quinta-feira, 30 de maio de 2013

Nem tudo o que vai à CRESAP é peixe...

O ministro Crato e a SE do Tesouro viram chumbados, pela Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (CRESAP), dois nomes que propuseram para a gestão da Parque Escolar e que, certamente, não mereciam, a quem propôs, qualquer reserva. Um deles esteve na Refer quando a SE do Tesouro era ali diretora financeira. E qual a apreciação feita da pessoa em questão pela CRESAP? Pois que se trata de alguém com “um percurso profissional, sobretudo a partir de 2003, muito assente na exploração de oportunidades surgidas através da sua rede de contactos pessoais” e que “é muito intolerante com as pessoas menos dotadas”. Sobre o outro candidato concluiu a CRESAP que “não há evidência de um gosto pelo trabalho em equipa” mas sim uma preferência pela “autovalorização pessoal, nomeadamente através de prestações de informações não totalmente precisas e claras”.
Se os propostos saírem a quem os propõe, estamos feitos. E como estes candidatos, a propósito de redes e tráficos de influências, me lembraram o ex-licenciado Relvas…

Ora toma, durão banhoso!

Tem a mania que é durão, mas há quem o seja mais. Este pacóvio, admitindo falar com Passos ou Gaspar – que tudo papam – afirmou que os dois anos dados a França para consolidar as suas contas deveriam ser aproveitados de forma “sensata” como se ele fosse mestre em sensatez, e arrogando meter-se onde não é chamado, coisa para o que lhe sobra tempo por não fazer o que era pressuposto que fizesse. Teve por isso que embrulhar a reação de Hollande que lhe respondeu “A Comissão não tem que ditar o que temos a fazer. Apenas tem que de dizer que a França tem de consolidar as contas públicas” e ainda “Sobre as reformas estruturais, nomeadamente a reforma das pensões, cabe-nos a nós, e a nós apenas, dizer qual é o caminho certo para atingir o objetivo”.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Leituras em dia : "Agosto" de Rubem da Fonseca

Gostei de ler este "Agosto" a diversos títulos. Aprecio este autor cada vez mais jovem nos seus quase 90 anos. Depois, estamos perante uma trama certamente ficcionada, mas centrada em acontecimentos registados historicamente, particularmente no que respeita à golpada militar que levou ao suicídio do presidente Getúlio Vargas, em Agosto de 1954. Com a preocupação de registar o envolvimento ou participação ou mera recordação de políticos registados na minha longínqua memória: Juscelino Kubitschehk, João Goulart, General Castelo Branco e Tancredo Neves que vieram mais tarde a ser presidentes do Brasil; o mais que polémico Carlos Lacerda, com um ego que quase o estoirava e que era capaz do pior nas perseguições a políticos que não fossem da sua simpatia; Dom Hélder da Câmara que veio a ficar conhecido, mais tarde, como o arcebispo vermelho, quando exercia o seu múnus em Olinda – Recife. E ainda o magnata da imprensa Assis Chateuabriand e Luiz Carlos Prestes, secretário – geral do PC brasileiro.
Isto misturado com o combate ao crime comum por parte do incorruptível comissário Mattos, no fundo a figura do romance, embora com o estatuto de herói vítima de morte violenta. E é nestas incursões no mundo do crime e do seu combate que Rubem da Fonseca tem obra que o destaca, quase sempre com um indispensável grãozinho de sexo ou de erotismo.
Na altura, uma das tarefas burocráticas da polícia sistematicamente referenciada é a emissão de atestados de pobreza. Quanto a isto, o Brasil regista progressos significativos a partir da presidência de Lula, bem ao contrário do que se vai passando connosco, que vamos empobrecendo a olhos vistos.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Cenas da Feira do Livro 2013


Há coisas assim, que nem o acaso consegue explicar, porque nunca o consegue. Admito que a localização dos stands seja objeto de sorteio. Mas aqui andou mãozinha, quando o sorteio dá azo a esta secção de… bíblias. Votos de coexistência pacífica.
 

