Foi a baronesa Thatcher que afirmou "Não existe essa
coisa de sociedade, o que há e sempre haverá são indivíduos" porque isso de
sociedade, digo eu, é coisa perigosa, mas já um individuo é facilmente controlável,
amestrado, configurado de acordo com a ideologia e os interesses da classe
dominante, reproduzindo o discurso de tal classe. A estes indivíduos basta
pertencerem a uma tribo, grupo com comuns interesses, impenetrável por quem não
tenha cartão e quotas em dia.
Mas sociedade é coisa mesmo perigosa: interclassista, imprevisível,
incontrolável se livre, inquieta se exigente, caminhando ao ritmo das suas
pulsões, gerando e ultrapassando crises na busca do progresso colectivo. É
aqui que se afirma a cidadania, que se torna justificada a solidariedade, é
aqui que nos aproximamos uns dos outros, atenuando diferenças nunca eliminadas.
Tem a escola a ver com a opção que se faça entre a ênfase no
indivíduo, na tribo, ou na sociedade? Naturalmente que tem. Por isso, a
eliminação da disciplina de Educação Cívica é uma clara afirmação do caminho pretendido
para o futuro por quem hoje nos governa: o individualismo egoísta, o mimetismo acrítico, enfim, as
condições capazes de permitir a reprodução do discurso da classe dominante,
diria opressora.
E a quem afirme dever colocar-se em primeiro lugar a
liberdade individual, há que responder que isso em nada é incompatível com
outros e tão nobres valores, nomeadamente o da responsabilidade cívica.
Há que recuperar para a escola pública o sentido cívico da
escola republicana enquanto espaço de crescimento, de liberdade e de cidadania, queira ou não queira quem hoje põe e dispõe.
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