Holzberg e a segunda rotunda
O amigo do Dr Helsel, Holzberg, era um arquitecto
fascinado pelo círculo, forma central de todas as mitologias, e ao londo da sua
carreira construíra dezenas de rotundas. Este fascínio levara-o mesmo a perverter
a forma, fazendo uma rotunda, se assim se pode chamar, quadrada. Este passeio
em quadrado que sinais de trânsito obrigavam os carros a circundar – termo inadequado
– não era mais do que uma partida do arquitecto, uma armadilha quse infantil,
pois, apesar do sinal de trânsito explícito (era necessário contornar aquele
quadrado colocado no meio da via), os automóveis, por diversas vezes, batiam
contra os vértices do passeio, furando pneus, quebrando pára-choques, etc.
A partir de certa altura, os carros conhecedores
daquela ameaça geométrica, rodeavam o quadrado, mas muito afastados dos seus
vétices, fazendo assim um trajecto em circunferência em redor de uma rotunda
imaginária. Esse circular em redor de uma rotunda – que de facto não existia – fazia,
segundo Holzberg, com que os condutores assimilassem a verdadeira importância
do círculo. Para Holzberg era claro que os condutores só desenhavam um círculo
com o trajecto do seu automóvel quando rodeavam o quadrado que ele mandara
construir. Em rotundas normais, os automóveis não desenhavam à mão livre, na
expressão de Holzberg, mas copiavam; como alguém, obediente, que faz sem ter a
noção exacta do que está a fazer.”
E com este humor e uma imaginação fora de comum, se apresentam os diversos personagens
a cada um dos quais se dedica um pequeno capítulo. Em cada capítulo, por sua
vez, cai, como quem não quer a coisa, o personagem protagonista do capítulo
seguinte… Um gozo que se respira com sofreguidão, como em tantos outros livros
de Gonçalo M.Tavares.
Sem comentários:
Enviar um comentário