domingo, 26 de maio de 2013

O Buraquinho

Éramos uns quantos, talvez uma dúzia, a frequentar o primeiro curso de analistas de riscos nos meus tempos do Porto e, a partir de certa altura, decidimos acordar nuns lanches, numas petiscadas. E foi assim que conheci O Buraquinho, citado entre outros seus congéneres de comes e bebes, com bons sabores e reduzidos preços, numa reportagem do Fugas / PÚBLICO de 25-05-2013.
O pretexto das nossas idas era o bucho, mas eu pedia rojões, depois de ver o que era o bucho. Só que um dia os meus rojões tardavam e aquela malta, como de costume, babava-se com o bucho. Decido então perceber por quê, provando. Como a vista me tinha enganado! A partir daí fiquei adepto, ao mesmo tempo que entendi o alcance do aviso bem visível a quem entrava: “Bucho para fora não se vende seja a que pretexto for”. Na verdade, o bucho era como que um petisco âncora para outras iguarias: as papas, o caldo verde, as tripas, os rojões, os enchidos, a broa de Avintes e… o verde tinto.
No topo nascente da Praça dos Poveiros, quase escondido, O Buraquinho é um pequeno espaço e talvez isso explique o nome. Mas para mim foi durante tempos uma tentação esta tasca agora com mais de oito décadas.
Que se aguente muito mais, de modo a poder ainda fazer o gosto ao passado.
 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Só à biqueirada... (2)

Reação de Luiz Pacheco quando soube, onde esteja, deste caso.
Para além do Bica do Sapato, os senhores administradores da Gebalis, à conta desta, frequentavam também o Gambrinus, o Porto de Santa Maria, no Guincho, e outros locais de “requinte gastronómico”, como é o caso do Búzio, na praia das Maçãs. E por que aqui? Porque um senhor administrador estava de férias e, para não ir a Lisboa – fica de facto muito longe – fez deslocar cinco ou seis trabalhadores da empresa para trabalharem com ele na praia das Maças, com direito a almoço que custou 338€ à Gebalis, isto é, quase 50€ ou mais por cabeça, conforme se trate de 6 ou 7 pessoas. É de ficar a arrotar toda a tarde.
Um outro administrador chegava a gastar 2.000€ mensais em refeições. E quando se perguntava porque não usava, para isso, a verba atribuída para despesas de representação, a resposta é que considerava tal verba como integrando o ordenado, logo intocável. Este mesmo administrador pagou com o cartão de crédito da Gebalis a aquisição do livro “O Grande Livro do Bebé – O primeiro ano de vida”. Para quê? Simples de explicar: a Gebalis ia criar creches. Mas qual o conteúdo do livro? Não sabia, porque não leu o livro que, aliás, também não foi encontrado na Gebalis. Já o MP3 igualmente comprado com o mesmo cartão de crédito era para ouvir música na sala do conselho de administração.
Um regabofe.
Mas o que me revolta é a falta de jeito e o descaramento com que se justificam estes desmandos. Só por isso, esta gente deveria ficar a pão e água no resto das suas vidas. Sem prejuízo do reembolso do que… roubaram e das inerentes penas.

Por onde anda o guito?

Com origem na fraude e evasão fiscais, o que anda por aí – offshores e paraísos fiscais – está estimado em 14 biliões de euros o que se traduzirá numa perda de receitas fiscais na ordem dos 120 mil milhões de euros.
Na UE dedicam-se a esta indústria países como Luxemburgo, Holanda, Chipre, Malta, Irlanda e Letónia, além de territórios ultramarinos ou associados de países ou dependentes de países europeus como Andorra (França), Gibraltar (Reino Unido) e Aruba (Holanda). No caso de Portugal, 19 das 20 empresas do PSI – as maiores – têm 74 sociedades com sedes em países com vantagens fiscais na comparação com Portugal, sobretudo na Holanda, mas também no Luxemburgo e na Irlanda.
O tema, pelo que tem de escandaloso, está permanentemente em agenda nas reuniões do G20 e nas cimeiras dos líderes da EU. Sempre para adiar qualquer decisão na reunião ou encontro seguintes.
E não vale a pena ter ilusões quanto a isto. Os governos e, por eles, os órgão da EU e outros organismos internacionais estão condicionados, senão reféns, dos interesses que se escondem por detrás desde biliões. Os governos, a EU e outros organismos internacionais estão ao serviço desses interesses e são com eles coniventes quando, como alternativa, exploram e roubam sempre os mesmos. Porque apenas os governos, a EU e outros organismos internacionais poderiam pôr termo a isto. A única justificação para não atuarem está no facto de comerem da mesma gamela, de terem direito ao estatuto de nababos, ainda que à conta de meras sobras. Este o preço da sua cobardia.
PS. Dados da ONG Oxfam, citados pelo PÚBLICO de 23-05-2013.

