segunda-feira, 19 de maio de 2014

O Celta do Álvaro dos Pastéis de Nata


O Celta é o comboio que faz Porto-Vigo sem parar, sempre a andar. Melhor: é obrigado a parar porque circula em via única sendo, por isso, obrigado a parar nalgumas estações, para dar passagem aos comboios  que circulem em sentido contrário. Só que não é permitido receber ou largar passageiros. E qual a razão? Porque assim quis, contra a opinião e os interesses da CP, o então ministro Álvaro Santos Pereira e, claro, o governo que integrava e que é o mesmo que continua a tolerar a situação.
Agora, passados 9 meses, um comboio com capacidade para 230 pessoas circula com uma média de 26 passageiros por viagem, acumulando prejuízos superiores aos de outras linhas que foram encerradas pelo mesmo governo com o pretexto de não serem rentáveis. Mas, apesar disso, insiste-se em não permitir que o comboio sirva localidades como Viana do Castelo, Darque, Caminha, Valença, onde é obrigado a parar.
Contas feitas por defeito pelo jornal PÚBLICO – porque a CP recusa divulgar os resultados – esta linha terá um défice mínimo de 1,2 milhões de euros até agora.
Despesismo? Má gestão? Falta de jeito? Coisa nenhuma. Esta canalha seria sempre incapaz de reconhecer tal.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

"À Procura do Sugar Man"

Malik Bendjelloul e Sixto Rodríguez
 
De Sixto Rodríguez, numa altura em que a sua música era arma na África do Sul na resistência ao apartheid, constava que já não estaria então no mundo dos vivos, pois teria morrido de uma overdose ou mesmo se suicidado em pleno palco. Ninguém sabia de Rodríguez que, aliás, estava afastado das músicas há dezenas de anos, por desinteresse ou falta de fé nos seus méritos, depois de ter gravado dois álbuns.
Para Malik Bendjelloul o caso era caricato. Como era possível nada se saber de um músico tão apreciado na África do Sul, sobretudo se era vivo ou morto?
À Procura do Sugar Man relata a odisseia de quem nunca desistiu de pôr termo às dúvidas e, com isso, ter feito história.
Quando encontrou Rodríguez, então a trabalhar na construção civil, convenceu-o a fazer um concerto na África do Sul que se transformou num turbilhão de emoções, sobretudo para Rodríguez, muito longe de imaginar ser tão apreciado, de ser um ícone para milhões a viver tão longe do país, o seu, em que estava pura e simplesmente ignorado.
O documentário À Procura do Sugar Man ganhou o Óscar da sua categoria em 2013.
Por tudo isto é muito triste saber que o suicídio de Malik, encontrado morto na passada terça-feira, aos 36 anos, não é um boato como era o de Rodríguez.
Felizmente recuperou-nos Rodríguez, mas vai fazer muita falta.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Escreve Zé Cagarra


Sem que nada adiante às questões de fundo, mas naquele jeito de pessoa cruel, má e vingativa a que sempre nos habituou, o manhoso veio agora perguntar no facebook o que dirão agora, garantida que está a saída limpa, aqueles que antes acreditavam ser necessário um segundo resgate ou, no mínimo, um programa cautelar. E sugere mesmo a leitura do prefácio de um seu roteiro onde justamente admitia a saída com um programa cautelar - "uma rede de segurança" (sic) - como uma das hipóteses. Que não saiba o que diz, a gente entende. Que não saiba ler o que escreveu ou que alguém escreveu por si é que se torna perigoso, mesmo que nos tenhamos habituado a identificar nele mais apetência para a vida das cagarras das Selvagens, a par do enlevo com que olha as vacas que riem nos Açores, do que para o exercício das funções que era suposto estarem ao seu cuidado.
Claro que não será com estas bicadas no facebook que verá concretizados os seus apelos ao consenso. Muito pelo contrário. E tudo indica que acabará os seus dias na magna tarefa de listar as diferenças entre a vida amorosa das gaivotas e a dos pombos que por ali voam nas imediações do palácio.

