“É isto uma academia?
Um jovem foi assassinado num evento da Federação Académica
do Porto e nem essa trágica ocorrência foi capaz de parar a máquina de festas
em que se converteram as queimas das fitas. Onde há orçamentos de milhões de
euros, não há espaço para a comoção, para a solidariedade, para a criação de um
verdadeiro espaço de comunidade. Por aqui, não se espere nada desta geração
universitária. O que os move é o dinheiro dos patrocínios que, em bom rigor,
ninguém sabe se é ou não devidamente contabilizado e controlado. Uma academia
que não para em sinal de homenagem a um dos seus membros activos baleado numa
das suas festas, uma academia que gere milhões de euros sem que conheçam
grandes desígnios na esfera da responsabilidade social ou no auxílio dos seus
membros mais pobres é uma excrescência do verdadeiro espírito da universidade. Não
tendo qualquer utilidade pública, acabe-se com as federações académicas e
afins. O negócios dos agentes de concertos e das bebidas sentirá alguns
efeitos; a universidade e o país, não.” in Editorial do PÚBLICO de 07-05-2013.
“(…) Não sei se o assalto resultou da actual “conjuntura
difícil”. Do que não tenho dúvida é que a chocante posição da Federação
Académica do Porto resulta, ela sim, desta “conjuntura difícil”, que está longe
de ser apenas conjuntural, e não é alheia a uma desvalorização da vida, das
pessoas, da solidariedade e dos sentimentos em geral, que constitui o cerne da
filosofia neoliberal que nos governa. Cortar a pensão de uns velhos doentes ou
condenar trabalhadores à pobreza é tão fácil como ir festejar para o local de
um assassinato quando o sangue ainda não secou no chão. (…)" in Crónica de José Vítor Malheiros, PÚBLICO de 07-05-2013
Um apontamento de memória: quando foi das cheias de 1969, a
Academia de Lisboa organizou-se para operações de auxílio e apoio às populações
afetadas, mas de forma clandestina, pois estava-se perante uma enorme tragédia
que o regime de então quis negar e esconder.
Hoje, em situação semelhante, não acredito que as diversas academias
do país se incomodassem do mesmo modo de então.
* Expressão retirada da crónica de José Vítor Malheiros
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