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O PCP e o Bloco de Esquerda, que, aparentemente, entraram na
fase do ódio cordial, decidiram apresentar moções de censura contra o governo. Convém,
contudo, ter em consideração que, na extrema-esquerda, as coisas nunca são o
que parecem ser, as palavras remetem sempre para outro significado, a linguagem
aponta para um sentido oculto. Eles querem-se dialéticos, raramente se elevam
para além da escolástica. Por isso mesmo, este recente pacto aponta para um
inimigo – o PS. A ideia de que as esquerdas se devem unir é, como sabemos, uma
fantasia de adolescentes políticos, pela simples razão de que elas quase nunca
estiveram unidas e, em vários momentos, até se combateram mortalmente. É esse
confronto que a extrema-esquerda portuguesa prossegue agora com estas moções de
censura. As suas intenções primárias são evidentes – visam colar o PS à
direita, insinuar que a verdadeira linha divisória no nosso país político é a
que se atravessa entre o PS e eles próprios. Estamos perante a habitual
cegueira da esquerda extremista. A sua última manifestação consequente ocorreu no
ano passado, quando se associaram à direita para derrubar o Governo de José
Sócrates. Agora parecem reincidir, com a minúscula diferença da sua própria
impotência. Já não estão em condições de provocar a queda do Governo. O que até
provavelmente os reconforta, já que acreditam que isso pode contribuir para a
divisão do PS. Desejo que estejam enganados.”
(…)
Francisco Assis, PÚBLICO de 04-10-2012
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