Foi o filme
em exibição – “Hannah Arendt” – que me levou a pegar neste livro que já tinha
desde a última feira do livro, catado, juntamente com dois livros de Hannah
Arendt, entre as relíquias que a Relógio d’Água deixa ao cuidado dos visitantes
dos seus stands.
O filme só
de passagem aborda a relação entre Hannah e Martin Heidegger, seu professor e
seu amante durante um período de tempo.
Mas Hannah é
uma judia alemã e Hitler tinha subido ao poder, o que a força a emigrar para
França onde chegou a estar num campo de concentração, após a ocupação alemã, conseguindo
depois fugir para os EUA.
Heidegger,
quando ainda vivia a relação clandestina com Hannah, e sem que esta então o
soubesse, tinha aderido ao partido nazi e foi responsável pela perseguição e
afastamento de professores apenas por serem judeus ou por simpatizarem com
judeus. Apesar disso, passados 20 anos de afastamento, Hannah, agora casada com
Heinrich Blücher, retoma as relações com Heidegger que visita inúmeras vezes,
chegando mesmo a empenhar-se na sua reabilitação e ocupando-se da divulgação da
obra do seu antigo professor. Apesar disso, Heidegger, para isso solicitado, nunca foi capaz de
renunciar ao seu passado nazi, e experimentava mesmo profundos ciúmes pela
carreira académica da sua antiga aluna.
A dedicação
de Hannah Arendt a Heidegger só se compreende por se estar perante uma mulher
absolutamente excecional, uma pessoa fiel apenas ao seu intelecto e aos seus
amigos, recusando aquilo que se pudesse ter por posturas politicamente
corretas.
E é isso que
também se percebe do filme, quando recusa, a propósito da cobertura que fez do
julgamento de Eichmann para a New
Yorker, fazer dele o retrato de um facínora, antes insistindo estar-se perante uma pessoa em tudo
banal e tão banal que banalizava o mal, atuando como mero burocrata no
cumprimento de ordens.
A partir daí
Hannah aprofunda e dá corpo ao seu pensamento acerca do mal, da banalidade do
mal, com muitos custos pessoais, por custar a ser entendida entre os seus. Mas deixou
uma obra de grande originalidade, entre ela “A Condição Humana”, um livro
indispensável.
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