Há meses, poucos, o físico Carlos Fiolhais surpreendeu-me
com uma crónica no Público, crónica com que desvalorizava as consequências do acidente
nuclear de Fukushima. Para ele não era nada, não se percebendo o alarme que
levou outros países a colocar as barbas – as suas centrais - de molho, como foi
o caso da Alemanha que pretende desativar todas as que tem e apostar nas
energias renováveis. Julgo que Fiolhais não citava relatório que pudesse fundamentar o que escreveu, mas não havia ainda o relatório oficial.
Uns dias depois da crónica de Fiolhais soube-se que, quanto a
Fukushima, e antes do tsunami, houve falsificação de relatórios sobre a sua
segurança, assim se enganando o governo, as autoridades internacionais, a população.
Porque, sabe-se, eram financeiramente pesadas as medidas a tomar para se poder garantir a segurança então possível e isso brigava com
os interesses... dos acionistas.
Hoje é conhecido o relatório oficial baseado em 900 horas de
entrevistas a mais de 1.100 pessoas, um documento de 641 páginas. Que arrasa os
responsáveis pela gestão operacional da central e onde se escreve que a
catástrofe de Fukushima “é o resultado de um conluio entre o Governo, as
agências de regulação e a Tepco [o operador da central], e de uma falta de
gestão naquelas instâncias”. Foram ainda questionadas as convenções conformistas da cultura japonesa e a relutância em questionar as decisões ou ordens da autoridade.
O acidente de Fukushima - "desastre provocado pelo homem", segundo a comissão de inquérito - é o acidente mais grave a seguir a Tchernobil. O
Japão apenas tem a funcionar, hoje, um dos seus cinquentas reatores nucleares e
quanto ao qual se admite poder haver, por debaixo dele, uma falha sísmica.
Veremos se Carlos Fiolhais volta ao assunto e como.
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