Só à biqueirada...

A Gebalis é uma empresa municipal que se ocupa da gestão dos bairros sociais, muitos deles degradados. Apesar das dificuldades financeiras da empresa, alguns antigos administradores entraram num fartar vilanagem: refeições em restaurantes de luxo, mesmo nos fins de semana e dias feriados, viagens ao estrangeiro, compras de interesse estritamente pessoal suportadas por cartões de crédito da empresa, um fartote, uma sem vergonha. Agora respondem em tribunal.
As desculpas para o regabofe são de desatar ao sopapo naquelas majestades. De facto, chegam a argumentar que tal se enquadrava na estratégia de modernização da Gebalis, de para isso cativar os intervenientes, por isso nada como vinho caro, uísque velho, mariscadas. Uma administradora chega ao desplante de justificar as comezainas no Bica do Sapato com isto “Tem uma grande vantagem sobre os demais, já que dispõe de estacionamento.”
Isto só mesmo à biqueirada.

Quando o mundo deixa de girar...


Numa reportagem da RDP, hoje à tarde, enquanto conduzia, fala-se de uma instituição cujo nome não fixei e que fornece produtos simples para as pessoas cozinharem em casa ou, a quem vive na rua ou em quartos, refeições prontas a comer. Neste contexto, a repórter vai à fala com um utente, procurando conhecer a sua situação, o que o obriga a depender desta solidariedade. É então que ouço isto, que só não sublinho como belo porque muito duro é o contexto de quem fala: “A minha vida é um mundo que deixou de girar”. Parei para a registar, não a queria deixar perdida no ar. Seria trágico que o mundo deixasse de girar; imagine-se agora a tragédia pessoal de quem sente o seu mundo parado.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O canalha dos trocos...

Há gente assim, e de um canalha só se esperam canalhices. E isto para ser simpático, para não o chamar de antipatriota, que ele nem deverá saber o que é isso. A ter pátria é as dos interesses, a dos mercados que nos sugam, a do mundo da finança que lhe suporta o estatuto de nababo. Tudo a compensar os fretes de traição.
De facto, como não explodir de ódio perante um governante que ousa afirmar o que se sublinha na notícia do site www.dinheirovivo.pt “O governante adiantou que, "ao nível do país, a mudança é ainda mais difícil", porque existem "grupos de interesse, lóbis, vozes minoritárias que beneficiam do 'status quo' e uma mentalidade conservadora"?
Mas este imberbe canastrão, que então se dirigia a uma plateia de investidores estrangeiros, não é capaz de perceber que as suas palavras podem ter o efeito contrário ao que pretende quando fala assim do seu país, dos seus empresários e dos portugueses em geral? Mas será que este canalha admite que qualquer dos presentes aceitaria que um seu governante se apresentasse deste modo perante estrangeiros?
Pelo mesmo canalha e no mesmo local foi ainda afirmado que "O mercado imobiliário teve alterações dramáticas nos últimos anos e sabemos que mudar é difícil e as companhias fazem tudo para resistir até ser, às vezes, demasiado tarde", pelo que "muitas empresas e pessoas só acabam com os maus hábitos quando enfrentam os choques". Como, sendo assim, não perceber as atitudes e discursos punitivos de certos países, a começar pela Alemanha?
Estamos feitos com gente desta, com estes dez mil-réis de gente… Deus andou mal quando distribuiu os craques pelo mundo. Este deveria ter sido destinado aos infernos, se o diabo fosse capaz de nos fazer o favor de o aceitar.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Não meremos isto...