terça-feira, 6 de maio de 2014

O discurso de um canalha


Citações do discurso de um canalha, feito com papel higiénico na mão, não fosse a “saída limpa” ficar borrada:
“Quando em 2011, o Programa de Assistência foi negociado, o Governo de então pôde beneficiar do apoio dos principais partidos da oposição, apesar das nossas discordâncias. (…) Infelizmente, quando foi preciso cumprir o Programa, um apoio idêntico não existiu.”
Coisas a lembrar a um vulgar filho da puta:
- Houve um canalha, um grande canalha, que fez do Programa da troika o seu Programa. Mais: afirmou mesmo que iria além dele. Sendo assim, queria o apoio de quem, a não ser de um canalha filho da puta como ele?
- O Programa nasce do chumbo do PEC 4 em que o canalha teve papel ativo ao ponto de declarar não se importar, no seguimento de tal chumbo, de governar com o FMI. Para que queria então outra companhia, se já tinha escolhido a que lhe convinha?
- De qualquer modo, o canalha foi ao longo do tempo dispensando o acordo do PS. Então queixa-se do quê este filho da puta?
“o dia 17 de Maio de 2014 ficará na nossa história como uma dia de homenagem a todos os portugueses.”
“Não será o dia nem do Governo, nem de nenhum partido político. O dia 17 de Maio será o vosso dia”.
Eu basto-me com pouco: um tiro na testa do canalha e passará, de facto, a ser um dia a comemorar toda a vida.
“Foi para salvar o projeto político consensual e mobilizador destas quatro décadas – o projeto de uma democracia europeia, com um Estado social forte e uma economia social de mercado próspera – que executámos um programa tão exigente e tão duro como este que agora estamos prestes a concluir.”
Só mesmo um canalha filho da puta seria capaz de afirmar isto em cima de uma taxa de desemprego nunca antes conhecida, um empobrecimento generalizado, uma carga fiscal como nunca houve, um desinvestimento na saúde e no ensino públicos, a par de cortes nas pensões e nas remunerações dos funcionários públicos.
O programa só ficará devidamente executado com a execução de tal crápula, morrendo o bicho e a sua peçonha.
Citações retiradas do jornal PÚBLICO de 05-05-2014 e atribuídas a alguém que nunca deveria ter visto a luz do dia.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Quem sai aos seus...


Quando a canalha que nos governa assenta os seus êxitos na redução do défice, no equilíbrio das contas externas e coisas assim, ignorando os danos causados aos milhões que suportam os resultados das suas políticas na pele, é bom recordar esta passagem de Rentes de Carvalho:
“Ao guarda-livros [Salazar] não se pode dar desculpa, mas tem que se lhe dar um crédito: o de exigir que as despesas não ultrapassem as receitas, e a submissão absoluta de todos os ministérios ao das Finanças. Desse modo, pela terceira vez em setenta e cinco anos, o orçamento do Estado apareceu equilibrado, e assim se manteve até que sobre ele caiu o desproporcionado peso da guerra colonial.
Mas acrescente-se o que os panegiristas sempre passaram por alto e que os bajuladores nunca quiseram ver: orçamentos equilibrados graças à miséria atroz para quase todos, privilégios desmesurados para um pequeno grupo. Tudo isso em nome de Cristo, da Família e da Ordem, e de uma bizarra concepção da sociedade, infelizmente partilhada por mais, e exposta pela última vez num discurso do ditador proferido em 1967: “Sempre houve pobres, sempre os há-de haver, é preciso que os haja.”
In “Portugal, a Flor e a Foice” de J. Rentes de Carvalho.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Os êxitos dos canalhas...


Numa guerra, a vitória de uns pode muito bem assentar sobre muitos cadáveres, seja dos vencedores seja, sobretudo, dos vencidos. Quem fica vivo do lado dos vencedores comemorará, mas nenhum dos mortos comparecerá aos festejos.
Entre nós, a vitória dos canalhas no poder tem paralelo idêntico ao de uma batalha. Eles bem podem celebrar as suas vitórias, seja no que designam por recuperação da economia, seja num défice abaixo do previsto, mas não esqueceremos que isso se deve à conta de um brutal empobrecimento da população portuguesa, além de uma carga fiscal como não há memória e a permanente deterioração dos pilares básicos do estado social.
Ora a pobreza também tem números oficiais, através do INE (dados para 2012). Por isso:
-  se considerarmos apenas os rendimentos de trabalho, de capital e transferências privadas, o risco de pobreza – rendimento inferior a 409 euros - abrange 46,9 da população;
- mas quando àqueles rendimentos se juntam as pensões de reforma e de sobrevivência, o risco de pobreza ainda atinge 25,6% da população;
- se aos rendimentos anteriores acrescerem as prestações sociais relacionadas com a doença e incapacidade, família, desemprego e inclusão social, o risco de pobreza cai para 18,7%, ou seja, cerca de dois milhões de portugueses tem rendimento inferior a 409 euros.
E é à conta deste drama que os canalhas comemoram os seus êxitos e nos querem convencer da bondade das suas políticas que, na verdade, apenas defendem os interesses dos mais fortes e de quem são cães de guarda dos respetivos interesses.

quinta-feira, 20 de março de 2014

O prefaciador de Boliqueime...


