segunda-feira, 23 de abril de 2012

Alan Turing (1912-1954)


Tido por pai da informática, com importante contributo no desenvolvimento da ciência da computação, na formalização do conceito de algoritmo, na criação dos modernos computadores.
Trabalhou para os serviços secretos ingleses construindo a Bombe, máquina que permitiu testar todas as posições possíveis dos rotores das enigmas - máquinas de encriptação - e, desse modo, decifrar as mensagens trocadas pelas tropas alemãs. Com o impacto que se possa imaginar no desenlace da Segunda Grande Guerra Mundial.
Contributos notáveis a todos os níveis. Mas era homossexual quando na GB os actos homossexuais eram ilegais. Turing aceitou a castração química como alternativa à prisão, sofrendo a humilhação da sua exposição pública e de ver os seus seios crescer e as suas formas tornarem-se mais femininas.
E suicidou-se aos 41 anos.

Um abaixo-assinado em 2009 pedindo a reabilitação da sua memória mereceu apenas um lamento do então primeiro-ministro Gordon Brown pelo tratamento dado a Turing.  
O governo de David Cameron recusa o pedido de perdão oficial com o pretexto de que Turing foi devidamente condenado por aquilo que então era tido por crime.
Um conservador é isto: alguém sentado na merda feita no passado. E feliz.

Cantinho dos cromos - Prof Espada


Era estudante quando, em sessões de café – recorrentes locais de estudo à época – fazia pausas olhando o DN que, de tão oficioso que era, publicava na íntegra os inenarráveis discursos do almirante Tomás (com h, eu sei), particularmente os daquelas visitas ao longo do país. E quanto não me divertia, lendo-os para os colegas presentes, tentado imitar aquele que igualmente nos enchia os ouvidos na rádio e na televisão.
Agora ainda se vai arranjando alguma coisita pelos jornais: um José Manuel Fernandes que, de tão sério, a sério ninguém o leva, a um exaltado e enraivecido Santana Castilho que parece que já nem com ele concorda. Pelo meio ficam outros, tesourinhos deprimentes, como é o caso do professor Espada que hoje me deixou perplexo com a crónica a que deu o título “Surpresa no Brasil, choque em Portugal”.
E choque e surpresa porquê?
Espada foi ao Brasil e isto quando, segundo diz, já se considerava, por razões da idade, alheio a qualquer surpresa. Há quem envelheça depressa ou quem de tão pedante já se sinta detentor ou conhecedor de tudo. Vai daí aterra em Porto Alegre e assiste à 25ª edição do Fórum da Liberdade, promovido pelo Instituto de Estudos Empresariais, parecendo-lhe, afirma, estar em Nova Iorque ou Washington, que Espada só usa como comparação cidades assim. De facto, naquele fórum, celebrava-se “democracia e liberdade, os direitos da pessoa humana e, por essas razões, o livre empreendimento, a limitação do Estado, o combate à corrupção e ao compadrio promovido pelos dinheiros públicos…”
Isto com “uma organização ultraprofissional, amaciada pela incrível simpatia brasileira” e com a presença de “milhares de pessoas aprumadas, devidamente vestidas, pontuais, alegres e bem-educadas”. Espada estava radiante, estava mesmo parvo com o que via.
E regressa de peito cheio, cabeça fresca, quando experimenta um choque logo que aterra em Lisboa. Mas não se tratava das medidas de austeridade, do mau desempenho do Benfica ou da bolsa, do aumento dos preços dos combustíveis, da seca, ou dos taxistas do aeroporto, pouco aprumados e mal vestidos. Nada disso. É que Espada, pessoa sensível, não gostou de ver numa revista de grande circulação o título “Precisamos de um novo 25 de Abril”. Ele nem queria acreditar. Que se desejasse um “golpe de Estado” quando se está em plena democracia. E admitia mesmo ter aterrado, por engano, na Guiné, não precisando de qual delas se trataria. Que, meus caros, Espada é mesmo de extremos, ou não tivesse já sido da extrema-esquerda até perceber quem é que lhe permitiria uma pose aprumada, um vestir como deve ser, uma postura pedante.
Felizmente regressaria à Polónia no dia seguinte donde nos continuará a brindar com os seus deprimentes tesourinhos que rotula de “Cartas de Varsóvia”, no Público, às segundas, numa banca ou quiosque perto de si. E bom proveito, sem esquecer que rir faz bem à saúde.