Muitas vezes dou comigo a pensar que o gajo não tem amigos ou gente próxima que se sinta com coragem, pequena coragem, de lhe chamar a atenção, por exemplo, para aquele nó de gravata que só deve agradar ao próprio e à presidenta. Um nó de gravata marca específica dos manequins mais rascas da Rua dos Fanqueiros. Mas isso é um pormenor.
Fora daquela pose ereta e da cara de pau com que se apresenta, só o imagino a questionar o preço dos caracóis ou dos carapaus alimados cozinhados pela Dona Maria, ao mesmo tempo que congemina um projeto de uma capoeira anexa aos aposentos e que lhe permita as gemadas e os caldos de galinha, frescos e baratos.
Fora da família, as relações pessoais devem ser as que se limitam, do outro lado, ao tratamento por senhor professor, senhor presidente, chapéu na mão, espinha curvada. Não vejo que haja alguém capaz de um ó Aníbal, mas que merda é essa de meteres a Senhora de Fátima ao barulho seguido de já agora, vê lá se mudas de nó de gravata, ou então usa um lacinho. Não: não haverá nas suas proximidades gente tão amiga que lhe impeça as atitudes ridículas, o estilo piroso, a falta de jeito para o lugar. Menos ainda quem lhe diga, braço no ombro, anda daí, larga isto, vai gozar a casa da Coelha, as tuas reformas…
Alguém que é hoje ministro de Estado era objeto de um jogo nos seus primeiros tempos de deputado, quando o pessoal da AR tentava, na véspera, adivinhar a cor das cuecas que o deputado exibiria no dia seguinte. Isto porque o então deputado tinha o hábito de meter a camisa dentro das cuecas e, assim, permitir ver delas um pouco que fosse.
Mas este deve ter tido um amigo, uma amiga, que o alertou, embora apenas uns tempos depois. Cavaco vai continuar assim, gozado e bem gozado, de modo mais ou menos solene, tendo em atenção o cargo.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Inimputável, qual idiota de aldeia...

“(…) O que é espantoso é que parece ter-se instalado o consenso sobre Cavaco Silva: todos o tratam como tratariam o idiota da aldeia, com paciência e benevolência, às vezes com um sorriso de comiseração, sem esconder aqui e ali um lampejo de irritação, mas garantindo-lhe sempre a inimputabilidade que os costumes, a mora e a lei concedem aos pobres de espírito.
Cavaco deixou, pura e simplesmente, de ser (e de poder ser) levado a sério. Uma referência a Cavaco no meio de uma conversa é, forçosamente, um convite à mofa e aos gracejos. O que é grave, já que lhe cabem deveres de garantia do funcionamento das instituições democráticas que ele é, assim, absolutamente incapaz de cumprir, seja através de intervenções públicas ou de lanches privados. O que é grave, porque vivemos um momento de emergência nacional, de submissão a interesses estrangeiros e de traição aos portugueses que exigiriam a intervenção de um chefe de Estado. (…)”

José Vítor Malheiros, PÚBLICO de 21 de Maio de 2013

Poemas de sempre - "Congresso Internacional do Medo", Carlos Drummond de Andrade

 

Congresso Internacional do Medo, Carlos Drummond de Andrade

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas


domingo, 19 de maio de 2013

"MANIFESTO" (2)


Da esquerda para a direita: Eu, Carlos Pratas (MES), Ezequiel Vicente (MDP/CDE) de costas, João Camossa (PPM), Carlos Brito (PCP) de costas, JM Oliveira Antunes e Martinho Madaleno.
Dois dias depois de ocorrida, já se analisava a intentona do 11 de Março. E publicava-se uma mesa redonda quando não era fácil juntar representantes de partidos que faziam questão de vincar as suas diferenças, de não quererem misturas, mesmo quando todos se afirmavam pelo socialismo, o socialismo de cada um. Particularmente difícil era ter um militante do PCP mas, neste caso, tivemos, nem mais, nem menos, o Carlos Brito. Cá fora,  continuava-se a procurar saber quem éramos, porque, na verdade, não nos eram reconhecidas filiações ou seguimentos partidários. Que raio de orientação de esquerda era a partilhada pelo MANIFESTO?
Nesta mesa redonda tivemos um pequeno conflito com o gravador, pelo que houve que tomar a iniciativa de “recompor” as intervenções dos participantes, pois não valia a pena admitir a possibilidade de juntar de novo aquele grupo. Defrontámos os intervenientes com os textos retocados, antes da publicação. E foram assumidos como autênticos. Até nisto eramos competentes, carago!

"MANIFESTO" (1)