Os seus discursos são lavra de outros, os prefácios roteiristas não sei. Mas quem também ficará com o cognome de inédito – porque inédita foi a comunicação ao país, ar solene em horário nobre, excessivo para um bronco – esqueceu-se bem cedo que ainda há pouco anunciou a austeridade até aos anos não sei quantos e despediu 2 assessores que se desviaram do seu pensamento único.
E que pede ele quando às próximas eleições?
Que não haja crispações, que todos se concentrem no essencial, na Europa, no fundo que haja juízo.
E lembrou, porque bronco avisado, que se trata de eleições para o parlamento europeu e não eleições legislativas ou autárquicas. Um aviso acertado para quem tem por hábito assobiar para o lado quando se fala da eventual antecipação das eleições legislativas.
Estamos mesmo fodeidos. Se estamos.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Caviar ou sardinhas


O Costa que governa foi em tempos diretor-geral do banco em que era presidente o prescrito Jardim. Mera coincidência.
O juiz que prescreveu apenas será acusado de mera incompetência. Deste nem sei o nome, mas a vida é assim quando se trata de figuras obscuras, ainda que capazes de importantes canalhices.
Os dois primeiros seguirão montados nas suas chorudas reformas, a arrotar a caviar. Nós ficámo-nos pelas sardinhas, as primeiras da época, bem boas, no modesto mas simpático Marítimo de Alcochete, onde não entra o caviar dos filhos da puta.
Aqui por uns dias eu continuo nas sardinhas, eles no caviar, prescrição esquecida, esperando nova e normal escandaleira. A menos que se lhes acerte na testa, na véspera. Porque aquilo, para o que não existe vacina, está-lhes no sangue.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Abra os olhos... e corra com a canalha!

Foto feita hoje numa carruagem do Metro de Lisboa
 
Quem recorre aos transportes públicos urbanos? Sobretudo quem se desloca para trabalhar ou para tratar dos assuntos da sua vida. É assim, sempre foi assim.
Os transportes púbicos urbanos perderam milhões de clientes nos tempos mais recentes. E isto porque, como é evidente para os mais atentos: a) quem está desempregado não utiliza os transportes como fazia antes, b) quem emigrou foi utilizar os transportes de outros países, c) as empresas de transportes reduziram a oferta com a eliminação de linhas e redução do tempo de serviço, d) outros reduziram ao mínimo o uso dos transportes, face ao aumento das tarifas e aos cortes nos seus rendimentos…

E que ocorre aos gestores destas empresas? Que se está perante comportamentos fraudulentos dos utentes que usam os transportes sem pagar. Sem mais.
Mas isso ainda seria o menos, se não ocorresse a tais gestores apelar aos utentes pagantes para que se transformem em bufos, denunciando as fraudes, apontando quem viaje sem pagar.

Mas tais gestores vão ter um azar dos diabos: são poucos os olhos azuis nos nossos transportes públicos e a maioria serão de turistas que não percebem o que se escreve nestes miseráveis cartazes, nestes cartazes que só poderiam ocorrer a gestores tolerados pela canalha que os nomeia e que aqui é conivente com a bufaria que se quer promover.
 

quinta-feira, 6 de março de 2014

No precipício...


Tínhamos a promessa da água doce, mar revolto à nossa volta, mas eu preferi a doce tempestade da reentrância numa falésia de oferendas cálidas. E picámo-nos docemente nos nossos segredos até que nos amanhecemos.
Agora seguramo-nos à beira do abismo, com juras de que os desejos de ontem sejam os sonhos de amanhã.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Mãe é Mãe


Nisto de fotografar, em geral faço opções comodistas, que me permitam disparar no momento, sem necessidade de mais que não seja escolher o ângulo e focar. Seleciono, por isso, o “automático”.
Mas recordo os tempos em que teorizava e ouvia teorizar sobre a “prioridade à abertura” e a “prioridade à velocidade”, e os contextos em que se deveria escolher ou combinar uma ou outra. Uma seca.
E lembrei-me disto a propósito desta fotografia, onde a seleção do automático, sem mais, desfocou o rosto do meio, certamente por não conseguir estar sossegado face às emoções do momento.
 E descobri um tipo novo de prioridade, na forma de fotografia: o da Mãe que faz questão de dar prioridade aos Filhos, que se apaga a favor deles.
Esta foto poderia ser daquelas que não se escolheria para reter. Mas fica aqui porque pode e deve ser interpretada deste modo: a prioridade dada aos Filhos pela Mãe.
Uns sortudos, a Mónica e o Carlos. Uma Mãe de parabéns, a Paula.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Trilhos da alma


Não procura os mistérios no horizonte que se segue a cada curva, a cada desnível, porque é o horizonte, ele mesmo, quem a orienta e lhe preenche a alma e, por isso, nele se fixa. E o horizonte tem tudo, mas não mistérios para uns olhos que se encantam apenas com o seu próprio olhar. Sabe que encontrará as raízes da alma que cuidará, lavando-as e regando-as. Mas apenas as raízes. Porque alma já havia e bem cuidada, apenas a exigir-lhe que suba e cuide das suas raízes, pois é ali que uma força da natureza se encontra presa, voluntariamente presa. Por isso se solta e regressa, mas despedindo-se com um até já.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Cessei?

Arquiteta de formação, a minha amiga retratou-me assim, na forma de um apelo. Hoje relido, recordo ser tido por pessoa complicada, porque permanentemente insatisfeito e exageradamente exigente. A começar por mim. Cessei?

Remexendo no baú...

Pouco depois voltava para Lisboa. Mas as dificuldades eram muitas para ir além de uma boa ideia.

Utopias?

