Prémio Pulitzer 2011
“Tu consegues, Scotty – tens de conseguir “ dizia Bennie,
com a sua calma habitual, mas entre os seus já escassos cabelos prateados Alex
vislumbrou uma coroa reluzente de suor.
“O tempo é um brutamontes, não é? Tu vais deixar que esse
brutamontes faça de ti o que quiser?”
Scotty abanou a cabeça. “O brutamontes ganhou”.
Uma narrativa mistura de farsa e tragédia, com momentos
hilariantes. Com vencedores, vencidos, sobreviventes e vítimas ao longo de
quatro décadas, pejadas de episódios e circunstâncias que apenas uma mente
brilhante seria capaz de criar de forma tão sedutora e envolvente.
A procura ou captura do tempo perdido pode não ser mais que
um drama para quem envelheceu incapaz de evitar um grande vazio à sua volta. O tempo pode ser um brutamontes.
“Rebecca era uma estrela académica. O novo livro dela era
sobre o fenómeno dos invólucros das palavras, termo que ela inventara para as
palavras que deixaram de ter sentido foras das aspas das citações. A língua inglesa
estava cheia dessas palavras vazias – “amigo” e “real” e “história” e “mudança”
– palavras que haviam sido despojadas dos seus significados e reduzidas a
cascas. Algumas como “identidade”, “pesquisa” e “nuvem”, haviam claramente sido
privadas da vida devido ao seu uso na rede. Noutras, as razões eram mais
complexas; como é que “americano” se transformara num termo irónico? Como é que
“democracia” passara a ser usada de um modo dúbio, trocista?
A seguir:
“Navegação Ponto Por Ponto – Memórias 1964 – 2006” de Gore Vidal
Sem comentários:
Enviar um comentário