O corpo de Shahina é retirado dos escombros do Rana Plaza - Foto AFP
Shahina tinha migrado para Daca com o irmão Jahirul para, na altura,
conseguirem pagar um empréstimo que a mãe de ambos contraira para poder ser
operada à vesícula. Empréstimo no valor de 5.000 taka, o equivalente a 45 euros
mas que, com os juros, tinha subido para 70.000 taka. Deixou assim os campos de
Bangladesh para se instalar nos subúrbios miseráveis de Daca e encontrar
trabalho nas fábricas têxteis da capital.
Shahina era uma das cerca de 3.000 pessoas que trabalhavam
no Rana Plaza, um edifício de 8 pisos, construído sem licenças e que ruiu,
havendo já o registo de 406 mortos e 149 desaparecidos.
Shahina tinha casado por amor, sem autorização dos parentes,
mas enviuvou quando estava grávida de Robin a quem queria garantir uma via bem
melhor que a sua, acalentando o sonho de o ver médico ou engenheiro. Ganhava
4.200 taka por mês, o equivalente a 40 euros, mas com as horas extraordinárias
podia alcançar um extra de mais 2.000 taka. Para isso trabalhava muito, frequentemente
das 8 da manhã às 10 da noite e, por vezes, a noite toda.
Shahina sobrevivia à tragédia há 110 horas, presa entre escombros
e cadáveres, esperando sair dali viva para poder ir ao encontro do seu
filho. Mas um acidente transformou num braseiro o local em que se encontrava. E
Shahina passou num ápice ao registo dos mortos desta grande tragédia.
Entre nós, se calhar encostados aos nossos corpos, andam
roupas com origem neste contexto de terror em que se trabalha no Bangladesh, em
que trabalhava Shahina. Apenas porque vale tudo para quem engorda e se empanturra
à custa de salários de miséria, de ausência de direitos, numa completa
escravidão.
O pequeno Robin já perguntou pela mãe, sem saber que já não a verá mais.
O caso teve honras de enorme cobertura mediática mas, como
sempre, certamente que apenas por uns dias. O seu esquecimento está já alinhado
nos órgãos de informação. Fez notícia. Ponto final.
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