terça-feira, 27 de março de 2012

“… o meu marido adora cachuchos.”


Eu não. Mas adoro ler Natália Nunes de quem encontro livros com edição de uma editora de referência, ou de catálogo, a “Relógio D’Água”, livros como que ao desbarato.
No caso da “Assembleia de Mulheres” bem se pode dizer que é verdade que nas obras de um escritor há sempre experiência vivida, como afirmava Natália Nunes. De facto, ao ambiente do enredo do livro não será alheia a profissão de bibliotecária – arquivista exercida pela autora, embora aqui se trate do contexto de um museu da farmácia, com uma exploração inteligente do que são as pequenas intrigas fundadas apenas nas invejas, despeitos e preconceitos, tudo descrito com recurso a uma técnica original na altura, anos 60 do século passado.
“… Quando chegámos a casa, às quatro da manhã, fomos ao frigorífico, esfomeadas. Ó filhas, nós não gostamos da comida mascarada. O tal célebre guisado de tartaruga, que eles servem com aquele espavento todo, aqueles criados vestidos de polinésios e a música exótica… Não presta absolutamente para nada. E a salada de agriões com bagos de romã e pinhões… um horror. O que nos valeu foram os cachuchos do frigorífico – o meu marido adora cachuchos.
(pag 142 da 2ª edição)

segunda-feira, 26 de março de 2012

Afirma Tabucchi


António Tabucchi (1943 – 2012)

“As dúvidas são como manchas na camisa lavada de branco, e a tarefa de cada escritor é suscitar dúvidas, porque a perfeição gera ideologias, ditadores e ideias totalitárias”.
“Um milímetro a mais para um lado e és um herói, um milímetro a mais para o outro e és um cobarde”.
“ Deveria ter-lhe custado muito [a Judas] denunciar Jesus. Mas graças a isso Cristo pode ressuscitar. Se não houvesse Judas, Cristo teria vivido até aos 80 anos”.
“É uma das maiores desgraças que pairam sobre o mundo. As pessoas que estão no poder, sobretudo, devem pensar que nunca vão morrer. É por essa razão que são tão estúpidas. A modernidade elidiu a ideia da morte. É uma omissão incrível. Deveria ensinar-se Aos miúdos, na escola, da maneira mais natural, que temos de morrer. Mas a nossa sociedade escondeu totalmente a ideia da morte. Em compensação, porém, estamos cheios de cadáveres. É só abrir a televisão. Como pode funcionar bem uma sociedade em que há muitos cadáveres mas não há a ideia de morrer?”.

quinta-feira, 22 de março de 2012

À saúde dos estarolas…


O IABA – o imposto sobre o álcool e as bebidas alcoólicas – é o único imposto indireto relevante cuja receita cresce, segundo o Público de hoje.
E não se trata de beber para esquecer. Tenho por certo que todos temos boas razões para comemorar os êxitos deste nosso governo de estarolas, com mais um copo.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Só à bastonada

Quando em Dezembro passado foram criadas as taxas moderadoras para atos de enfermagem, a então bastonária rejubilou, de forma estranha, afirmando que isso significava o “reconhecimento claro e inequívoco” dos cuidados prestados pela classe de enfermeiros.
Na altura comentei que os enfermeiros iriam pagar por isso.
E cá temos, agora – Público de hoje -, o novo bastonário a reconhecer a evidência: muitos utentes estão a abandonar os tratamentos, com as inevitáveis consequências: redução da qualidade de vida, maior taxa de infeções, mais readmissões hospitalares.
E não deve tardar para que os enfermeiros sintam na pele o efeito: o ajustamento do número de profissionais nos serviços do SNS à redução dos seus utentes.
Se assim for, a medida do ministro fui duplamente estratégica: mais receita, redução das despesas de funcionamento. Quanto então apenas se admitia a primeira como objetivo.
O atual bastonário queixa-se de que a sua ordem não foi então ouvida sobre a medida. Mas a reação da sua antecessora significou bem que tal não era, para ela, necessário.