 


Havia cor, gritos de alma, solidariedade, mobilização, valores. A direita reacionária não se atrevia a mostrar os dentes, como o faz agora. Mas ao longo do tempo perdemos gás, baixámos os braços, acomodámo-nos.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Abraço

Foto em Óbidos
 
Foi o prenúncio de um abraço, daqueles abraços em que sentimos que nada fica fora do nosso abraço, ainda que breve. Um abraço que começa na franqueza de braços bem abertos, ao nosso encontro, até nos envolverem, sem que fique nada fora de nós.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Hoje como ontem...

Até então, não tinha ido além de Ayamonte, ida e volta no mesmo dia. Era o tempo as férias em Pêra e do pirex em Espanha. As irmãs Lima iam ao pirex, eu e o Asdrúbal seria o que fosse. Desse tempo perdurou durante anos, como decoração do meu quarto, uma raquete de ténis, de liga de alumínio, e ainda tenho o D Quixote e Sancho Pança em madeira. Claro que isto com a ajuda de uma cunha na PIDE de Portimão, pois sem papelinho nada feito para quem estava em idade de cumprir serviço militar e se podia pirar.
Também até então, dormidas fora de casa ficavam-se pelos acampamentos na Serra da Estrela, na Lagoa de Albufeira, no parque de campismo de Escaroupim, no quintal do Lelo…
Desta vez fazia a minha estreia de avião a caminho de um hotel em Zurique, com o pretexto de um estágio profissional na mais importante resseguradora suíça. Tirei o passaporte, comprei um fato de bombazine bege, uma pasta nova, uma mala para o porão. E tudo corria bem até ao controlo de entradas do aeroporto de Zurique. Passaporte em ordem, mas o bilhete da viagem só compreendia a ida e não o regresso.
De nada serviu jurar que ia fazer um estágio de 15 dias, que depois entraria de férias com saída em direção a Dijon, podendo acontecer que me viessem buscar e que, a não ser assim, sairia de Zurique por comboio. Porque era mesmo assim que as coisas estavam definidas: sair para Dijon, depois Nice e a seguir Roterdão. Uma coisa em grande para a minha primeira saída a sério.
Mas nada feito, apesar da minha insistência, apesar das minhas juras. E fui mesmo obrigado a comprar no aeroporto, acompanhado por um polícia, um bilhete de regresso a Lisboa, porque nem sequer aceitavam um para França.
No aeroporto era esperado pelo André que não conhecia e que fora indicado para meu tutor durante o estágio. E que ficou amigo para uma vida. Sabia o meu voo, perguntou por mim pela instalação do aeroporto, mas não dei por nada, embrulhado que estava naquela bem esquisita trapalhada.
Chegado ao hotel Bellaria, tinha uma mensagem. Dei-lhe seguimento e, pouco tempo depois, estou em casa do André. Caras incrédulas face ao que relatava.
A permanência de 15 dias permitiu-me defrontar outros episódios da mesma natureza, de xenofobia, mas não no hotel, nem no local de estágio.
Mas tudo se passou há 40 anos, há muito tempo. Mas se recordo isto é porque houve um referendo na Suíça, com os resultados que se conhecem. As coisas não mudaram muito no país das contas bancárias numeradas e que levou Jean Ziegler a escrever o seu “A Suíça Lava Mais Branco”, em 1989.
E quase juro que a UE vai vergar-se ao poder que se esconde atrás de tais contas, permitindo à Suíça escolher os tratados bilaterais que lhe convém ter.
Veremos.
 
 
Este hotel já não existe, mas alguém vende este autocolante na net, onde encontrei a imagem.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Casar com menina rica? Jamé!

 
Foi uma experiência de dois anos como professor de português numa escola de auxiliares de educação infantil. Aulas limitadas a uma hora por semana, pelo que não valia a pena investir pela gramática, com o predicado e o sujeito, mas a divisão do texto em orações. Mais valia, entendíamos, pôr as pequenas a discutir temas, sobretudo os que mais lhes respeitassem e, a partir daí, tentarem um resumo escrito.
Foi o que certamente aconteceu com estes textos, ambos com títulos próprios da época, pois estávamos em 1973.
Por vezes sugeriam-nos, a mim e ao Asdrúbal, alguma calma. E prometíamos sempre que sim, que teríamos as cautelas adequadas para não criar problemas à escola enquanto instituição.
 

Quando me passavam cartão...




CCV - Há 42 anos.

 
Daqui a pouco, mas há 42 anos, eu estaria numa reunião no Café THAITI, no Largo do Calvário, cuja fachada está agora no estado que se vê na foto tirada há dias. E coube-me redigir a ata histórica, porque a primeira, do CCV – Círculo Cultural Vértebra, criado há pouco, e com a 1ª Assembleia Geral realizada na casa de uma das associadas, em Campo de Ourique. Andávamos, em geral, entre Alcântara e Campo de Ourique, em casas ou cafés, sempre que se avariavam as playstations ou a net ia abaixo, ou se descarregavam as baterias dos telemóveis e das tablets.
E como gozávamos com estas coisas… sem deixar de fazer outras.
Era a loucura dos vinte e tal anos.
 
