Estávamos em 1966 e a FCG ainda não tinha as instalações e
auditórios sitos na avenida de Berna. Daí a importância em ter um primo que
fazia um biscate como porteiro e arrumador no Tivoli, sala onde se realizava a maior parte
dos concertos que integravam os festivais Gulbenkian. O de 1966 era a décima
edição, e 1966 era o meu primeiro ano em Lisboa, trabalhador-estudante no
Colégio Manuel Bernardes, o que me permitia ter, para além da cama, comida e
roupa lavada, 500$ por mês que me permitiram vícios que ainda hoje me
acompanham.
Mantenho desde então o programa de um festival que saía da
capital para Mafra (os concerto de carrilhão), Coimbra, Setúbal, Leiria,
Santarém, Aveiro, Guimarães, Covilhã, Évora, Beja, Braga e Faro. Na altura o
resto não era apenas paisagem.
Esta facilidade do acesso ao Tivoli, onde então nunca pagava
concertos ou cinema, tinha ainda a vantagem permitir ir até aos camarins e
sacar um ou outro autógrafo recordando, em especial, o de António Pedro que,
como declamador, participou na 1ª audição absoluta de “O Encoberto” com que Maria
de Lourdes Martins ganhara o Prémio Calouste Gulbenkian de Composição em 1965.
Era o mês de Maio e António Pedro faleceria no mês de Agosto do mesmo ano.
No dia 1 de Junho estou no Coliseu, suponho que a troco de
7$50, para ouvir “A Sagração da Primavera” e o “Oedipus Rex”, este dirigido
pelo próprio Stravinsky. E recordo o modo como foi efusivamente ovacionado por
uma sala cheia, em contraste com umas ligeiras palmas para Tomás que na altura
o condecorou.
De pequenas coisas se faz a vida e as que nos marcam
revivem-se como se fossem de hoje, por terem lá o seu que de eternas,
permanentes.
Sem comentários:
Enviar um comentário