“A
literatura do desencanto não é a destruição do encanto, é a consciência melancólica
mas necessária da realidade. Quando Dom Quixote fantasia numa coisa aquilo que
ela não é, tem razão, contra Sancho Pança, porque as coisas não se reduzem à
sua dimensão prática. O desencanto, que nos faz ver o mundo como é, torna
verdadeira e não falsa a consciência da vida, que é uma consciência dolorosa,
mas não retira o encanto. Creio fortemente na força criativa do desencanto. Mesmo
politicamente, sinto o desencanto como positivo: se uma visão política do mundo
pretende ter uma receita absoluta, naturalmente que é falsa. Moisés não tem
ilusões e sabe que não alcançará a terra prometida, mas não desiste de caminhar
para ela.”
“… basta pensar em Musil, que dizia que no nosso mundo pode suceder que um génio seja
tomado por um imbecil, mas nunca um imbecil será visto como um génio. Ou a
história da imperatriz Sissi que escrevia poemas que dizia ser o resultado de
um contacto mediúnico com Heine. Um conselheiro imperial da corte comentou:
vê-se bem que Heine, depois de morto, piorou imenso como poeta.”
Claudio
Magris, vencedor do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a divulgação do
património cultural, de 2013, em entrevista ao ípslon / PÚBLICO.
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