Uma diversão, muito útil, retomando a ideia de um livro de Galileu.
Neste da Raquel Gonçalves é D Quixote quem questiona e põe em questão o saber
comum de Sancho, assim como o mais elaborado, mas ainda não científico, saber de
Simplício.
Um gozo que vale a pena.
- Sabes o que é um metro? [pergunta D Quixote]
Sancho ouvira falar que nas cidades pessoas havia que se movimentavam
como toupeiras, cavando túneis debaixo do chão para de um lugar ir a outro
lugar. Mas era assunto que nunca aprofundara, pois muita falta de ar lhe fazia
só de nele pensar. Abanou a cabeça em sinal de negação.
D Quixote, não se dando por vencido, insistiu:
- Um metro é padrão de comprimento, de distância…
- Um metro… Ah! Um metro é uma vara de um metro – exclamou Sancho,
quando um derradeiro raio de luz incidiu na sua cabeça.
- Sancho, meu bom Sancho… Pensa se o tempo aquece: o
comprimento da vara maior fica. Pensa se o tempo arrefece: o comprimento da
vara menor fica. Então um metro não é sempre um metro?
Sancho ficou agradado com a recomendação, assim ele entendeu
o discurso. E logo ali jurou só comprar fazenda para calça nova em dia de Verão
e de Sol quente.
D Quixote continuava:
- Admito que o comprimento de uma vara possa parecer-se com
um metro padrão, mas, Sancho, não deves confundir “aproximação” nem com “rigor”
nem com “precisão”. Acredita no que te digo.
Sancho acreditou. Olhou as calças vestidas que coçadas
estavam mas rasgão não tinham. Precisão? Bom, precisão teria, se já fosse
governador, deputado ou mesmo ministro, o que, em rigor, ainda não era.
- Acredita, Sancho, que um metro é o comprimento de onda da
risca vermelho-alaranjada do crípton 86. E se me queres perguntar alguma coisa,
fala agora, pois a tudo tentarei responder.”
Sem comentários:
Enviar um comentário