quinta-feira, 11 de abril de 2013

Poemas de sempre - "A Mulher" de António Ramos Rosa

A Mulher        


Se é clara a luz desta vermelha margem
é porque dela se ergue uma figura nua
e o silêncio é recente e todavia antigo
enquanto se penteia na sombra da folhagem.
Que longe é ver tão perto o centro da frescura

e as linhas calmas e as brisas sossegadas!
O que ela pensa é só vagar, um ser só espaço
que no umbigo principia e fulge em transparência.
Numa deriva imóvel, o seu hálito é o tempo
que em espiral circula ao ritmo da origem.

Ela é a amante que concebe o ser no seu ouvido, na corola
do vento. Osmose branca, embriaguez vertiginosa.
O seu sorriso é a distância fluida, a subtileza do ar.
Quase dorme no suave clamor e se dissipa
e nasce do esquecimento como um sopro indivisível.

2 comentários:

lino disse...

Um grande poema que também afixei no dia 8 de Março!
Abraço

A. Moura Pinto disse...

Todos os dias seriam bons, mas o 8 de março é especial...