
num casamento que ele assume ter constituído apenas um golpe de baú, mesmo se com
a Rainha do Carnaval, com a filha do Rei do Biscoito. Que, de tão piedosa, escapulário sobre o sexo.
“O que ninguém sabe é que, eu sim, eu conheço a origem da
minha sorte. Tem nome. Tem sexo. Tem voz. Chama-se L. Sem L, tudo o resto
cairia. Ou, a existir, não teria valor. Não digo nada que os leitores não
saibam. Cada um de nós entende que há um valor íntimo que atribui um preço ao
valor exterior das coisas. Ter dinheiro, sucesso profissional, amigos, tudo o
que é bom na vida se baseia, no fim de contas, na existência de uma relação
amorosa fundamental.”
E é esta particular relação com L que leva Adão Gorozpe, o
narrador, a iniciar uma feroz batalha contra o seu homónimo Góngora, político
da pior espécie e ministro da Administração Interna que, ressabiado, ousara, de
forma cobarde, atacar L, para se vingar de si, Gorozpe.
O livro não permite saber se tal assomo de consciência
política foi consequente, isto é, se Gorozpe assumiu que não basta estar de
fora da corrupção, do narcotráfico, para também se ser responsável pela sua
existência.
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