São escassas as alternativas, porque limitadas são as
condições de locomoção. Por isso é a estas esplanadas que devo as condições para centenas
de horas de leitura, dos jornais aos livros. Porque nada mais sei fazer quando isolado
em sítios destes que prefiro pelo ar que corre, mesmo pela paisagem que se
espreita, nos intervalos, e que inclui um rio que as árvores e a vegetação
tapam, mas que sei que está lá, juntamente com os patos.
Quanto a uma delas, consigo controlar cá de cima, do quarto,
o seu estado de prontidão, podendo ser a primeira escolha, pela manhã. E havendo
sempre a hipótese da segunda ou, mas mais raramente, uma de duas outras alternativas.
Nelas, sobretudo quando a sua presença perturba, vou fazendo
a minha coleção de cromos: a jovem mãe que insiste em levar o filho para qual
nunca há dinheiro para o xupa ou o que seja; um trio das raspadinhas sempre a
reinvestir cada euro ganho, com mais alguns, porque há dias de sorte; o dueto de
passantes do cravanço de cigarros ou de uma bica; o casal que insiste em fazer
sentar o cão numa cadeira; o leitor do Record acompanhado de uísque com água;
as tripulações de ambulâncias que estacionam perto; a testemunha de Jeová que teima
oferecer a revista a quem passa e, a mim, a perguntar as horas de cinco em cinco
minutos; um barbudo, ar composto, em permanentes voltas ao quarteirão; um de
barbado, com meia dúzia de grossas pulseiras em cada pulso, um anel em cada dedo.
Ah! Eu serei o cromo de cada um deles, mesmo que não mo
digam, pois terei alcançado, pelo tempo, o mesmo estatuto. Só não sei como me
descreverão. Livreiro ou livresco? Coxo ou aleijado? Ar simpático ou taciturno?
Pouco importa. Amanhã lá estarei com eles, pelo menos com alguns, colegas que
somos deste desporto do sentar os traseiros numa esplanada aqui da zona.
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