quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Névoa, Soares, Melícias, Zita…


Que há de comum?
Névoa é o tal da Bragaparques envolvido numa tentativa de corrupção do vereador Sá Fernandes por que foi condenado. Já antes esteve envolvido noutro caso em confessou que os 50 mil euros entregues a um vereador do PS em Coimbra não eram mais que um empréstimo. Só que o tribunal não foi na conversa e o vereador foi condenado a 3 anos de pena suspensa, mas Névoa safou-se.
Soares era presidente da CML quando Névoa entabulou negociações visando a permuta dos terrenos do Parque Mayer pelos da antiga Feira Popular, em que os ganhos ficavam escandalosamente do lado de Névoa, negócio que merecia a oposição de Sá Fernandes, razão para a tal tentativa de suborno.
Apesar de conhecer este passado de Névoa, Soares apresentará a sua biografia, editada pela Zita, porque Soares sempre acreditou na honestidade de tal sujeito, para si "um homem de trabalho", argumento ao nível de um imbecil.
Por sua vez, Melícias estará presente na apresentação de um benemérito que, afirma, muito tem ajudado instituições de solidariedade social, o que justifica a absolvição de qualquer canalhice.
No final, imagino, sai croquete e taça bem fresquinha. E nenhum deles se esquecerá de quanto deve aos demais, em bondade, estima, esquecimento ou perdão dos pecados, pois a vida para certa gente é isto: olhar para o lado, assobiando.
Uns merdosos.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Cafés, jornais e declarações de amor

 
Nesta “Antecipação”, Maria Teresa Horta faz uma declaração de amor a Luís, que conhecia há cerca de dois meses, em encontros de café, entre amigos. Luís, embora admirado por Teresa, tolhia-se porque um seu amigo confessava amar Teresa, e não o queria trair. Mas Teresa estava de facto atraída por Luís que admirava por muitas e boas razões.
Teresa decide então declarar-se com este conto publicado no Diário de Lisboa de 16 de Maio de 1963, a que se seguiu um convite a Luís para a festa dos seus 26 anos, a vinte de Maio. E começou um romance que se mantém.
Nem tudo sendo igual, vivi cenas parecidas na década de setenta do século passado, num café do Porto. Mas a declaração não veio sobre a forma de um conto num jornal. Mas um jornal, no caso O JORNAL, foi o pretexto usado perante quem não desatava o nó e igualmente se tolhia há longos, longos dias. Com um “posso ver o seu jornal” começou um lindo romance. Juro que foi assim.
Da bonita história da Teresa fiquei a saber hoje. E rapidamente a liguei ao que caso que bem conheço.

domingo, 15 de setembro de 2013

Leitura em curso

(…)
“Apesar dos sinais evidentes da degradação da situação económica e social, a Troika e o governo, com o apoio do presidente da República, não hesitam em prosseguir a via estabelecida no Memorando de Entendimento. Não é por simples teimosia ou negação da realidade que isto sucede. Na verdade, embora hesitem em admiti-lo, na perspetiva do governo e da Troika a estratégia em curso está a ser bem-sucedida no que é fundamental, ou seja: produzir alterações profundas, em muitos casos dificilmente reversíveis, no funcionamento da sociedade, da economia e do Estado. Privatizações, desregulamentação do mercado de trabalho, redução da fiscalidade sobre as empresas, degradação dos serviços coletivos, erosão do sistema público de pensões – estes são ingredientes de um programa de governação que não foi sufragado pelo povo português nas urnas. Para aqueles que defendem uma economia e uma sociedade inteiramente entregues às lógicas do mercado, a profunda crise em que Portugal e outros países europeus se encontram constitui uma oportunidade histórica para impor a agenda política que sempre defenderam – e que dificilmente conseguiriam fazer passar em condições normais de funcionamento das democracias.” (…)
E isto, nas páginas 12 e 13, basta para prosseguir animadamente a leitura de um livro que tem um índice cativante, um formato que cabe no bolso, bom grafismo e cuja leitura vai convidar a sublinhados e notas nas margens. E, claro, escrito por gente que sabe da matéria que está na ordem do dia e respeita à vida de todos.
Comecei agora, mas já deu para me convencer do que digo.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Investi 8 euros em 3 livros...