Capa e sumário do nº1 do MANIFESTO
Uma das aventuras da minha vida, o MANIFESTO, iniciada 4 meses após o 25 de Abril, no seio de um grupo que já vinha de outras andanças próprias de quem estava então entre os 20 e os 30 anos e quer fazer coisas, e fez coisas, mais ou menos interessantes, mas sempre importante no plano estritamente pessoal.
Muitos se interrogavam sobre quem estava por detrás de uma revista que deu nas vistas, com 13 números publicados, exatamente durante um ano: de Agosto de 74 a Agosto de 75. Sobretudo que esquerda era aquela, entre tantas entradas registadas então no catálogo político da altura. Nunca conseguiram rotular-nos.
Mas estávamos numa época em que aparecia uma nova publicação todos os dias. A oferta era excessiva, mesmo num contexto em que todos procuravam coisas novas e que então passaram a ser possíveis. Embora amadores, tínhamos que poder contar com a publicidade, com a venda nas bancas. E não era nada fácil.
Embora o dinheiro envolvido não fosse meu, aceitei dar a cara como proprietário, para os devidos efeitos e decorrentes consequências. Por exemplo: para me especializar no aceite e reforma de letras com que pagávamos a impressão da revista na Mirandela.
Uma aventura cheia de peripécias que valeram a pena, recordadas a partir daqui.
 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Os insetos no prato, em breve...

Besouro
Lagarta
Formiga
Abelha
Gafanhoto
Cigarra
Percevejo
Hoje são já 2.000 milhões as pessoas que integram regularmente na sua alimentação o consumo de insetos e os insetos, segundo a FAO, constituem uma imensa fonte de alimentos ainda por explorar, havendo cerca de 1.900 espécies de insetos comestíveis, cabendo aos besouros e escaravelhos uma quota de 31%, seguidos das lagartas (18%), as abelhas e formigas (14%), e os gafanhotos (13%).
Ora estima-se que a população mundial atinja os 9.000 milhões em 2050. Para além disso, do ponto de vista económico e ambiental os insetos oferecem vantagens incomparáveis no confronto com a produção de carne. Criar uma vaca significa gastar dez quilos de ração ou de pasto por cada quilo de animal vivo mas, como dela apenas se aproveitam 40% para alimentação, isso significa que cada quilo custa 25 quilos em ração ou pasto. Já para um grilo bastam 1,7 quilos de alimentação por cada quilo de animal vivo, sendo que 80% do grilo é comestível. Por outro lado, os insetos produzem menos gazes com efeito de estufa, e são ricos em proteínas, cálcio, ferro, e “boas” gorduras.
Muito provavelmente teremos num futuro próximo que nos habituar a ver no prato, depois de cozinhados, bichos com os que ficam. Custa admitir? Custa… mas o que tem que ser terá muitos… insetos.
Nota: dados segundo o PÚBLICO de 14-05-2013
  
 

Um dinossauro na caixa de correio


Já tardava. Com promessas de encher olho: baixar o IMI e outros impostos e taxas municipais, promover a criação de empregos, água mais barata, melhor limpeza, mais desporto e cultura, mais segurança, mais turismo… Promessas de uma espécie de Tino de Rans dos comícios do PSD, vindo das Caldas da Rainha onde se esgotou a sua validade por imperativo legal.
Para diversas delas, segundo Costa, a CM de Loures deve exigir o empenho do governo, governo com o qual aparenta nada ter a ver. Na verdade, o patusco Costa faz apenas referência ao “apoio do Partido Social Democrata” que lhe estará assegurado. Não se apresenta como candidato do seu partido e privilegia o verde, não o laranja, no seu prospeto e no seu site. Costa sabe-a toda e ao ponto de ter criado o site www.fernandocostasabe.pt.
Também eu e outros mais, Costa.

José Rodrigues


Quando andei pelo Porto, nos anos 70, ouvia falar dele, como membro do grupo “Os Quatro Vintes”, juntamente com Armando Alves, Ângelo de Sousa e Jorge Pinheiro. Ainda nessa altura, era um dos promotores da Bienal de VN de Cerveira e, mais tarde, o autor do Cubo da Ribeira.
Agora que está a ser homenageado pela Cooperativa Árvore de que foi um dos fundadores, deixo aqui o que dele tenho, com uma pequena originalidade: o peixe deveria estar fixado na parte superior da escultura, mas há azares.
 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

No DL há 44 anos...

Havia um jornal, um jornal a sério, uma referência para muitos. Havia um grupo onde alguns liam o Diário de Lisboa todos os dias e o discutiam, particularmente o suplemento DL Juvenil animado pelo Mário Castrim. E quisemos conhecer aquele mundo por dentro, há 44 anos. E ali estou, no fundo, o primeiro à direita, quando já tombava para a esquerda.

De Amesterdão com amor...

Quando hoje muitos portugueses percorrem as ruas de Amesterdão, passa-me pela mão este postal, testemunho da primeira estada de minha Mãe na Holanda, com o pretexto do nascimento da neta Suzana.

