Artur Marques da Costa
Feito o 5º ano dos liceus, rumei a Lisboa, já com emprego
assegurado por um primo da família e a quem muitos de nós devemos, o primo Zé
Moura. Emprego no Colégio Manuel Bernardes, escola para filhos de gente fina,
como preparador dos laboratórios de ciências naturais e de física e química. Eu
que nada tinha a ver com tais matérias, pois o meu destino seriam as ciências
económicas e financeiras, rumo ao ISCEF, agora ISEG.
As funções não eram de monta, bastando colocar sobre as
mesas os instrumentos, reagentes, ácidos, sais e outras coisas mais necessárias
às aulas práticas dos alunos sobre a batuta, no caso da física e química, do professor
Artur Marques da Costa, pessoa que me habituei a considerar e que igualmente me
estimava.
Recordo que a páginas tantas já era um expert nas matérias
em questão, ao ponto de evitar algumas desgraças nas experiências a fazer pelos
alunos que, à socapa, também ajudei nos exames, deixando dicas escritas
embrulhadas em panos ou, então, com sinais de olhos reprovadores face ao que
via fazer e que permitiam inverter, a tempo, os procedimentos em curso. Porque o
preparador podia estar e circular pela sala em que se faziam as provas práticas
dos exames do então terceiro ciclo dos liceus.
E foram dois anos assim. Com direito a cama, mesa e roupa
lavada, a par de uma remuneração de 500$ mensais que me permitiram alguns dos
vícios que me acompanham ainda hoje: os concertos, particularmente os
integrados nos Festivais Gulbenkian da altura, quando vi Stravinsky a reger no Coliseu,
e Margot Fonteyn e Nureyev a dançar no mesmo local o Lago dos Cisnes, livros,
um jornal diário (sobretudo o Diário de Lisboa)… E recordo que até comprei um
fato com letras avalisadas pelo Padre Augusto Gomes Pinheiro, fundador e
diretor na altura do colégio, entre nós tratado como o senhor prior.
E tudo isto a propósito de um documentário hoje na RTP2,
sobre Rómulo de Carvalho / António Gedeão, com um depoimento de Artur Marques
da Costa que, sei agora pelo que consta aqui na net, também quis ser arquiteto.
Mas foi como professor de física e química que o conheci. E é por ser a
pessoa que foi que agora me emocionei ao revê-lo, porque nunca mais o vi depois
daqueles dois escassos anos dos anos 60, os necessários para também eu concluir
ali o terceiro ciclo dos liceus e partir para outra.
E tudo isto graças a de Rómulo de Carvalho / António
Gedeão, por cujos livros também estudei e sobre o qual é urgente que pegue no
livro escrito pela sua filha Cristina, com o justo subtítulo de “Príncipe
Perfeito”. Porque o é.
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