Hoje fui ver o núcleo da Igreja e Museu de São Roque de “A Encomenda Prodigiosa”, faltando-me agora o do MNAA.
De passagem entrei na livraria das Edições Cotovia e investi a prodigiosa soma de 8 (oito) euros em:
- “Menina Else” de Arthur Schnitzler, 1 (um) euro;
- “Solte os Cachorros” de Adélia Prado, 1 (um) euro;
- “O Dever de Memória” de Primo Levi, 5 (cinco) euros.
Fiquei sem coragem para entrar na Trindade, logo ao lado, e beber uma bejeca, com receio de me pôr a fazer comparações e, a partir daí, beber demais. Parei mais à frente e fiquei-me por uma bica, quase um livro.
Já agora: há muitos mais livros em promoção e vou voltar.
Bóra lá, gente, que há editoras que merecem todo o nosso apoio e que nos apoiam também.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Um panteão de segunda...


Parece que ninguém lhe pegou na ideia, mas o povo é assim, ingrato.
Qual ideia? A de se criar um cemitério nacional para quem morra ao serviço do país: bombeiros (causa próxima da sugestão), polícias, militares e outros agentes do Estado.
Ideia de quem? Do deputado Ribeiro e Castro. E qual a profunda motivação? “Seria uma forma de gratificar as famílias que perderam o seu ente querido e é uma homenagem que fica para sempre”. E isto, lembra Ribeiro e Castro, tem tradição nos Estados Unidos, logo...
E dos vivos, da família que fica, cuida quem? Não seria prioritário cuidar dos vivos?
Acabada a silly season, retoma-se a silly season. É a vida.

domingo, 1 de setembro de 2013

Poemas de sempre - Wislawa Zsymborska

Wislawa Szymborska - Nobel da Literatura em 1996

CONTRIBUTO PARA AS ESTATÍSTICAS
Wislawa Szymborska

Em cem pessoas,

sabedoras de tudo melhor-
cinquenta e duas;

inseguras a cada passo-
quase todo o resto;

prontas para ajudar,
desde que não demore muito-
quarenta e nove;

sempre boas,
porque não conseguem de outra forma-
quatro, talvez cinco;

dispostas a admirar sem inveja-
dezoito;

constantemente receosas
de algo ou alguém-
setenta e sete;

aptas para a felicidade-
vinte e tal, quando muito;

individualmente inofensivas,
em grupo ameaçadoras-
mais da metade, com certeza;

cruéis,
por força das circunstâncias-
é melhor nem sabê-lo,
nem aproximadamente;

com trancas na porta depois da casa roubada;
quase tantas como
aquelas que têm, antes da casa roubada;

não levando nada da vida a não ser coisas-
quarenta,
embora preferisse estar enganada;

agachadas, doloridas
e sem lanterna no escuro-
oitenta e três,
mais tarde ou mais cedo;

dignas de compaixão-
noventa e nove;

mortais-
cem em cem.
Número, até agora, não sujeito a alterações.

Tradução Elzbieta Milewska e Sérgio Neves
 
Do livro "Instante", uma das pérolas encontradas nos stands da Relógio de Água na última feira do livro, graças a uma dica que alguém dava a alguém ao meu lado.

O farsolas enquanto canalha


Diz o desgraçado PM que o mais recente chumbo do TC não se deve à Constituição da República Portuguesa, mas à interpretação que dela fazem os juízes do TC. Claro que, neste seu afã, até se esquece que chegou a encomendar um projeto para a revisão do texto constitucional e no qual constava o afastamento da justa causa para os despedimentos, coisa que o TC invocou para lhe chumbar a original mobilidade especial. Ora, a ser assim, não se trata de um problema de interpretação mas de um texto claro contra os desmandos de um demente.
Mas isto não é de um inepto, de um incapaz, de um mero ignorante. Isto é próprio de uma mente canalha, bem canalha, que gostaria de ter juízes a interpretar do mesmo modo que ele, canalha, interpreta, na ação governativa, o programa eleitoral e as promessas feitas antes de eleito: que não haveria despedimentos na FP, que não haveria corte de salários, corte de subsídios, aumento de impostos e outras coisas mais.
Que jeito lhe não daria ter como juízes do TC tipos da estirpe do cônsul honorário da Bielorrússia Marco António da Costa e do chefe de cerimónias Zeca Mendonça que, embevecidos, ouviam os dislates canalhas do farsolas.
É mesmo azar ter por lá quem, reconhecidamente, sabe da matéria, pelo tempo dedicado ao estudo, enquanto o canalha vivia à sombra do padrinho Ângelo e esmifrava fundos públicos para a formação do pessoal dos aeródromos desativados.