Maura - Artista de palmo e meio

 Paisagem
 Uma casinha, assinada com verso e reverso.
Colagem

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Um desavergonhado beato...

Um canalha papa hóstias...

Prá canalha ignorante...


(…) Eis por que quem nunca viveu a experiência de administração pública ou não a estudou tende a formar perceções erradas e a não conseguir controlar a própria despesa tal como os factos evidenciam. Talvez o melhor exemplo deste desconhecimento seja pensar que o principal problema da despesa pública seja o montante pago em salários e em pensões quando aqueles já estão aquém da média europeia e abaixo dos 10%. Pelo contrário, toda a soma das despesas contratualizadas com outras entidades (investimentos, bens, serviços e consumos intermédios) totaliza cerca de 17% do PIB, pelo que gerar aí uma poupança de 10% significa poupar quase 2% do PIB.
Infelizmente, esta componente da despesa da despesa pública não tem vindo a ser analisada ou controlado pois, senão, como compreender que a despesa com aquisições de bens e serviços dos institutos públicos tivesse aumentado 10% em 2012, no ano de todos os cortes em salários e pensões, segundo os próprios dados do Ministério da Finanças? Ou compreender o aumento de mais de 50% desta rubrica na Administração Regional da Madeira? Quais os esclarecimentos do Governo para este descontrole? (…)
L. Valadares Tavares, Professor catedrático emérito do IST, ex-presidente do INA e presidente da APMEP, in PÚBLICO de 12 de Maio de 2013.

domingo, 12 de maio de 2013

Definitivamente um canalha!


Há oito dias, falou pausadamente, gasparianamente, martelando as palavras. E, em resumo, para este canalha com pretensos ares de estadista, havia uma linha vermelha que não poderia ser ultrapassada. E criou, para muitos, a expectativa de que assim seria, embora se saiba ser uma criatura medonha capaz de vender a alma ao diabo, desde que o deixem como ministro.
Antes, desde há muito, num estilo populista digno de um filho da puta, autointitulava-se o defensor dos pensionistas, elegendo os seus interesses como causa do partido, embora um partido de retintos canalhas, usando feirantes, rurais, velhos e antigos combatentes para base de apoio eleitoral e, depois, como carne para canhão, como agora se reafirma no apoio dado a uma medida bárbara.
Era tido como o mais esperto, o mais sagaz politicamente, capaz de comer as papas na cabeça do outro. Mas, espremido, é isto: um filho da puta, uma reles criatura, digno de ser o alvo de uma bala amiga. O outro, nunca escondeu ao que anda. Este quis passar por paladino dos mais fracos de que se serviu e serve apenas para manter o seu estatuto. Por isso, entre ambos, este é o mais miserável, porque o mais aldrabão e o maior canalha.
Uma coisa: continuo a admitir que este gajo está preso – condicionado – pelo negócio dos submarinos. Enquanto isto não for deslindado, por lá andará, mas apenas com direito a fazer umas fitas a fingir que tem voz e posição políticas distintas, enquanto suporta, com os votos dos incautos, um governo de farsolas.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Festival de bebedeira nonstop*


“É isto uma academia?
Um jovem foi assassinado num evento da Federação Académica do Porto e nem essa trágica ocorrência foi capaz de parar a máquina de festas em que se converteram as queimas das fitas. Onde há orçamentos de milhões de euros, não há espaço para a comoção, para a solidariedade, para a criação de um verdadeiro espaço de comunidade. Por aqui, não se espere nada desta geração universitária. O que os move é o dinheiro dos patrocínios que, em bom rigor, ninguém sabe se é ou não devidamente contabilizado e controlado. Uma academia que não para em sinal de homenagem a um dos seus membros activos baleado numa das suas festas, uma academia que gere milhões de euros sem que conheçam grandes desígnios na esfera da responsabilidade social ou no auxílio dos seus membros mais pobres é uma excrescência do verdadeiro espírito da universidade. Não tendo qualquer utilidade pública, acabe-se com as federações académicas e afins. O negócios dos agentes de concertos e das bebidas sentirá alguns efeitos; a universidade e o país, não.” in Editorial do PÚBLICO de 07-05-2013.
“(…) Não sei se o assalto resultou da actual “conjuntura difícil”. Do que não tenho dúvida é que a chocante posição da Federação Académica do Porto resulta, ela sim, desta “conjuntura difícil”, que está longe de ser apenas conjuntural, e não é alheia a uma desvalorização da vida, das pessoas, da solidariedade e dos sentimentos em geral, que constitui o cerne da filosofia neoliberal que nos governa. Cortar a pensão de uns velhos doentes ou condenar trabalhadores à pobreza é tão fácil como ir festejar para o local de um assassinato quando o sangue ainda não secou no chão. (…)" in Crónica de José Vítor Malheiros, PÚBLICO de 07-05-2013
Um apontamento de memória: quando foi das cheias de 1969, a Academia de Lisboa organizou-se para operações de auxílio e apoio às populações afetadas, mas de forma clandestina, pois estava-se perante uma enorme tragédia que o regime de então quis negar e esconder.
Hoje, em situação semelhante, não acredito que as diversas academias do país se incomodassem do mesmo modo de então.
* Expressão retirada da crónica de José Vítor Malheiros
 

Cenas da vida doméstica...

Termo da tarefa de passar roupa a ferro, com acompanhamento, hoje, de Miles Davis e John Coltrane, e a competente supervisão e controlo de qualidade de Dona Canadiana.
Um dia uma amiga teorizava sobre o erotismo que identificava na música de jazz, e eu tendia a percebê-la, a concordar. Mas ainda hoje não sei o que me leva a preferir jazz nesta específica lide doméstica. O passar a ferro será atividade erótica? Seria irónico.
Saia agora uma bejeca!

domingo, 5 de maio de 2013

Uma canadiana em S Lourenço

Não é nada fácil andar pela areia com esta senhora do Canadá. Igualmente ainda não me é fácil sentar e levantar-me do lugar que ela aqui ocupa. Mas fomos lá, mais esgar menos esgar. Quatro horitas para o bronze, meu e dela. E parece que, felizmente para mim, a canadiana ficou fã de S Lourenço. Começou a nossa época balnear.

sábado, 4 de maio de 2013

Poupem a Primavera, carago!



Pormenor da Primavera de Botticelli
 
Eu sei que tempo é tempo. Uma medida, uma circunstância, uma época, uma marca. Mas quando se trata da Primavera eu passo-me com o que sejam as previsões ou as correções das previsões feitas pelo Banco de Portugal, o FMI, o BCE, seja quem for, quando se trata de anunciar mais desemprego, mais recessão, mais falências, o que seja desde que da mesma natureza. Se fossem previsões de Inverno, eu não daria tanto por isso, pois o frio também é duro, a época é triste. Se fossem de Outono, eu diria que já era o inverno a querer chegar antes do tempo. Claro, no Verão, uma pessoa senta-se numa esplanada, bebe uma bejeca, come uns tremoços ou umas pevides e a crise passa, o calor ajuda. Mas na Primavera? Poupem a Primavera. Ou então digam que são previsões de Maio, ou de Junho. Mas não me estraguem a Primavera com esta porra de previsões. Não me obriguem a falar mal ou a ser violento. Poupem-me!
 


sexta-feira, 3 de maio de 2013

Shahina - uma morte trágica

O corpo de Shahina é retirado dos escombros do Rana Plaza - Foto AFP
Shahina tinha migrado para Daca com o irmão Jahirul para, na altura, conseguirem pagar um empréstimo que a mãe de ambos contraira para poder ser operada à vesícula. Empréstimo no valor de 5.000 taka, o equivalente a 45 euros mas que, com os juros, tinha subido para 70.000 taka. Deixou assim os campos de Bangladesh para se instalar nos subúrbios miseráveis de Daca e encontrar trabalho nas fábricas têxteis da capital.
Shahina era uma das cerca de 3.000 pessoas que trabalhavam no Rana Plaza, um edifício de 8 pisos, construído sem licenças e que ruiu, havendo já o registo de 406 mortos e 149 desaparecidos.
Shahina tinha casado por amor, sem autorização dos parentes, mas enviuvou quando estava grávida de Robin a quem queria garantir uma via bem melhor que a sua, acalentando o sonho de o ver médico ou engenheiro. Ganhava 4.200 taka por mês, o equivalente a 40 euros, mas com as horas extraordinárias podia alcançar um extra de mais 2.000 taka. Para isso trabalhava muito, frequentemente das 8 da manhã às 10 da noite e, por vezes, a noite toda.
Shahina sobrevivia à tragédia há 110 horas, presa entre escombros e cadáveres, esperando sair dali viva para poder ir ao encontro do seu filho. Mas um acidente transformou num braseiro o local em que se encontrava. E Shahina passou num ápice ao registo dos mortos desta grande tragédia.
Entre nós, se calhar encostados aos nossos corpos, andam roupas com origem neste contexto de terror em que se trabalha no Bangladesh, em que trabalhava Shahina. Apenas porque vale tudo para quem engorda e se empanturra à custa de salários de miséria, de ausência de direitos, numa completa escravidão.
O pequeno Robin já perguntou pela mãe, sem saber que já não a verá mais.
O caso teve honras de enorme cobertura mediática mas, como sempre, certamente que apenas por uns dias. O seu esquecimento está já alinhado nos órgãos de informação. Fez notícia. Ponto final.


