“O Padre Cristóvão fechou os olhos, reflectiu e disse a
meia-voz:
- “O que é a substância?” – “ A substância é aquilo que
existe por si e se realiza por si própria”.
[…]
Caminha-se uma hora, duas horas…Encontra-se um velho e misterioso
túmulo, ou uma estátua de pedra posta ali, sabe Deus quando e por quem; uma ave
nocturna voa silenciosamente por cima da terra e, pouco a pouco, as lendas das
estepes, as narrativas daqueles que por ali passam, os contos das velhas amam
oriundas das estepes e tudo aquilo que aprendemos por nós próprios e
entesourámos na alma nos vem à cabeça. E então o zumbir dos insectos, as
figuras suspeitas e os túmulos, o azul do céu, o luar, o voo de uma ave
nocturna, tudo quanto se vê e se ouve, começa a parecer-nos o triunfo da
beleza, da mocidade, o esplendor da força e uma sede apaixonada de viver. A alma
vibra em uníssono com a vossa pátria, bravia e bela, e querer-se-ia pairar por
cima da estepe com a ave nocturna.”
Tudo é simples na escrita de Tchékhov. Uma simplicidade
quase absurda: na narrativa, na sua extensão, nas personagens. Mas captando
sempre o real, a sua substância.
Não eram fáceis na altura as relações entre a Suécia e a
Rússia e, por isso, não seria politicamente correta a atribuição do Nobel. Mas é
um autor premiado pelo tempo que nem tudo esquece.
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