quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Quem não quer ser sucata que não lhe vista a toga

Havia uma acção que opunha o sucateiro Godinho e a Refer. Aquela que ficou conhecida por Carril Dourado, com a Refer a alegar o roubo de carris da linha do Tua pelo Godinho.

A Refer ganha na primeira instância, mas Godinho recorre para a Relação.

Numa das conversas do processo Face Oculta, fica a saber-se que Godinho conheceu o desfecho favorável do recurso que interpôs para a Relação 4 dias antes de o respectivo acórdão ser assinado.

E estala a bronca.

O relator desembargador Lemos, Cândido de nome – excelente sentido de oportunidade do padrinho – estranha que tal tenha acontecido. Mas admite uma hipótese: ele costuma agrafar os projectos dos acórdãos às capas dos processos e, neste contexto, pode bem ter acontecido que as partes – os intervenientes no processo, não as partes em que por vezes se leva um pontapé - dele tenham tido conhecimento, mesmo antes de ser assinado por mais dois juízes.

Tretas, argumenta o escrivão da 2ª secção que garante que a secretaria apenas tem acesso ao acórdão depois de assinado pelos três juízes. E mais: que o documento apenas circula entre juízes até estar assinado por eles.

Reparo que, no relato feito, ninguém questionou o agrafo, eventualmente incompetente para a tarefa cometida. Mas adiante.

O desembargador Lemos lá vai adiantando que até já tinha ouvido falar das sucatas do Godinho e que conhecia mesmo o chefe da Repartição de Finanças que foi suspenso de funções, por também ter sido apanhado a sucatar. Por sua vez, os outros dois juízes preferem não se envolver nesta bronca.

O CSM, que afirma não conhecer o caso, põe-se fora. O sindicalista juiz António Martins não quer comentar a situação, talvez porque até agora, nesta história, não entrou o PM ou alguém próximo.

E agora?

A mim cabe-me apenas – e verão porquê - safar desta história quem me é próximo. E daí que tenha perguntado ao meu Pai se não estaria envolvido neste triste caso, não fosse ele, por exemplo, quem desagrafou o projecto de acórdão da capa do processo e o pôs a voar.

Que não, e que poderia jurar fosse por quem fosse.

Mas confesso que fiquei na dúvida. É que o meu Pai já trabalhou com umas máquinas de lanifícios que eram uma boa sucata. Há muito tempo, é verdade. Mas tem contra ele esta antiga proximidade à sucata. Falta-lhe a toga? Talvez não! Porque recordo que meu Pai usava uma coisa muito semelhante em funerais e procissões, como membro de uma Irmandade da Paróquia.

Melhor é ficar de atalaia que isto da sucata bem pode entra-me pela família dentro.

Ora bolas!

Nota: relato feito de acordo com notícia do Público de 12-11-09

Citado por quem se aprecia: blog Câmara Corporativa, em 15-11-09 e blog PuxaPalavra em 17-11-09.

3 comentários:

Francisco Clamote disse...

Caro Moura Pinto:
Já tinho lido a notícia e já tinha tido vontade de a comentar, mas não desencantei um título para a enquadrar. Lendo o "Quem não quer sucata que não lhe vista a toga" fico cheio de inveja. Parabéns ! Abraço.

Anónimo disse...

Excelente post...

candidamente caminhamos para

o despoletar de todas estas fugas cirurgicas enigmaticas

do celebrado segredo de justiça

e do grau de intervenção nele dos meretissimos juizes e magistrados do MP!!!

Freeport esfumou-se em inglaterra,
terra de acentuada asfixia democratica como se sabe...

abraço

Raimundo Narciso disse...

Pois claro linkei a toga da sucata