Toda a compreensão do mundo para a indignada reação de José Maria
Ricciardi na forma de carta que dirigiu ao PÚBLICO. Reação com intensa
utilização lícito, ilícito, regular, irregular, censura, censurável,
incensurável. Porque os contactos telefónicos que teve com “vários membros do
Governo” se destinavam, num caso, “justamente a evidenciar a necessidade de
garantir a transparência das regras do concurso a assegurar a igualdade de
oportunidades facultadas aos concorrentes”. Sublinhar transparência, indispensável, sempre presente, nos negócios, com doses a dobrar nos grandes negócios.
Noutro caso, Ricciardi questionou um membro do Governo “sobre
se há intenção de ceder a pressões políticas promovidas pelas lideranças
europeias” e que prejudicassem a “adjudicação à proposta com melhor preço e
condições mais favoráveis para o Estado português”.
Nem mais: Ricciardi, certamente mal assessorado na redação
da carta, admite que o Governo é sensível a pressões que venham de fora,
cabendo-lhe a ele o dever patriótico de evitar que vinguem os intentos dos
maus.
Verdade se diga que, só no primeiro caso - assessoria
financeira ao Estado -, estavam em causa cerca de 16 milhões, segundo os jornais,
e que foram embolsados pela Caixa BI e pela Perella, esta a tal que foi
escolhida à socapa, o que espantou Ricciardi, por pretensa infração da necessária transparência.
Já agora: a Perella
tem como sócios ex-quadros de topo da Goldman Sachs e da Merrill Lynch. António
Borges, assessor do Governo para as privatizações, também foi alto quadro da
Goldman Sachs. Mas isso é mera coincidência.
Já agora: como isto de ligar a membros do Governo se pode
justificar com tanta bondade, quais os números de telemóveis dos ministros para
o caso de me dar uma de patriotismo, de transparência, eu sei lá?
Em itálico excertos da carta publicada hoje no PÚBLICO.
Sem comentários:
Enviar um comentário