quarta-feira, 23 de maio de 2012

Leituras em dia : "A Estepe" de Anton Tchékhov


O Padre Cristóvão fechou os olhos, reflectiu e disse a meia-voz:
- “O que é a substância?” – “ A substância é aquilo que existe por si e se realiza por si própria”.
[…]
Caminha-se uma hora, duas horas…Encontra-se um velho e misterioso túmulo, ou uma estátua de pedra posta ali, sabe Deus quando e por quem; uma ave nocturna voa silenciosamente por cima da terra e, pouco a pouco, as lendas das estepes, as narrativas daqueles que por ali passam, os contos das velhas amam oriundas das estepes e tudo aquilo que aprendemos por nós próprios e entesourámos na alma nos vem à cabeça. E então o zumbir dos insectos, as figuras suspeitas e os túmulos, o azul do céu, o luar, o voo de uma ave nocturna, tudo quanto se vê e se ouve, começa a parecer-nos o triunfo da beleza, da mocidade, o esplendor da força e uma sede apaixonada de viver. A alma vibra em uníssono com a vossa pátria, bravia e bela, e querer-se-ia pairar por cima da estepe com a ave nocturna.”
Tudo é simples na escrita de Tchékhov. Uma simplicidade quase absurda: na narrativa, na sua extensão, nas personagens. Mas captando sempre o real, a sua substância.
Não eram fáceis na altura as relações entre a Suécia e a Rússia e, por isso, não seria politicamente correta a atribuição do Nobel. Mas é um autor premiado pelo tempo que nem tudo esquece.

Sem comentários: