quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A quem passa, Feliz Ano Novo!


Cinco a fazer toque rectal no mesmo doente? Só de ler, já dói.

Segundo se diz, a saída dos médicos do SNS para as entidades privadas pode pôr em causa a formação dos médicos mais jovens.

Admito que sim, que seja o panorama com que nos defrontaremos em breve. E no futuro?

O futuro acautela-se com mais médicos, para que a concorrência entre público e privado funcione melhor – a favor dos utentes do SNS, que os privados saberão cuidar de si – e, sobretudo, permitindo que a vaga de passagens à reforma que se aproxima não complique ainda mais as contas.

A actual situação interessa, se calhar não tanto aos privados, que suportam o custo dos passes dos médicos do SNS, mas mais aos que agora estão instalados, desejosos de manter a coutada, olhando os seus €xclusivos int€r€ss€s.

Mas eis que vem a terreno, com a mesma preocupação – excesso de alunos, falta de formadores - a presidente da Associação Nacional dos Estudantes de Medicina. E como isto de associações de estudantes já nada tem a ver com as do passado… Mas adiante.

Exemplifica a presidente:

Na Faculdade de Medicina de Coimbra um doente chegou a ser observado por 15 internos. “Não é ético para o doente”, observa. Comove a preocupação com a ética, se comove.

Mas pior, segundo relata, é o que aconteceu na Faculdade de Medicina de Lisboa onde se chegou ao cúmulo de “haver cinco estudantes a fazer toque rectal a um único doente”. E esta, acreditem, até a mim doeu só de ler.

Segundo o Público de 29-12-09



Nada a fazer com o Crespo

No Jornal da 9 o convidado era o novo Presidente do CES – Conselho Económico e Social. Mas aquilo, ao Crespo, está-lhe no sangue.

Vai daí, pergunta aquela boquinha bico de pato ao seu entrevistado, o que é que ele pensava destes tempos em que a polícia impede os clientes de entrarem no seu banco. Se tal era para ele, entrevistado, aceitável. Isto a propósito da ocupação das instalações do BPP na cidade do Porto.

E, lembrava com aquele seu jeitinho chafurdeiro, que até se ouviu falar espanhol, pelo que o caso já será ameaçadoramente transfronteiriço.

Para Crespo, uma ocupação, aliás nada pacífica pelo que se viu, não é caso de polícia. Pelos vistos, na SIC as portas estão abertas para quem queira, com o mero pretexto de aturar esta criatura, entrar para lhe dizer umas cara-a-cara.

Depois, clientes espanhóis no BPP é coisa de espantar, com tantos que há por aí? E porque é não deveriam acreditar, também eles, no retorno absoluto?

Uma gay notícia

Finalmente a Ordem dos Médicos decidiu, através de parecer do seu Colégio de Psiquiatria, que não há qualquer tratamento para a homossexualidade por se estar, pura e simplesmente, perante uma variante de comportamento sexual e não de uma doença.

Por isso, "considerar a possibilidade de um tratamento da homossexualidade implicaria, nos tempos actuais, a violação de normas constitucionais e de direitos humanos", advoga o parecer.

O parecer foi provocado, no entanto, porque em entrevista no passado mês de Maio, quer o Presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, quer o Presidente da Especialidade de Psiquiatria da Ordem dos Médicos, admitiram que, nalgumas circunstâncias, havendo vontade, seria possível mudar a orientação sexual de alguém.

Mesmo que coubesse nas tais circunstâncias, não sei onde encontraria tanta vontade. Mas que isso me custaria uma pipa de massa, se caísse nas mãos de um daqueles, disso não tenho dúvida alguma. Porque para me aumentarem a vontade de certo também dispõem de terapias adequadas.

Melhor estar assim, mas a comunidade gay livra-se agora, esperemos que definitivamente, de um argumento que só lembrava a certas cabecinhas.


segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Ao abandonar o cargo…


… o provedor do leitor, Joaquim Vieira, escreve uma Carta aos jornalistas do PÚBLICO:

(…) no caso que acabou por marcar este mandato de provedor agora no fim – a questão das notícias acerca da alegada vigilância de S. Bento sobre Belém –, continuo a julgar ter dito o que devia dizer: lançar um sério aviso sobre o que, procurando decidir em total independência e autonomia, entendi como desvio aos valores editoriais em que se fundou este jornal, um copo que eu via cheio há já algum tempo e que transbordou com essa enorme gota de água. Sei que muitos de vós se sentiram ofendidos no brio profissional quando questionei a existência no jornal de uma agenda oculta, mas não se tratava de pôr em causa toda a redacção. Só que numa orquestra afinada basta um dos seus elementos perder o tom (para mais numa posição de chefe de naipe ou de concertino), para que todo o conjunto desafine (imagine-se então se é o maestro a dirigir com outra partitura).

Citado do blog Câmara Corporativa

domingo, 27 de dezembro de 2009

Lendo os outros...

Coscuvilhices

Sobre as escutas ao primeiro-ministro, toda a gente já percebeu o essencial: por um lado, o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha de Nascimento, no «uso de competência própria e exclusiva, proferiu decisões onde julgou nulos os despachos do Senhor Juiz de Instrução que validaram as extracções de cópias das gravações, não validou as gravações e transcrições e ordenou a destruição de todos os suportes a elas referentes»; por outro lado, as referidas escutas não contêm «indícios probatórios que determinem a instauração de procedimento criminal contra o Primeiro-Ministro, designadamente pela prática do crime de atentado contra o Estado de Direito». Mas o PSD, na linha da sua fuga para a frente, iniciada a 27 de Setembro, ainda não percebeu, ou melhor, percebeu mas faz-se de desentendido, e pede mais esclarecimentos ao Procurador-Geral da República sobre as badaladas escutas. No fundo, a actual direcção do PSD sabe que não tem propostas políticas que convençam os portugueses e apenas acreditam que só um escândalo tipo Tiger Woods lhes devolveria a dignidade perdida. Por isso, apostam na coscuvilhice. É muito pouco, muito pouco mesmo.

Por Tomás Vasques

Aqui http://hojehaconquilhas.blogs.sapo.pt/1063340.html


Uma falta de vergonha…

“É uma ironia terrível: as agências falharam escandalosamente e agora são elas que decidem qual é o risco do país, os juros que todos nós vamos pagar", critica José Reis, professor da faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

Ler mais aqui: http://www.ionline.pt/conteudo/38922-agencias-rating-as-tres-irmas-privadas-que-dizem-quanto-vale-portugal

Ora estas agências, que não são reguladas por ninguém, influenciam muito mais que outras instituições democraticamente legitimadas. E ninguém as põe no seu lugar?

sábado, 26 de dezembro de 2009

Não vão ao médico, não! Ou também querem desaparecer?

«Desde que o mundo é mundo que existem homem e mulher. Se a homossexualidade evoluir acaba a humanidade», frisou, não escondendo a sua posição sobre este tipo de ligação conjugal. «Não se pode misturar as coisas, pelo que a sociedade tem de escolher a sua cultura. Temos de decidir o que é normal em Portugal, mas, na minha opinião, a pedofilia e a homossexualidade são perturbações psicológicas», frisou, concluindo:

«Sob ponto de vista psicológico e científico existem órgãos definidos que definem a complementaridade entre homem e mulher e isso que é que faz evoluir a humanidade».

Aqui http://www.tvi24.iol.pt/esta-e-boca/homossexualidade-gay-casamento-gentil-martins-tvi24/1111861-4087.html

E acusam os do contra de não terem argumentos de peso? Mirem-se nestes. E toca a complementar os órgãos, fazendo o favor de serem cultos. Sejam normais, porra!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Porque é Natal

E desculpem o intruso na assistência. Não há bela sem senão.

Quando uma autobiografia não é obra póstuma pode ser uma chatice, uma grande chatice...


'A minha intuição dizia-me que uma atitude defensiva face aos obstáculos criados pela Assembleia da República não compensava. Procurava então contra-atacar e tornear as dificuldades criadas. Alertava o País e acusava a oposição de obstrução sistemática e de querer impedir o Governo de governar. A oposição, por seu lado, acusava o Governo de arrogância, de seguir a táctica de guerrilha com a Assembleia e de manipular a opinião pública contra ela. [...]

Face à acção dos partidos visando descaracterizar o orçamento [...], o Governo procurou dramatizar a situação, convicto de que isso jogava a seu favor. A seguir ao “Telejornal” do dia 8 de Abril fiz uma comunicação ao País através da televisão. Denunciei as alterações introduzidas na proposta do orçamento apresentado pelo Governo, as quais se traduziam em despesas públicas desnecessárias, aumento do consumo e benefícios para grupos que não eram os mais desfavorecidos da sociedade portuguesa. Procurei mostrar aos Portugueses como era errado e socialmente injusto forçar o Governo a decretar do preço da gasolina, uma clara interferência da Assembleia na área da competência do Executivo, que ainda nunca antes tinha sido feita. Para tornear as dificuldades criadas e para os que objectivos de progresso propostos pelo Governo pudessem ser ainda alcançados, anunciei na televisão um conjunto de medidas compensatórias visando, principalmente, contrariar o excesso de despesa e de consumo induzido pelas alterações feitas pela oposição. O meu objectivo, ao falar ao País sobre o orçamento, era também o de passar a mensagem de que o Governo atribuía grande importância ao rigor na gestão dos dinheiros públicos.

A mensagem de que a Assembleia obstruía sistematicamente a acção do Governo passou para a opinião pública. O Governo, sendo minoritário, surgia como a vítima e acumulava capital de queixa: queria resolver os problemas do País e a oposição não deixava. A oposição não percebeu que, tendo o Governo conseguido evidenciar uma forte dinâmica e eficácia na sua acção, a obstrução ao seu trabalho não a beneficiava. O PS revelava dificuldade em ultrapassar os ressentimentos pelo desaire sofrido nas eleições de Outubro de 1985 e o seu comportamento surgia-me como algo irracional. O Governo e o PSD procuravam tirar partido da situação e alertavam a opinião pública para as estranhas convergências entre o PS e o PCP na Assembleia da República.

Aníbal Cavaco Silva, "Autobiografia Política. Vol. I" (Temas e Debates, 2002, pp.144-145)

In blog Câmara Corporativa

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Vasco Pulido Valente, leitor de calhamaços num país de incultos... salvo ele, óficórce!

Somos uma cambada de incultos, salvo o Vasco Pulido Valente. Ai não? Então vamos lá fazer um teste.

Quem é que leu, em 2009, WolfHall” de Hilary Mantel, um calhamaço de 653 páginas sobre a vida e ascensão de “Tomas Cromwell, filho de ferreiro, mercenário e advogado, que chegou a chanceler de Henrique VIII e foi o grande executante da Reforma Inglesa”?

Tu, aí, não levantes o braço a dizer que leste, que ainda há pouco lias a Margarida Rebelo Pinto, o Paulo Coelho e juravas que o Cromwell era o reforço de inverno dos leões e Hilary Mantel a secretária de estado dos USA.

Mais: quem é que teve na sua frente, pelo menos para tentar ler uma página, para um cheirinho que fosse, “A History of Christianity: The first three thousand years” de Darmaid MacCulloch”, que nos brindou com 1.161 páginas?

Cala-te agora tu, seu parvalhão, que começaste logo por dizer que Cristiano Ronaldo era contigo, que estavas a par de tudo. Que livro assim, estilo páginas amarelas, era o dos endereços das namoradas do CR7. E que, além disso, te atreves mesmo a dizer que darmaid é um tempo qualquer do verbo dar. Como se eu não soubesse que apenas dás para o peditório das porcarias e indecências do Vilhena.

Agora para os demais: quem é que se atreve a dizer qual o tema abordado nas 568 páginas de “Alone in Berlin”, de Hans Fallada?

Errado, seu triste. Não te armes. Aquilo não é falado e, se o fosse, era em inglês. Ora não esqueças que ainda andas no “I love you” da escola do Zézé Camarinha das praias algarvias. Xiu!

É que, meus caros, quem não bebe do fino, nem almoça no Gambrinus, está fora desta cultura, deste estar na onda. Sim: de ler e pensar em inglês, que o uísque de Sacavém já foi à vida há muito.

Quem não se cultiva assim, nunca poderá almejar ser comentador apoderado de Manuela Moura Guedes, no Jornal das 9.

Ali só se chega com provas dadas. E ninguém leva a palma a Vasco. Que lê, pelo menos, 3 calhamaços por ano. Que faz questão de referir o número de páginas, para que se saiba o esforço de coluna feito, as litradas que intervalam a leitura.

Duvidam? Pois então leiam isto, repescado da sua crónica no Público de 18-12-09: ”Começo, como é tradicional, pelos livros, embora saiba que hoje quase não se lê”.

Nota: o quase é para se excluir desta cambada de incultos, de iletrados. Vasco tem-se por único. É único. Nisto nem o Pacheco o bate.

Claro que Portugal não se interessará por Fallada, MacCulloch ou Mantel. A nossa crise não é só política, económica e financeira.”

Portugal não se interessa e esta Pátria não merece Vasco. Mas a crise é aquilo tudo e o termos também que aturar Vasco Pulido Valente.

No entanto é a Vasco que devemos o esforço de salvar a honra do convento. Vasco que assim nos livra da vergonha de ignorarmos quem são Fallada, MacCulloch e Mantel. Que agora nunca mais confundiremos com reforços de inverno para o nosso campeonato de futebol, ou com heróis de banda desenhada, realizadores porno, marcas de uísque marado…

Obrigado Vasco.

E aproveitando a quadra: Pai Natal, manda lá estes livritos. É que quero dar ares, mandando uns bitaites a este país de 10 milhões incultos. Salvo o Vasco, claro.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Está a dar a Tele-Escola na SIC-N...

E fala de sismos, do último. Não, não é desse. Que ele não liga a futebóis.
Sempre com a babitual isenção e independência, com as mãozinhas a dar e a dar. Que seria dele sem aquelas mãozinhas.
Já vai nas armas, na guerra, nuns livros a isso dedicados. Antes que estoire um míssil por aqui, vou passar para outro canal.
Boa noite, Pacheco. Eu vou para o contra-ponto.
E deixo o ponto a falar para outros. E que ponto. Sem contraditório, que a isso ele não se ajeita, como se pode constatar na Quadratura do Circo. Sim, do Circo. Com ele, um ponto. Fulo com o contra-ponto, com o contraditório. Falar sozinho é que é bom. E jeito para pregador não lhe falta.
Prega então, Pacheco.

domingo, 20 de dezembro de 2009

... Glorioso SLB!


Agora só faltará arranjar um milagre...

Recordo o tempo em que os comentários, mesmo se mais temperados, levantavam reservas sérias quanto a Pio XII. Pelo seu silêncio durante a II Grande Guerra e, particularmente, no que respeita ao Holocausto.

Mas Ratzinger entende que também ele dever ser canonizado. Para já, ser-lhe-á atribuído o título de Venerável. Depois, bastará aguardar um pouco mais.

E então? Não são sempre designados por santos padres ainda em vida? E não temos santos a cada momento?

Será apenas mais um, mesmo se isso descaracteriza, por falta de sérias exigências, o que seja ser santo.

Os judeus não gostam, mas isso pouco ou nada incomoda Ratzinger. Os seus antecessores não ousaram tanto, mas isso que importa?

Fora isso, tudo bem. Saia mais um santo. Que Ratzinger quer caminho aberto também para si. Por que não?


sábado, 19 de dezembro de 2009

Parabéns, Paula

“No final deste percurso, poderemos reconhecer que em Le Clézio, como em Thomas More, é a viagem que suporta a narrativa e a problemática da utopia, assinalando, para além da ruptura, a passagem do mundo conhecido ao desconhecido. Com efeito, é ela que, nos dois textos do nosso corpus, ou porventura através de toda a obra do autor, permite a fuga e distanciamento crítico face à sociedade distópica, identificada com a civilização ocidental, ao mesmo tempo que se traduz na procura do bem comum, encarado do ponto de vista socialmente progressista. Representada não só na sua linearidade, com base em motivos recorrentes como o barco, a tempestade e o naufrágio, mas também na sua circularidade, impõe finalmente o retorno dos viajantes ao ponto de origem. Embora este regresso seja apenas implícito em Voyage à Rodrigues, afigura-se no entanto necessário, já que, por definição, a narrativa utópica assenta no relato daquele que acede ao lugar outro, da felicidade almejada, construída pelo homem e não por Deus. Além disso, qualquer que seja o destino da viagem, é como ilha que ele é pensado e desejado. A configuração do espaço utópico reproduz assim a imagem do seu fechamento em círculos concêntricos descendentes, a partir de cadeias montanhosas envolvidas pelo mar. Le Clézio joga ainda com a ambivalência típica do género entre espaços existentes e inventados, numa tentativa de criar a ilusão de uma realidade alternativa. Por sua vez, a perda da noção das referências espacio-temporais dos narradores destes textos inscreve-os mais facilmente no mundo utópico, perfeito, por isso mesmo estático e imutável. [..]”.

InViagem e Utopia em J.-M. G. Le Clézio Le Chercheur d’or e Voyage à Rodrigues

Dissertação de Mestrado em Estudos Românicos de Maria Paula Costa Alves dos Santos

Um tiro certeiro porque foi escolhida, então, a obra de um futuro Prémio Nobel da Literatura.

Uma abordagem com excepcional mérito e que o júri entendeu avaliar nos limites do máximo possível: 19 valores.

Agora, continuação de boa viagem, Paula!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Troco propinas por votos... E não apenas pró Pina, é para todos!

O Bloco de Esquerda vai propor no Parlamento a suspensão do pagamento de propinas no Ensino Superior e um novo regime de atribuição de bolsas de estudo.

"Se na Alemanha não há propinas e o ensino é melhor do que em Portugal é porque há um bom investimento no ensino", considerou Francisco Louçã.

Deixa cá ver se sigo o raciocínio do Xico.

Quem suporta, sobretudo, o ensino público? O Estado, todos nós, através dos impostos.

A quem aproveita o ensino superior público? Infelizmente não a todos, mas é certo que aproveita sobretudo a alguns.

Assim, o fim das propinas aproveita sobretudo a quem? Naturalmente que ao grupo que mais aproveita do ensino público.

O Xico costuma exibir um particular azar aos Mellos, Champalimauds, Espíritos Santos e outros que tais, os ricos, os donos das grandes fortunas…

E agora trata tudo por igual, propondo a abolição das propinas?

Com o pretexto de que na Alemanha é assim, sem mais? E se alguém, por exemplo, lhe responde que também na Alemanha a legislação laboral é mais flexível e que, se lá resulta, aqui também pode resultar?

Bastará agora, para o Xico, que se importe da Alemanha o que lá está testado, assim se rendendo ao capitalismo?

É nisto que dá a demagogia e o populismo do Bloco de Esguelha.


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Mais médicos para quê, se assim é que está bem para aqueles?

É quando tenho que sacar umas boas dezenas de euros por uma consulta que melhor entendo a chatice que para alguns constitui a criação de mais faculdades de medicina, poder haver mais médicos.
A garantia de reserva de coutadas é que é bom. A concorrência nas prestações de cuidados clínicos arruina a saúde dos seus agentes. Uma boa droga, não é, senhor bastonário?

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Vou passear um facalhão...



Já tinha antecedentes criminais. Desta vez foi apanhado com uma faca e afirmou aos guardas que o detiveram que aquela se destinava a “ajustar contas” com outra pessoa.


Foi condenado por posse de arma proibida mas recorreu para o Tribunal da Relação de Lisboa que decidiu que a posse de qualquer faca, navalha ou outro instrumento cortante só deve ser considerado crime “se possuir disfarce e o portador não justificar a sua posse”.


Vou aproveitar. Um facalhão a tiracolo, uma factura de aquisição na carteira para provar ser meu. Justificação para isso? Pois vou levá-lo a passear. Qual o problema?

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Então, Zezinha... passou-se?

“A primeira audição da Comissão Parlamentar de Saúde ficou hoje marcada por uma troca de ofensas entre a deputada social-democrata Maria José Nogueira Pinto e o deputado socialista Ricardo Gonçalves que levou o presidente a ameaçar suspender os trabalhos.

A troca de “galhardetes” ocorreu quando Maria José Nogueira Pinto intervinha nesta Comissão, onde esteve presente a ministra da Saúde e os seus dois secretários de Estado.

Uma observação do deputado Ricardo Gonçalves terá motivado a irritação de Maria José Nogueira Pinto, que o apelidou de “palhaço”.

“Não sabia que tinham contratado um palhaço” para a Comissão Parlamentar de Saúde, disse a deputada.

Em resposta, Ricardo Gonçalves teceu comentários sobre a troca de cor política por parte de Maria José Nogueira Pinto.

O presidente da Comissão apelou à sensatez dos presentes, ameaçando mesmo suspender os trabalhos, caso continuasse a troca de insultos.

O deputado socialista justificou alegando diferentes postos de vista, ao que Maria José Nogueira Pinto respondeu: “Não devem existir em todos os parlamentos deputados como senhor, um deputado inimputável”.

Os trabalhos da Comissão Parlamentar de Saúde demoraram mais de cinco horas.”

Jornal I, online, 09-12-09.

Já agora: que se ouviria na gravação das conversas telefónicas da Zezinha?

Chumbo de Vasco Pulido Valente, Visconde de Medina Carreira

A nomeação de Maria João Seixas para Directora da Cinemateca Nacional parece não ser consensual. O que é compreensível, porque cada um poderia escolher melhor, segundo os seus estimados critérios.

Mas o Visconde, Examinador-Mor do Reino, por incumbência sabe-se lá de quem, não está com meias medidas.

Para ele, está-se perante “a nomeação mais escandalosa desde o 25 de Abril”. E acrescenta: “Maria João Seixas não tem sombra de competência para o cargo e só pode, por pouco tempo que lá esteja, arruinar a obra de Bénard da Costa”. Por outro lado, dando provas de estar bem informado sobre as reacções suscitadas por notícia dada apenas ontem, permite-se ainda declarar que “a passividade e complacência com que este acto do Governo foi recebido mostram bem a miséria moral e política a que chegámos”.

Um traste, um fidalgote que já não se enxerga. Uma miséria.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Contra o Côtto da Quinta, ou vice-versa

Há um Côtto que tem uma Quinta e para quem, agora, saborear um tinto merece o ritual próprio de uma gasosa, de um pirolito, de uma coca-cola. Nada de rolhas de cortiça, diz a publicidade do Côtto, porque deixam sabor a cortiça. E é mais rápido, adianta o Côtto que tem uma Quinta, como se já houvesse competições sobre a rapidez com que se abre uma garrafa; como se um apreciador dispensasse o lento ritual da abertura, aquele som com que somos brindados por uma rolha de cortiça.

Para o Côtto, que tem uma Quinta, basta agora um vedante de alumínio. Amanhã sugerirá um copo de plástico que, aliás, está bem ao nível do vedante de alumínio.

Este Côtto, que tem uma Quinta, já teve melhores dias. Agora fica rotulado, para os devidos efeitos, de vinho a martelo. E este que me desculpe a ofensa.


sábado, 5 de dezembro de 2009

Quando o saber é curto, melhor é calar...


“Por último, falta falar da A8, auto-estrada que liga Lisboa a Torres Vedras. Quem a conhece sabe que está integralmente em obras para alargar a uma terceira faixa (já agora porquê? Se a entrada de Lisboa não pode ser alargada.) E, por isso, a circulação faz-se em faixas estreitas, perigosas e apenas a 80 km/hora. Ou seja: a A8 não é uma auto-estrada, mas pagamos como se fosse. Porque não avançam as obras?”
Luís Campos e Cunha, Público, 27-11-09
Pois é…
Falta é conhecer. Porque a A8 liga Lisboa a Leiria e não a Torres Vedras. Depois, na entrada de Lisboa, descarrega trânsito para a CREL, a CRIL, o Eixo Norte-Sul / Ponte 25 de Abril, a Ponte Vasco da Gama…
Conhecesse melhor a A8 e saberia o que é transitar nela em duas faixas de rodagem a partir de Torres Vedras ou até Torres Vedras. E quem não conhece, melhor seria calar-se.

sábado, 28 de novembro de 2009

O Exmo Juiz Dr Reticências violou o dever de zelo, de lealdade e algo mais. Lixou-se: 10 dias de multa! Leram bem: 10 dias de multa.

O Exmo Juiz Dr Reticências estava colocado no Tribunal Reticências, após o que foi transferido, como requereu, para outro Tribunal Reticências, nos termos do movimento judicial aprovado pelo por Deliberação do Plenário do Conselho Superior da Magistratura, de 15.07 do ano Reticências, tendo tomado posse em 01-09.200 Reticências.

Mas o Exmo Juiz Reticências decidiu manter e levar consigo 200 processos conclusos e que aguardavam despacho ou sentença desde 2006 (7 processos), de 2007 (86 processos) e de 2008 (107 processos). E levou ainda outros processos, em número não identificado, mas inferior a 30, e que, no entanto, fez chegar já despachados, em Setembro e Outubro de 2008 (sem Reticências).

Em Novembro de 2008, os tais 200 processos continuavam ainda na posse do Exmo Juiz Reticências.

Em 17-11-2008, o Exmo Juiz Reticências devolveu 122 processos, com despachos ou sentenças todos datados de 31-08-08, na maioria dos casos com as justificações “a.s.” ou “g.a.s”, abreviaturas de “(grande) acumulação de serviço”, pese embora os tenhas despachado depois da sua tomada de posse no novo Tribunal Reticências. Desta vez a todo o gás.

Em 28-11-08 devolveu 27 processos e, em 04-12-08, outros 49, mas sem qualquer despacho ou sentença no que respeita a 22 processos. Para os despachos e sentenças nos restantes 54 novamente é utilizada a data de 31-08-08 e a justificação já referida. Mas manteve ainda dois em seu poder: um concluso desde 07-04-08 e o outro concluso em 29-05-07, que veio a entregar em 17-12-08, com decisões igualmente datadas de 31-08-08 e com a mesma justificação.

Ora, a Circular n.º 16/2006, do Conselho Superior da Magistratura, veio relembrar aos Exmos Juízes o teor da Deliberação do Conselho Permanente de 21.12.1999, segundo a qual “ao deixarem de exercer funções num Tribunal onde estão colocados, e após a tomada de posse no novo lugar, não deverão manter em seu poder qualquer processo desse Tribunal”, instrução que o Exmo Juiz Dr Reticências declarou conhecer.

A apreciação destes factos é feita nos termos seguintes:O Sr. Juiz ….vem acusado de ter violado o dever geral de zelo, o dever de lealdade e o de criar no público confiança na adminis­tração da justiça.”

E qual a decisão? Esta: “Em conclusão, acordam os membros que constituem o Permanente deste Conselho Superior da Magistratura aplicar ao Exm. Juiz Dr…..– por violação dos deveres de zelo, de lealdade e do dever de criar no público confiança na administração da justiça - a pena de 10 (dez) dias de multa.”

Esta sanção significa aplicar quase a mínima, nos termos do Art. 87 do Estatuto dos Magistrados Judiciais, que fixa o mínimo de 5 e o máximo de 90 dias.

Texto segundo Acórdão Disciplinar publicado no Boletim Informativo III Série – nº2 – Outubro de 2009, do Conselho Superior de Magistratura, em que foi relatora a Vogal Dra. Alexandra Rolim Mendes.

Isto pode acontecer noutra profissão ou actividade? Pode.

Mas não clamam os juízes, titulares de órgãos de soberania, serem como que ungidos do Senhor? Verdade, clamam.

Noutra actividade, factos desta natureza, certamente com enormes prejuízos para tanta gente, teriam este desfecho: multa de 10 dias? Não, o mínimo seria o despedimento.

Quando se exige que o PRG seja transparente divulgando os fundamentos dos seus despachos no caso Face Oculta, sabendo-se bem o que com isso se pretende, não seria de esperar que aqui os bois fossem tratados pelo nome e não por reticências? Seria, julgo eu. Mas, como não sou juiz, posso estar enganado.

sábado, 21 de novembro de 2009

Plano Inclinado na SIC-N

Baixo o som…

O diagnóstico está feito, desde há muito. O discurso é repetitivo. O nome do programa é próprio de optimistas.

Surpreende ou teme-se a continuidade. O mestre do optimismo treina sucessor?


O seleccionador mantém-se. Por isso, não admira que os convocados para o Jornal das 9, das 21, sejam igualmente convocados para qualquer jogo crispado.

Porque há que animar, com o quanto pior melhor. Por isso, não lhe peçam nem aguardem soluções. Quando as houver, acaba-se a música e dá-lhes uma coisa má. Porque jamais serão convertidos em algo diferente.

São assim, não se espere que mudem. Seria a morte deles, porque passariam a gente normal. Algo detestável.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Profissão, actividade, ocupação: EX

É pelo menos assim que se identifica, para os devidos efeitos, na crónica que escreve no Público de 14-11-09, o mais que EX José Manuel Torres Couto. Nada mais que ex-secretário-geral da UGT, ex-secretário nacional do PS, ex-deputado à Assembleia da República e ao Parlamento Europeu.

Provavelmente desempenhará hoje alguma profissão ou actividade que apenas se conhecerá quando for EX.

A direcção do Público não lê o jornal que dirige


De facto, vejamos:

Título na capa: Procurador não vê indícios de crime nas escutas a José Sócrates”.

Titulo na página 6: “Procurador-geral não viu indícios de crime nas conversas entre Vara e Sócrates”.

Ainda na página 6 faz-se destaque do comunicado do PGR, citando-se “O Procurador-Geral da República, em 23 de Julho de 2009, não obstante considerar que não existiam indícios probatórios que levassem à instauração de procedimento criminal, remeteu ao Senhor Presidente do Supremo Tribunal de Justiça as certidões em causa”.

Já no Editorial, na página 38, esquecendo tudo quanto fica dito, a direcção do Público permite-se isto: “(…) Mas não, o país não está a ficar surdo. Sabe que perante uma questão em que tinha direito a ser esclarecido apenas teve direito ao silêncio. José Sócrates disse que este caso estava a”passar as marcas”. Vieira da Silva disse tratar-se de “espionagem política”. Não é exacto. Este é um caso – o comunicado da Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou-o ontem – em que “existiam indícios de prática de um crime contra o Estado de direito”. (…)

Tudo na edição papel de 15-11-09.

A obsessão patente no editorial “O país não está surdo” deu para atribuir à PGR o que era a convicção do Procurador Coordenador do DIAP de Aveiro, convicção de que o Procurador-Geral da República não comungou.

O país pode não estar surdo. Mas isso só poderá ser observado por quem não é cego, obsessivamente cego.

Ou o fantasma de Fernandes assombra ou é caso para dizer que a escola se mantém, tendo apenas mudado as moscas.

Citado por quem se aprecia: Blog Câmara Corporativa, em 19-11-09

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Quem não quer ser sucata que não lhe vista a toga

Havia uma acção que opunha o sucateiro Godinho e a Refer. Aquela que ficou conhecida por Carril Dourado, com a Refer a alegar o roubo de carris da linha do Tua pelo Godinho.

A Refer ganha na primeira instância, mas Godinho recorre para a Relação.

Numa das conversas do processo Face Oculta, fica a saber-se que Godinho conheceu o desfecho favorável do recurso que interpôs para a Relação 4 dias antes de o respectivo acórdão ser assinado.

E estala a bronca.

O relator desembargador Lemos, Cândido de nome – excelente sentido de oportunidade do padrinho – estranha que tal tenha acontecido. Mas admite uma hipótese: ele costuma agrafar os projectos dos acórdãos às capas dos processos e, neste contexto, pode bem ter acontecido que as partes – os intervenientes no processo, não as partes em que por vezes se leva um pontapé - dele tenham tido conhecimento, mesmo antes de ser assinado por mais dois juízes.

Tretas, argumenta o escrivão da 2ª secção que garante que a secretaria apenas tem acesso ao acórdão depois de assinado pelos três juízes. E mais: que o documento apenas circula entre juízes até estar assinado por eles.

Reparo que, no relato feito, ninguém questionou o agrafo, eventualmente incompetente para a tarefa cometida. Mas adiante.

O desembargador Lemos lá vai adiantando que até já tinha ouvido falar das sucatas do Godinho e que conhecia mesmo o chefe da Repartição de Finanças que foi suspenso de funções, por também ter sido apanhado a sucatar. Por sua vez, os outros dois juízes preferem não se envolver nesta bronca.

O CSM, que afirma não conhecer o caso, põe-se fora. O sindicalista juiz António Martins não quer comentar a situação, talvez porque até agora, nesta história, não entrou o PM ou alguém próximo.

E agora?

A mim cabe-me apenas – e verão porquê - safar desta história quem me é próximo. E daí que tenha perguntado ao meu Pai se não estaria envolvido neste triste caso, não fosse ele, por exemplo, quem desagrafou o projecto de acórdão da capa do processo e o pôs a voar.

Que não, e que poderia jurar fosse por quem fosse.

Mas confesso que fiquei na dúvida. É que o meu Pai já trabalhou com umas máquinas de lanifícios que eram uma boa sucata. Há muito tempo, é verdade. Mas tem contra ele esta antiga proximidade à sucata. Falta-lhe a toga? Talvez não! Porque recordo que meu Pai usava uma coisa muito semelhante em funerais e procissões, como membro de uma Irmandade da Paróquia.

Melhor é ficar de atalaia que isto da sucata bem pode entra-me pela família dentro.

Ora bolas!

Nota: relato feito de acordo com notícia do Público de 12-11-09

Citado por quem se aprecia: blog Câmara Corporativa, em 15-11-09 e blog PuxaPalavra em 17-11-09.

Gostei de “Os Sorrisos do Destino” mas...

...não desta exposição do seu criador no final da exibição na pré-estreia. Alguém deveria ter tido o bom senso ou a sensibilidade suficiente para proteger Fernando Lopes. E este merecia tal atenção.

Mais um abandono

Vou ali e já venho…Até lá, organizem-se! SFF.


Gente porreira...

Que teima em cumprir a vida, gozando pequenos nadas, graças a quem sabe da poda.

Obrigado, Sr Miguel Machado.

Um brasileiro porreiro...

Ivan Lins ao lado de Carlos do Carmo, no Vává, em 31-07-09

O cantor brasileiro Ivan Lins comprometeu-se ontem a desenvolver uma escola de Arte e uma orquestra sinfónica na Cova da Moura, em Lisboa, promovendo a vinda de artistas brasileiros ao bairro.

A partir de hoje [ontem] esse vai ser o meu projecto de vida”, afirmou o cantor, na sede da Associação de Solidariedade Social do Alto da Cova da Moura (ASSACM), aonde se deslocou a convite da direcção para contactar com a realidade do bairro. (…)”

Público, 07-11-09

Foi grande o alarido com o caso Maitê Proença, quase uma convulsão nacional. Na altura escrevi que havia muitos brasileiros porreiros. Este é um deles. Que até decidiu concretizar um sonho de há muito, segundo confessou num jantar-tertúlia do Vává: ter um apartamento em Lisboa, onde vive grande parte do tempo. Mas a isto, a esta meritória iniciativa, pouco destaque se dá. Porque não vende papel, porque não nos permite assanharmo-nos contra qualquer coisa ou contra alguém.

sábado, 7 de novembro de 2009

Cavaco e Dalila…

Em 2007 o PR insurgiu-se contra o afastamento de Dalila Rodrigues do Museu Nacional de Arte Antiga perguntando, no ser particular jeito quando se trata de atacar o governo ou um seu ministro "Poderemos dar-nos ao luxo de prescindir daqueles que revelam as suas altas qualificações e que deram provas no desempenho das suas responsabilidades?"

Na mesma altura, o insuspeito Pacheco Pereira criticou a atitude de Cavaco, porque a decisão do afastamento se devia a quebra do dever de lealdade e isenção de Dalila na sua condição de funcionária pública.

Agora, com a mera justificação de perspectivas divergentes com quem manda, Dalila é afastada da Casa das Histórias – Museu Paula Rego, para cuja direcção fora convidada não há muito. E Cavaco calou. Desta vez não se sentiu tentado a invocar as “altas qualificações”, as “provas” dadas.

O facto de na decisão do afastamento estar envolvida a CM de Cascais deve ser mero pormenor para este alheamento do PR.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Suspensão ou suspenção? Renuncia ou renúncia? Ora bolas!

Clique na imagem para a ampliar.
Já agora: "Com os meus melhores cumprimentos". Mas suspenção e renuncia? Segue-se agora a suspensão de quem? Da secretária?

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Foi assim em 1847 e em 1880; é ainda assim em 2009... Eça é que é Eça!

Os inglezes estão experimentando, no seu atribulado imperio da India, a verdade d'esse humoristico logar-commum do seculo XVIII: «A Historia é uma velhota que se repete sem cessar.»

O Fado ou a Providencia, ou a Entidade qualquer que lá de cima dirigiu os episodios da campanha do Afghanistan em 1847, está fazendo simplesmente uma copia servil, revelando assim uma imaginação exhausta.

Em 1847 os inglezes, «por uma razão d'Estado, uma necessidade de fronteiras scientificas, a segurança do imperio, uma barreira ao dominio russo da Asia...» e outras coisas vagas que os politicos da India rosnam sombriamente, retorcendo os bigodes—invadem o Afghanistan, e ahi vão aniquilando tribus seculares, desmantelando villas, assolando searas e vinhas: apossam-se, por fim, da santa cidade de Cabul; sacodem do serralho um velho emir apavorado; collocam lá outro de raça mais submissa, que já trazem preparado nas bagagens, com escravas e tapetes; e, logo que os correspondentes dos jornaes têm telegraphado a victoria, o exercito, acampado á beira dos arroios e nos vergeis de Cabul, desaperta o correame e fuma o cachimbo da paz... Assim é exactamente em 1880.

No nosso tempo, precisamente como em 1847, chefes energicos, Messias indigenas, vão percorrendo o territorio, e com grandes nomes de Patria e de Religião, prégam a guerra santa: as tribus reunem-se, as familias feudaes correm com os seus troços de cavallaria, principes rivaes juntam-se no odio hereditario contra o estrangeiro, o homem vermelho, e em pouco tempo é todo um rebrilhar de fogos de acampamento nos altos das serranias, dominando os desfiladeiros que são o caminho, a entrada da India... E quando por alli apparecer, emfim, o grosso do exercito inglez, á volta de Cabul, atravancado de artilharia, escoando-se espessamente, por entre as gargantas das serras, no leito secco das torrentes, com as suas longas caravanas de camelos, aquella massa barbara rola-lhe em cima e aniquila-o.

Foi assim em 1847, é assim em 1880. Então os restos debandados do exercito refugiam-se n'alguma das cidades da fronteira, que ora é Ghasnat ora Candahar: os afghans correm, põem o cerco, cerco lento, cerco de vagares orientaes: o general sitiado, que n'essas guerras asiaticas póde sempre communicar, telegrapha para o viso-rei da India, reclamando com furor reforços, chá e assucar! (Isto é textual; foi o general Roberts que soltou ha dias este grito de gulodice britannica; o inglez, sem chá, bate-se frouxamente.) Então o governo da India, gastando milhões de libras, como quem gasta agua, manda a toda a pressa fardos disformes de chá reparador, brancas collinas de assucar, e dez ou quinze mil homens. De Inglaterra partem esses negros e monstruosos transportes de guerra, arcas de Noé a vapor, levando acampamentos, rebanhos de cavallos, parques de artilharia, toda uma invasão temerosa... Foi assim em 1847, assim é em 1880.

(…)

Eça de Queiroz, Cartas de Inglaterra