terça-feira, 30 de abril de 2013

Poemas de sempre - "Vou-me embora para Pasárgada" de Manuel Bandeira


Vou-me embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira
  Vou-me embora pra Pasárgada
 Lá sou amigo do rei
 Lá tenho a mulher que eu quero
 Na cama que escolherei
 Vou-me embora pra Pasárgada
 Vou-me embora pra Pasárgada
 Aqui eu não sou feliz
 Lá a existência é uma aventura
 De tal modo inconseqüente
 Que Joana a Louca de Espanha
 Rainha e falsa demente
 Vem a ser contraparente
 Da nora que eu nunca tive
 E como farei ginástica
 Andarei de bicicleta
 Montarei em burro brabo
 Subirei no pau-de-sebo
 Tomarei banhos de mar!
 E quando estiver cansado
 Deito na beira do rio
 Mando chamar a mãe-d'água
 Pra me contar as histórias
 Que no tempo de eu menino
 Rosa vinha me contar
 Vou-me embora pra Pasárgada
 Em Pasárgada tem tudo
 É outra civilização
 Tem um processo seguro
 De impedir a concepção
 Tem telefone automático
 Tem alcalóide à vontade
 Tem prostitutas bonitas
 Para a gente namorar
 E quando eu estiver mais triste
 Mas triste de não ter jeito
 Quando de noite me der
 Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
 Na cama que escolherei
 Vou-me embora pra Pasárgada

 

1 comentário:

Francisco Clamote disse...

Um poema que muito aprecio. Dá mesmo vontade de ir embora. Para Pasárgada, ou para outro sítio menos infecto do que aquele em que vivemos.