[…]
“A solução para a crise, dentro do euro, só pode passar por
medidas domésticas de estímulo ao crescimento e emprego, racionalização
efectiva (e não cosmética) da despesa pública, alargamento das bases
tributárias (e não aumento das taxa), e empenho político europeu a vários
níveis. Com recessão ou fraco crescimento económico não conseguiremos suportar,
económica e socialmente, os juros da dívida. Será necessária alguma forma de
mutualização parcial da dívida, um orçamento europeu mais significativo, com
redistribuição pessoal do rendimento e um imposto sobre transacções financeiras
à escala europeia, entre outras medidas. Mas isto pressupõe a construção da União
política europeia, federal e com clara legitimidade democrática. Curiosamente,
Portugal tem estado alheado deste debate (à excepção de Teresa de Sousa,
Viriato Soromenho Marques, Rui Tavares e outros). Só houve ténues iniciativas –
um encontro da União Europeia dos Federalistas e amanhã do Movimento Europeu –
mas nem o governo, nem os partidos políticos, nem a sociedade civil pareceram
muito interessados no tema. Os extremos (PCP, Bloco e CDS) têm sido tradicionalmente
antifederalistas e os partidos do bloco central indiferentes.”
[…]
“A crise económica e financeira foi criada pelo fracasso do sistema
político, e a sua solução exige uma reforma das instituições, novos atores
(individuais e institucionais), uma forma de fazer política. O primeiro teste
de que é possível passar da expressão inorgânica de descontentamento, para uma
cooperação pelo bem comum são as autárquicas de 2013, através de candidaturas
independentes e credíveis de cidadãos com projectos consistentes. Ao nível local há uma
austeridade autárquica a combater e há valores a defender: apoio aos jovens e
idosos, a qualidade ambiental, ordenamento urbano, combate à corrupção,
promoção cultural e dos espaços públicos, entre outros.”
Paulo Trigo Pereira, cidadão português e europeu e professor
universitário (ISEG/UTL)
PÚBLICO, 07-10-2012
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