“O coração do casal fazia a sístole, momento em que a aorta
se fecha. Com a vida contraída, a descarga não pôde atravessá-los e aterrar-se.
Na passagem do raio, o pai e a mãe inspiraram, o músculo cardíaco recebeu o
abalo sem escoamento. O clarão aqueceu o sangue em níveis solares e pôs-se a
queimar toda a árvore circulatória. Um incêndio interno que fez o coração,
cavalo que corre por si, terminar a corrida em Donana e Adolfo.
Nas crianças, nos três, o coração fazia a diástole, a via
expressa estava aberta. O vaso dilatado não perturbou o curso da eletricidade e
o raio seguiu pelo funil da aorta. Sem afetar o órgão, os três tiveram
queimaduras ínfimas, imperceptíveis.”
E é com esta bem original e poética maneira de descrever o efeito
de um raio que começa a história dos três irmãos Malaquias: esturricados os
pais, ei-los a caminho dos seus destinos, num relato áspero mas de grande
criatividade e que faz apelo às emoções, ao deslumbramento.
Por isso é estimulante a leitura do livro da brasileira
Andréa del Fuego, Prémio Literário José Saramago 2011.
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