 




quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

DL - Leitor nº 55458


Era o tempo de Ruella Ramos, Fernando Assis Pacheco, Mário Castrim, Sttau Monteiro, José Carlos Vasconcelos, Joaquim Letria e tantos outros. Era o tempo dos suplementos DL Juvenil onde tantos começaram para as letras e A Mosca, com as hilariantes redações da Guidinha, do Sttau.
E ser leitor do DL era como que uma militância que gostávamos de exibir, neste caso na forma de cartão de leitor.
O que não se perdeu com o desaparecimento do Diário de Lisboa, contas feitas ao que com ele se ganhou. E  de que muito ficou, valha-nos isso.

DECO, que não é o que foi.


Agora que se comemoram os 40 anos da DECO, recuperei do meu arquivo o seu boletim nº 1, de Maio de 1974. A DECO tinha sido criada cerca de 2 meses antes, salvo erro. E tudo era diferente, a começar com uma coisa muito comezinha: a defesa dos direitos dos consumidores não era, então, um negócio, nem se imaginava que o pudesse ser. Hoje é um negócio, como em negócios privados se tornaram a defesa do ambiente e a ecologia.
É a vida.
Este boletim dá conta da adesão da associação aos objetivos do 25 de Abril, ocorrido pouco depois da sua criação e, em editorial, reafirma os princípios a prosseguir: a defesa dos “legítimos interesses de todos os consumidores, muito particularmente das classes trabalhadoras”, mas com recusa de “qualquer espécie de espírito paternalista e muito menos caritativo”; por outro lado, a DECO então recusa ainda “qualquer semelhança com um clube duma elite bem alimentada” e reafirma pretender ser “aquilo que os seus associados quiserem que ela seja”. Porque de uma associação se tratava de facto e não de uma empresa comercial com o disfarce de associação como hoje é.
Na altura seria inconcebível que a DECO, muitos anos mais tarde, fosse capaz, por exemplo, de levar a cabo campanhas promocionais agressivas como as que se lhe conhecem, a lembrar mesmo aquilo que condena a outros. Para ter mais assinantes das suas publicações, não para ter mais associados, figura que deixou de existir.
Hoje a DECO prossegue um negócio tão legítimo como outro qualquer. Mas é um negócio que nunca poderia usar o slogan com que terminava este primeiro número: “a união faz a força, inscreva-se na DECO”.
Os tempos eram outros e eu estive lá. E gostei.
 

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Ainda as praxes


“Há pouco mais de 40 anos, no final dos anos 60 do século passado, as palavras-chave de um relatório da Unesco sobre a juventude eram estas: contestação, transgressão, contra-cultura,  contra-poder, cultura dos jovens. Hoje, já nem é preciso relatórios para conhecermos as palavras que descrevem a situação dos jovens: desemprego, precaridade, pragmatismo, sobrevivência. Da época em que a juventude teve uma grandiosa significação cultural e quis assumir a responsabilidade do devir histórico, com o entusiasmo político de quem se sentida um grupo messiânico, chamado a libertar a humanidade da opressão e da injustiça, passámos para a época em que ser jovem significa ausência de projecto, aceitação dos limites, repetição. Do grande espaço público, a juventude passou para a estrita cena privada. A ideia de juventude desligou-se, aliás, de uma ideia cultural e ficou vinculada apenas a lógicas de consumo, de trabalho , e a modos de ocupação do tempo. As famigeradas praxes não são mais do que uma forma de querer recuperar, pelo lado grotesco e alarve, uma coisa que já não existe nem tem condições para existir: a comunidade a que a vida dos estudantes dava forma, dotada de um grande significado cultural e intelectual. Elas exercem-se, portanto, no mais completo vazio, e por isso é que são violentas e patéticas. A herança do nosso tempo é a do acaso dessa invenção recente: a juventude enquanto categoria da descrição e análise sociológicas e agente de uma cultura. (…)”
António Guerreiro, PÚBLICO / ípsilon de 31-01-2014

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Dois cromos na SEC

Viegas e Barreto, uma parelha de cromos
 
Este governo soube escolher cromos de mérito para a cultura. Um deixou marcas no recuo de uma nomeação para o CCB, aceitando ser desautorizado pelo partido maioritário que apoia ao governo de canalhas e, depois, quando olhou para o lado ao deixar sair para o estrangeiro, de forma irresponsável e muito duvidosa por aparentar ser um frete, um quadro de Crivelli. O outro, com aparência de quem surgiu não se sabe donde, tal o ar esgazeado que exibe, tinha que ficar na história igualmente por falta de jeito e sensibilidade para as coisas da cultura. A tal ponto que hoje argumentou a favor da venda das obras de Miró como o faria qualquer ministro das finanças deste governo, para quem arte se resume à pergunta “quanto rende isso?”.
O problema da política da cultura já não está apenas na exiguidade das dotações orçamentais. É que, como cromos como estes, estamos mesmo lixados, seja qual for o orçamento.

