Hoje, no Público, MEC lamenta que se chame prateleira, que
lhe fará lembrar pratos, a algo em que se arrumam livros. E estante também lhe
não serve como termo adequado, sobretudo se for “estante para livros”. Mas não
nos deixa saída para isto, o que me leva a afirmar que perde para a personagem
Júlia, senhora da ousadia daqueles que por vezes temos por meros ignorantes, ou
iletrados. Gente simples. De facto, perante a dificuldade em perceber por que
se chamava botão ao botão, Júlia, que também usava prateleiras mas para as
fazendas, não esteve com meias medidas, como decorre do texto: botão passou a morador, porque entra nas casas. E ponto final.
“Júlia tomou conta de um quartinho de mantimentos do
armazém, botou máquina, prateleiras com as fazendas, caixas de papelão com
botões que ela escreveu “moradores” do lado de fora.
- Moradores – leu Ludéria.
- Essa roela existe pra entrar nas casas, não é? Moradores.
Moradores de pérola, moradores transparentes, moradores de
avental, moradores de uniforme escolar, vermelhos, brancos, pretos, toda cor e
bitola.”
In “os MALAQUIAS” de Andréa del Fuego – Prémio Literário
José Saramago 2011
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