sábado, 17 de dezembro de 2011

Um ídolo com pés de barro


Ainda na condição de iniciado ou juvenil, Figo admite, na entrevista dada hoje ao Público, ter dito a um dirigente da Federação que se não houver dinheiro, não há palhaço. Depois, até ao final da sua carreira desportiva, foi o que se viu, ao ponto de em Espanha, para os adeptos da Barcelona em que foi capitão, não ser mais que um pesetero, única motivação para a sua transferência para o rival Real Madrid.
Mas, afirma Figo, isto não era mais que o regular funcionamento dos mercados.
Por cá as coisas não lhe estarão a correr bem, e esta entrevista faz-me lembrar aquela ameaça “segurem-me se não mato-me”. E vai deixando umas achegas, a primeira das quais é um ataque a Sócrates, a par da queixa de não ser reconhecido o estatuto de utilidade pública à sua Fundação que, frisa, não se destina a lavar dinheiro.
A quem interesse: Figo não tem partido e tem uma péssima opinião dos políticos, e não apenas dos portugueses.
Uma ameaça teremos que levar muito a sério: Figo vai vender todas (?) as suas empresas em Portugal. E isto vai obrigar Gaspar a rever em baixa os indicadores do quadro macroeconómico do OE de 2012.
Mas tudo bem. Vai Figo, pois se o retrato já não era favorável, agora ficou uma desgraça, coisa que bem se dispensa nos tempos de hoje.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Lendo Tony Judt


“A seriedade moral na vida pública é como a pornografia, difícil de descrever mas imediatamente identificável quando a vemos. Descreve uma coerência de intenção e ação, uma ética de responsabilidade política. Toda a política é a arte do possível. Mas também a arte tem a sua ética. Se os políticos fossem pintores, tendo FDR [Franklin Delano Roosevelt] como Ticiano e Churchil como Rubens, então Atlee [Clement Atlee] seria o Vermeer da profissão: preciso, contido – e durante muito tempo subvalorizado. Bill Cliton poderia aspirar à dimensão de Salvador Dali (e julgar-se elogiado pela comparação), Tony Blair à posição – e cupidez – de Damien Hirst.”

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Eden - Park - Mindelo - Daniel Blaufuks


Estava na cidade do Mindelo quando o documentário de Daniel Blaufuks, sobre o cinema Eden – Park, foi ali apresentado.
E, certamente, era este o aspecto do cinema na década de 40 inícios da 50 do século passado quando o cinema era uma paixão de muitos na ilha de S Vicente. Porque, para sair da ilha dois caminhos estavam disponíveis, como se diz no documentário: um, o mar, o outro, o cinema.
E havia mesmo produção local de filmes, mesmo que houvesse apenas um cavalo para um fita sobre cowboys e índios, obrigando a que o mesmo cavalo fosse pintado de preto, numas cenas, e de branco, noutras. E o mesmo personagem podia ser morto mais que uma vez, bastando que se aproveitasse a mudança da posição da câmara para se passar por detrás dela e surgir de novo para levar segundo ou terceiro… tiro oriundo de uma pistola que, também ela, rodava de mão em mão.
A paixão pelo cinema era tal que se punha luto pela morte de um actor preferido e eram mesmo apresentadas condolências por parte de outros amigos cinéfilos ao assim enlutado.
Na altura Mindelo tinha um outro cinema. Hoje, nenhum. E isso é que faz pena. O Eden – Park, ali na Praça Nova, lá vai resistindo, mas está agora muito mal tratado, em ruínas.
E recordei o documentário que é uma ternura a partir da Pública de 11 de Dezembro, onde Daniel Blaufuks responde ao habitual inquérito de MEC, Mexia e Diogo Quintela.