Ontem, um dia muito negro.


Não é preciso ser cronista do reino para afirmar de forma solene que ontem as academias portuguesas tiveram um dia negro, um histórico dia negro, num programa da RTP1. Qual juventude universitária solidária, inclusiva, politicamente atrevida, qual quê. Para aquilo que eram os valores de antigamente já deu o que tinha a dar. Agora temos uma reprodução da “geração rasca”, mas para muito pior que aquilo que levou Vicente Jorge Silva a integrar aquela expressão no nosso léxico.
Era ver aquele teatro, de outras boas tradições, quase lotado por uma canalha intolerante que não aceita a diferença de opinião, que se basta com o carnavalesco traje académico, que aceita ter como referência um calão com 24 anos de matrículas e um presidente da sua AAC sem coragem para ter opinião sobre a praxe com o pretexto anedótico de não querer ser polícia e que se recusa a comentar os códigos da praxe que legitimam a humilhação e a agressão dos caloiros, assim como a recusa do exercício do direito de objeção às práticas canalhas, porque não quer entrar em jogo. Com um original argumento: é presidente de todos, logo toda a merdice, mesmo que apenas de alguns, faz sentido. Ele não é polícia, argumento de quem não sabe mais, de quem não os tem no sítio.
Ainda do lado dos adeptos das praxes, como foi penoso ver um professor de direito, populista e demagogo, argumentar que não basta que se chame de praxe a uma coisa para que a coisa seja praxe, ele que por experiência sabe que, a tudo quanto foi denunciado, os estudantes chamam mesmo praxe, isto é, a praxe é mesmo aquilo: a humilhação, a agressão a diversos níveis, o argumento da autoridade entre pessoas que se deveriam ter por iguais, e tudo isto a pretexto da integração daqueles que chegam às universidades pela primeira vez.
A televisão permite isto: exibir a todos uma realidade, uma medonha e triste realidade.
Sou, felizmente, do tempo em que não havia praxes por Lisboa. Nem trajes, nem queimas das fitas ou outros carnavais, salvo aquilo a que se chamava viagens de finalistas, um prémio. Sou do tempo em que ser trabalhador estudante não tinha qualquer proteção legal, pelo que tinha que compensar no emprego todo o tempo gasto com aulas ou exames, com ausências sempre sujeitas a autorizações prévias, com os dias de férias no trabalho gastos na preparação de exames. Sou do tempo em que eram escassos os apoios sociais, desde bolsas a residências universitárias. Por tudo isto não havia dinheiros para trajes e outros carnavais. Mas sou do tempo em que algumas academias, particularmente a de Coimbra, fazia abanar o regime, com riscos para os corajosos, desde a antecipada incorporação militar na altura das guerras coloniais, às expulsões e mesmo a prisões. Assim como sou do tempo de iniciativas solidárias dos estudantes da academia de Lisboa aquando das cheias em que gente sem nada perdeu a vida e haveres nas localidades ribeirinhas do Tejo.
E também sou do tempo da coragem do Alberto Martins na inauguração do Edifício das Matemáticas em Coimbra e que o atual presidente da AAC trouxe à baila naquele debate como se de uma praxe se tratasse, como o fez quanto às serenatas.
Sou do tempo em que era inimaginável que as cervejeiras se atrevessem a investir nas nossas bebedeiras através de patrocínios celebrados com as associações académicas.
Eram outros tempos e outras gentes. Agora, as gerações tidas por mais bem preparadas, apostam na rasquice comportamental, noutros bem diferentes valores. E já chegaram ao poder. E isso é que nos trama e continuará a tramar a vida. E isto basta para que não possa haver qualquer tolerância com os desmandos das praxes.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Galeria de cromos


