Auditório 3 da FCG cheio que nem um ovo, com dezenas de
pessoas de pé. Para apresentação de uma biografia sobre um homem sem o qual
tudo teria sido bem diferente, para pior, no nosso percurso pós 25 de Abril,
embora o seu comprometimento político viesse já de longe, quando, por exemplo,
ousou apresentar-se como candidato pela CDE em 1969, apesar de ser militar. Pretensão
recusada pois o regime apenas tolerava candidaturas militares pela União
Nacional.
Melo Antunes, senhor de uma grande cultura e enorme
coerência, foi o ideólogo do MFA, pela intervenção que teve na redacção do seu
programa e do Documento dos Nove, para além de ter evitado o ajuste de contas
pretendido pela direita no pós 25 de Novembro, numa intervenção hoje tida como
fundamental para a afirmação de um estado de direito em Portugal.
Além disso, teve desempenhos relevantes como presidente da
Comissão Constitucional, sucessora do Conselho da Revolução e embrião do futuro
Tribunal Constitucional, como ministro dos Negócios Estrangeiros, como
conselheiro de estado. Mas incompreendido por muitos e alvo de vinganças
mesquinhas, como foi a de Freitas de Amaral quando lhe vetou uma nomeação
internacional.
Apenas visualizei uma pessoa que se pode ter próxima da
governação que nos vai e desgraçando, mas Mota Amaral já vem doutros tempos,
nada tendo a ver com estes estroinas do seu partido.
Para além da excelente e viva apresentação do livro feita
por António Reis, realce para a evocação de uma amizade e de uma cumplicidade
ideológica e política feita por Vasco Vieira de Almeida, que só pecou por ser
curta, tal o prazer com que era escutado, e a carta de Santos Silva, presidente
da FCG e ausente por razões de força maior, lida por Teresa Patrício Gouveia.
Eramos muitos. Uma editora ousou apostar num género
comercialmente pouco interessante, com cerca de 800 páginas. Tudo isto empolga.
Tudo isto anima.
Questões comuns colocada pelos intervenientes - Eanes,
António Reis, a autora, Joana, filha de Melo Antunes, Vasco Vieira de
Almeida, Vasco Lourenço: que pensaria Melo Antunes dos tempos que vivemos? Como
interviria em tal contexto?
Gente há cuja morte é uma perda, uma irremediável perda.
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