quarta-feira, 1 de maio de 2013

Num bem distante 1º de Maio

Uma história milhentas vezes por mim contada, por uma particular razão. Adiante. Era 1º de Maio, dos primeiros celebrados em liberdade. A caminho das celebrações, posto um pé na rua, dois suecos perguntam por um restaurante onde pudessem almoçar. Impossível então: o dia era mesmo do trabalhador e tudo fechava, mesmo na cidade tida, vá lá saber-se porquê, como capital de trabalho. Insistimos perante duas caras desesperadas: que não havia, que não encontrariam qualquer restaurante. Mas tu tinhas uma solução: um convite para subirem, porque alguma coisa se arranjaria. Um horror: dois malucos a convidarem para casa dois desconhecidos estrangeiros, bem postos, mas esfomeados. E não foi fácil convencê-los até ao definitivo: se querem comer, aceitem, caso contrário mantenham a busca do impossível. E lá acabaram por aceitar.
Sobre a mesa são colocados os panados que tinham sobrado, batatas fritas de pacote, uma garrafa de vinho e fruta, perante duas caras embasbacadas, como que tentando adivinhar o que poderia estar por detrás de tão estranha, para eles, simpatia. Mesa posta, e como que a pretexto de votos de bom apetite, pediste-lhes que depois de comerem batessem a porta, pois nós retomaríamos aquilo que estava agendado: as celebrações do 1º de Maio naquela praça frente à CM do Porto. O quê? Ficariam ali sozinhos numa casa estranha, a comer, e depois bastaria bater a porta? Que sim, respondeste, porque a nossa agenda estava feita. E, responderam: se nos roubassem? Não haveria problema, pois a polícia daria conta do recado. Teimámos e, a custo, lá ficaram os dois suecos, na altura em viagem de negócios: compras de tecidos e atoalhados no norte do país, a comercializar por uma cooperativa de grande dimensão.
Aceitámos o convite para um copo no hotel em que se hospedavam na zona da Boavista, no final da manifestação. E lá fomos. A história que envolvia dois loucos, nós, já era conhecida por outros que se encontravam no bar do hotel e foi-nos referida a reação de um escocês: cuidado, vejam com quem se meteram, porque isso é muito estranho. Durante o copo, procurámos saber onde iriam jantar. Pois já sabiam onde. Havia um restaurante aberto na zona - a Cufra, suponho - certamente o único em toda a cidade, certamente com enormes filas de espera. E desafiámos os nossos suecos para um jantar. Foi muito mais fácil agora fazer aceitar o convite.
Cozinhaste uns canelones de carne, saltou uma garrafa para a mesa e recordo que acabámos a bebericar vinho do Porto. Os nossos amigos choravam. Isto que lhe fizeste – porque foi sobretudo mérito teu – nenhum familiar o faria pois, entre eles, quando se convidam, é para um restaurante, pois não é hábito franquear o espaço privado da habitação a ninguém, mesmo se familiares. Eles que tinham boas mobílias, televisão a cores – estávamos ainda com o preto e branco - , bons carros – o Volvo, por exemplo –, boas casas, mas nunca poderiam entre eles experimentar as sensações vividas com dois modestos desconhecidos num país distante e pobre.
Nunca aproveitámos o convite feito para os visitarmos. Mas ficou este gozo enorme de, num dos nossos primeiros primeiro de Maio termos provado a dois suecos que somos capazes de méritos que o dinheiro ou o quer que seja não explica.
Já agora: a foto é do cantinho onde tal se passou. E como tinhas em tempos sugerido que contasse histórias desse cantinho, aqui fica esta. Uma dúvida: não sei se desta vez transportei aos ombros, na manifestação, a querida chatinha… mas quase juro que sim.