Este cromo atinge este estatuto aos mais variados níveis. Um vozeirão que dá cabo dos tímpanos de um elefante e com que pretende abafar os seus interlocutores, um físico e postura a lembrar um elefante numa loja de porcelanas. Um populista e demagogo, qual coronel barrigudo de uma daquelas antigas ditaduras da América Latina e que alcançava o poder com discursos a favor dos descamisados para, depois, não vestir outra coisa que não sejam camisas de seda.
E foi assim que se tornou conhecido e se fez bastonário de uma ordem de proletários, situação de que parecem ser culpadas as sociedades de advogados, sociedades onde nunca teria lugar, porque até a filha preferiu trabalhar com um muito mais decente ex-bastonário.
Perdida a mama da “bastonança”, eis que se candidata, não a presidente de uma junta de freguesia, mas ao equivalente, na política, das grandes sociedades de advogadas que tanto combateu: a deputado europeu. Com o apoio de um partido que nem por ser contestatário é conhecido, porque nem é uma coisa nem outra: nem é contestatário, nem é conhecido. Mas serve às mil maravilhas como barriga de aluguer para um bebé que rebentaria com a parturiente, se alguma coisa fosse dada à luz.
Sim, é verdade. Nunca simpatizei, um pouco que fosse, com este cromo: invejoso, reacionário, populista, demagogo. Que nada deixou depois de dois mandatos na “bastonança” dos advogados. Bem pago.
Mas tenho agora mais uma razão para abominar este nojo, depois de ler uma crónica de um respeitável advogado dos tempos em que havia alguns que ousavam defender, gratuitamente e com muitos riscos, presos políticos da ditadura salazarista-marcelista. E relata tal advogado, cujo nome recordo desses tempos, o seguinte: em 2008, José Augusto Rocha, o advogado em causa, propôs, na sua qualidade de presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados, a atribuição do Prémio Ângelo Almeida Ribeiro – outro brilhante advogado e ex-bastonário – aos advogados que defenderam os presos políticos nos Tribunais Plenários. Tal proposta foi rejeitada pelo Conselho Geral da Ordem presidido por este cromo e, quando José Augusto Rocha insistiu, este populista e demagogo reafirmou a posição do Conselho Geral e mais: proferindo “considerações com laivos de verdadeiro “negacionismo””.  
Face a isto, José Augusto Rocha demitiu-se. O cromo manteve-se como bastonário, a falar grosso.
A AO teve um merdoso em dois mandatos. Infelizmente a atual bastonário, herdeira política do cromo, integrava na altura o Conselho Geral. E, se calhar, fará a gestão da presença de um fantasma que agora se candidata a deputado europeu. Temo que a AO tenha ficado assombrada.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Leituras em dia: "Luz Antiga" de John Banville

Já convencera muitos com “O Mar”, Man Booker Prize 2005. Este agora, um dos melhores de 2013, tem um registo intimista muito próximo daquele, “uma meditação sobre o amor e a perda”, sobre as memórias que a imaginação inventa e “as memórias que inventam o homem”.
Um livro que se lê pelo simples prazer de ler. Está lido. Com muito prazer.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Este país foi-se!


O patético presidente em exercício pedia, a quem se manifestava nas galerias, respeito pela Assembleia da República. Respeito, imaginem.
O quê? Deveria escrever pateta e não patético? Devem ter razão: fica, então, pateta.
Isto baixou ao nível da pouca-vergonha, da mais abjeta indecência. E nada de poupar em adjetivos na miséria a que se assistiu. Aquilo foi um nojo, jamais visto.
A AR, a chamada casa da democracia, tinha aprovado na generalidade um projeto de lei que permitia a coadoção por casais homossexuais. Verdade que surpreendeu que, entre a reacionária direita, tivesse havido quem ousasse votar a favor de tal projeto.
A partir daí, passou-se à apreciação na especialidade, tendo sido ouvidas personalidades tidas como competentes para ajudar os deputados a fundamentar a sua decisão. Também nisto, talvez para surpresa de muita gente, vimos pessoas insuspeitas, como é o caso de representantes do IAC, a dar a sua opinião favorável ao projeto.
Aqui os ultramontanos entraram em pânico e tiveram que arranjar uma saída: um referendo sobre uma matéria que já estava em discussão na AR e com aprovação na generalidade, uma coisa nunca vista. Como se num referendo aquela canalha pudesse ficar melhor esclarecida, quando já tinha ouvido quem quis ouvir sobre a matéria. Como se os votantes no referendo disponham de melhor informação que aquela que a canalha obteve em audições na AR.
Claro que a canalha não se dá conta de que é exatamente assim que se desprestigia um órgão que o tal patético presidente em exercício – está bem, um pateta – quer ver respeitado. E, em vez de acossar a polícia contra os colegas do seu partido, ameaça com ela quem não consegue travar a indignação, tal a pouca vergonha exibida num órgão permanentemente enxovalhado por membros seus.
Este vale tudo tinha que ter consequências, desde a demissão de uma vice-presidente da bancada do partido maioritário, ao anúncio indignado de declarações de voto de uns quantos deputados que fizeram questão de afirmar terem sido obrigados a votar contra a sua consciência, em matéria de consciência, e isto quanto na votação na generalidade tal não foi, e bem, imposto.
A iniciativa do referendo é da jumentude – não é erro – do PSD como, no congresso do CDS, a congénere jumentude – não é erro – ousou sugerir que a escolaridade obrigatória retrocedesse de 12 a 9 anos, com o argumento, imagine-se, da liberdade de escolha.
Com iniciativas desde género não admira termos, com a mesma origem, puros canalhas à frente dos destinos de um país que já era, que se foi. E que só recuperará a decência correndo com ela, nem que seja a tiro.
 

