quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Leituras em dia: "Hannah Arendt e Martin Heidegger" de Elzbieta Ettinger


Foi o filme em exibição – “Hannah Arendt” – que me levou a pegar neste livro que já tinha desde a última feira do livro, catado, juntamente com dois livros de Hannah Arendt, entre as relíquias que a Relógio d’Água deixa ao cuidado dos visitantes dos seus stands.
O filme só de passagem aborda a relação entre Hannah e Martin Heidegger, seu professor e seu amante durante um período de tempo.
Mas Hannah é uma judia alemã e Hitler tinha subido ao poder, o que a força a emigrar para França onde chegou a estar num campo de concentração, após a ocupação alemã, conseguindo depois fugir para os EUA.
Heidegger, quando ainda vivia a relação clandestina com Hannah, e sem que esta então o soubesse, tinha aderido ao partido nazi e foi responsável pela perseguição e afastamento de professores apenas por serem judeus ou por simpatizarem com judeus. Apesar disso, passados 20 anos de afastamento, Hannah, agora casada com Heinrich Blücher, retoma as relações com Heidegger que visita inúmeras vezes, chegando mesmo a empenhar-se na sua reabilitação e ocupando-se da divulgação da obra do seu antigo professor. Apesar disso, Heidegger, para isso solicitado, nunca foi capaz de renunciar ao seu passado nazi, e experimentava mesmo profundos ciúmes pela carreira académica da sua antiga aluna.
A dedicação de Hannah Arendt a Heidegger só se compreende por se estar perante uma mulher absolutamente excecional, uma pessoa fiel apenas ao seu intelecto e aos seus amigos, recusando aquilo que se pudesse ter por posturas politicamente corretas.
E é isso que também se percebe do filme, quando recusa, a propósito da cobertura que fez do julgamento de Eichmann  para a New Yorker, fazer dele o retrato de um  facínora, antes  insistindo estar-se perante uma pessoa em tudo banal e tão banal que banalizava o mal, atuando como mero burocrata no cumprimento de ordens.
A partir daí Hannah aprofunda e dá corpo ao seu pensamento acerca do mal, da banalidade do mal, com muitos custos pessoais, por custar a ser entendida entre os seus. Mas deixou uma obra de grande originalidade, entre ela “A Condição Humana”, um livro indispensável.

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