Sobrinho Simões
P. Os
anteriores governos do PSD seguiram a linha iniciado por [Mariano] Gago. Este não
fez o mesmo?
R. Este
governo fez uma ruptura, que não foi só na ciência. Mas na ciência foi mais
grave, porque é um tecido relativamente novo. Fez uma espécie de destruição
criativa: rebentou com tudo, esperando que, das cinzas, nasça algo de novo. Na ciência,
não nasce.
P. Como vê a
proposta do Orçamento do Estado para o sector?
R. É
péssima, porque corta de uma forma cega. Não reforça as instituições que
merecem e deviam ser premiadas. Ao mesmo tempo, deveria reformular as
instituições que não merecem. Do lado da ciência, há uma ideia de que um
investigador muito bom pode juntar dois amigos e vai ali para o pátio do
Hospital de S. João fazer um projecto de investigação.
P. É aplicar
à ciência a cartilha do empreendedorismo?
R. A
ciência, antes de mais, precisa de um tecido de suporte. O empreendedorismo é
criminoso, porque tem estimulado perversões. O cientista que é muito
empreendedor deve ser um empresário. Os estímulos deste tipo podem acabar por
ser um convite ao chico-espertismo.
P. Como vê
as alterações que a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) introduziu ao
financiamento da ciência?
R. A FCT
está de uma incompetência como eu nunca vi. Está a mudar permanentemente as
regras e os prazos. Não há coisa mais difícil do que alguém planear a sua vida
sem um mínimo de estabilidade.
P. E
concorda com os critérios de avaliação, baseados na produção científica e
obtenção de patentes, por exemplo?
R. São
terríveis. Primeiro, porque coloca os investigadores das ciências sociais e
humanas numa situação de dificuldade. E a sociedade portuguesa precisa, como de
pão para a boca, de ciências sociais. Depois, parece-me que é mais importante a
repercussão da nossa actividade no mundo científico e na sociedade do que o
facto de se publicar numa revista com muito impacto. A FCT não pensa o mesmo.
Extratos da entrevista de Sobrinho Simões ao PÚBLICO de 22-11-2013
1 comentário:
Das cinzas nascerá algo de novo, também o nosso herói Cristiano acreditou, e das cinzas fez o nosso orgulho.
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