A fina flor do entulho


Um estrangeiro que tenha uma mala de dinheiro pode obter um visto gold e, com ele, autorização de residência. Basta que compre uma casa de valor superior a 500 mil euros ou que proceda a uma transferência de capitais a partir de um milhão de euros. Uma questão de dinheiro, que o dinheiro compra tudo e, no caso, satisfaz plenamente, por si só, a pouca vergonha da nossa canalha.
E aí temos a fina flor do entulho, se tivermos em conta a proveniência e a aplicação dos capitais que se regista, não havendo informação de que tenha havido investimento na chamada economia real criadora de emprego, mas apenas animação do mercado de imobiliário, já que mais de 90% dos capitais entrados foram aplicados na aquisição de habitações.
Abram então alas para chineses, russos, brasileiros, angolanos, sul-africanos… exatamente aqueles com quem devemos agora contar para fazer crescer a nossa economia, à conta do turismo residencial que há quem apresente como o petróleo de Portugal, um país que não existe, uma país que se foi à conta das canalhices dos sem vergonha no poder.
Nota: dados recolhidos no PÚBLICO de 16-01-2014.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Os Condes da Estrela


O apelido Conde vale o que vale, mesmo que um qualquer pé descalço pretenda que o apelido também passa a título na pia batismal e mesmo que, cumulativamente, faça recurso a uma qualquer família Conde que veio por aí abaixo nos tempos do Condado Portucalense, tendo deixado umas sementes na zona da Estrela, sementes que desabrocharam em pleno século XX, germinadas por grandes doses de ridículo.
Mas pensava eu que isso de Conde tinha apenas a ver com o António, senhor de imensos recursos na arte de reescrever a história, ao ponto de dar a minha terra como terra de Viriato, com argumentos impossíveis de ultrapassar: uma das ruas mais antigas tem o nome de Viriato, o povo é da mesma opinião desde apaniguado do historiador de alto gabarito como era Hermano Saraiva e, além disso, em tempos terá mesmo existido a intenção, falhada, de se erigir uma estátua ao pastor dos Montes Hermínios. Reconheça-se que argumentar assim não é para qualquer um.
Ora acontece que hoje dou com um mano Zé em foto de perfil no FB, inchado de vaidade e muito compostinho ao lado de Sua Alteza Real Dom Duarte Pio – o respeitinho é muito bonito -, e isso só me permite a conclusão de aquilo ser mal ou defeito de família e que passou incólume às vacinas da época.
Assim sendo, temos já dois condes, ou seja, a minha terra corre o risco de ter albergado, embora sem proveito e, talvez por isso, sem reconhecimento, um ramo da nobreza.
Agora só falta integrar tais condes na família deste que um dia se afirmou visconde por ser duas vezes conde, se calhar de Castelo e de Branco. E estariam bem uns para os outros, abençoados pela cativante Betty.
Seria ridículo a mais, mas só se estragaria um palácio.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Um casamento em Alcântara




Nunca mais tinha entrado nesta igreja - a paroquial de Alcântara – depois de um casamento. O do Zé Manel e da Isabel, admito que sem flor de laranjeira – a memória não dá para tudo –, mas com algum pagode à volta, pois éramos muito gozões. Aquilo parecia quase irreal, para os mais próximos, os amigos do casal, igualmente muito próximos na idade, com vivências ousadas numa fase que antecede de perto o 25 de Abril.
Nenhum de nós, os próximos na idade, laicos de todos os costados e não apenas de sete, imaginávamos vê-los a casar numa igreja, depois de muitos Marxs e outros que tais lidos e discutidos. Mas havia uma boa razão, que todos compreendemos: a saúde debilitada da mãe da Isabel, mãe de muitos outros filhos, sem um só que não tivesse casado pela igreja. E a senhora muito penaria com uma exceção que agora se abrisse.
Claro que, no decurso da cerimónia, nos olhávamos com ar de caso, de gozo mesmo, sobretudo reparando nas reações – na falta de jeito para aquilo - do Zé Manel, penando com aquele compromisso histórico entre as convicções e as conveniências. Sem prejuízo da nossa compreensão, muita.
No decurso da cerimónia atámos latas e mais latas ao veículo dos noivos, de forma bem dissimulada, veículo com que na véspera se fez um peão em plena Calçada da Tapada, rua da igreja e da casa dos pais do Zé Manel, e com o risco de sérios inconvenientes para a cerimónia do dia seguinte. Depois foi só apreciar o efeito até ao restaurante Cova da Moura, para um… fondue de carne.
A malta era mesmo original, no mínimo diferente e muito gozona…
Já agora: só ontem reparei como a igreja é bonita, muito bonita. Uma Basílica da Estrela em ponto pequeno. Na altura estava muito distraído com outras coisas...
 

A Miúda de Alcântara



Na altura estava pelo Porto, um período de 5 anos. E havia um colega com relações muito próximas da família Mota, a família de Marina, uma família de Alcântara. Numa deslocação a Lisboa, o meu colega convidou-me para jantar, após o que fomos até casa dos pais da Marina e daí até ao local onde então cantava a Miúda de Alcântara, suponho que o Timpanas, uma noitada.
Ontem, por ali vadiando, recordei este episódio que o disco então oferecido também testemunha.
Estávamos em 1976, a Marina tinha 14 anos, uma catraia. Mas talentosa.