Leituras em dia:"Operação Antropóide" - Laurent Binet


Não se trata de um “era uma vez”…
Na verdade, Laurent Binet foge à tentação de inventar para ser fiel à realidade, à verdade histórica. E narra factos históricos de uma forma muito original e que lhe valeu o Prémio Goncourt de 2010 para o 1º romance. No caso as circunstâncias que rodeiam o atentado contra Heydrich que Binet descreve como “o homem mais perigoso do IIII Reich, o carrasco de Praga, o carniceiro, a besta loira, a cabra, o judeu Süss, o homem de coração de ferro, a pior criatura jamais forjada pelo fogo escaldante dos infernos, o homem mais feroz que alguma vez saiu de um útero de mulher…”
A ironia: o inventor da “solução final”, esta besta loira, era acusado de ser judeu na escola e, no entanto, fez jus ao HHhH, iniciais da frase alemã “o cérebro de Himmler é Heydrich”, porque ele suplantava, em atrocidades, o seu chefe e carrasco Himmler.
É por causa das marcas deixadas por estas bestas que Binet afirma que Daqui a 600 anos vamos continuar a falar da Segunda Guerra Mundial porque é o mal absoluto, é o heroísmo absoluto, é um reservatório de história trágico, terrível, extraordinário” (Ípsilon 06-05-2012).
E heroísmo absoluto é o de quem, encarregados de eliminar Heydrich, sabe antecipadamente de que o fazem com sacrifício das suas próprias vidas, no caso as dos paraquedistas Kubis e Gabcik, nesta obra homenageados, embora, como escreve Binet “Os que estão mortos estão mortos, e é-lhes indiferente que lhes prestem homenagem. Mas é para nós, os vivos, que isso tem significado. A memória não tem nenhuma utilidade para aqueles que ela honra, mas serve aquele que dela se serve. Com ela me construo, e com ela me consolo.”
E quando temos que nos defrontar com novas bestas loiras, por França, pela Alemanha, é de desejar que a memória não seja curta e que, sobretudo, nos seja útil.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Um fdp no Bahrein

Cartoon de Carlos Latuff
Cabecinha pensadora
Penso que o desporto não se deve envolver na política”… “os problemas do Bahrein nada têm a ver com a F1”.
Pergunta de um fdp
“Imaginemos que não havia corrida no Bahrein: os problemas parariam de imediato?
Uma realidade que o fdp não desconhece
O Bahrein teve também a sua revolta árabe mas a monarquia local aniquilou-a de forma violenta e calou-a até agora.
A cabecinha pensadora é de Bernie Ecclestone que detém os altos direitos comerciais da F1. Quem é o fdp? É ele também, pois claro.

Prémios sem cacau...


Uma iniciativa louvável:
A Câmara de Torres Novas criou o Prémio Maria Lamas, no valor de 10.000 euros.
Uma miséria:
A referida autarquia não ainda não pagou o prémio nem divulgou a decisão do júri, mesmo junto dos vencedores.
Uma canalhice:
O Presidente da autarquia chegou a levar à reunião de câmara uma proposta para cancelar o prémio.
O caso não é virgem. A Câmara de Beja procedeu de modo semelhante com um prémio de pintura, não pagando o prémio de 1.600 euros ao vencedor, mas ousando expor a obra premiada sem o seu consentimento. Aqui uma seguradora resolveu o problema, adquirindo a obra pelo valor do prémio.

Um dia não haverá balas para tanto tiro nos P(e)S...

Conde Rodrigues

Depois do que se sabe, manter a indigitação deste senhor para o Tribunal Constitucional é um tiro no pé. E qualquer dia podem mesmo acabar as balas.
Errar é humano. Fazer as coisas à toa releva falta de jeito. Insistir na escolha é inabilidade política, é ser irresponsável.

Allô, allô, France! JMF vient d’écrire “Le jour de gloire… de misère est arrivé”


Topem este pensador, franceses, profundamente angustiado com o destino que vos aguarda. Mas não se limitem a topar: leiam e meditem nas suas análises. E, vá lá, sigam mesmo as suas sugestões, implícitas ou explícitas. Verdade que por aqui já não lhe ligamos, mas isso é uma afronta e, sabe-se, ninguém é profeta na sua terra. Se vos aprouver, fiquem por aí com ele para que vos ilumine. O que agora acaba de escrever num jornal que foi de referência até ele o estoirar deve obrigar-vos a pensar duro, muito duro. Se não, reparem nisto:
“É muito deprimente verificar como um país como a França parece incapaz de reconhecer os problemas”.
Mas não se preocupem com a depressão do JMF. Numa outra crónica fiquei a saber que o senhor tem seguro de saúde e, além do mais, embora dele seja crítico, pode também contar com o nosso SNS.
“Sarkozy foi mau Presidente, Hollande consegue ser um candidato com ainda piores ideias”.
Não digam nada aos visados, para que eles não perguntem quem é este nosso cromo. Digam apenas, se for necessário, que é um gaijo ali da África Central ou coisa assim, num dia em que acordou mal disposto, a ressacar de uma bebedeira.
“Perante a perspectiva de mais cinco anos de “frigideira”, os franceses parecem dispostos a saltar para o fogo. Directamente. Pela mão de Hollande, por estes dias transformado em esperança derradeira de uma esquerda europeia à procura de rumo”.
Desta tirada é que convém dar conta exaustiva aos visados, aos franceses. Que isso de frigideira, embora não seja a do Tarrafal, agora desactivada, deve doer pra burro. E que raio: haverá necessidade de estoirar com as reservas de azeite, das margarinas, do óleo fula?
E atenção: com a chamada “frigideira”, no Tarrafal havia também a “Holandinha” (estão a topar: Hollande, “Holandinha”…), cela contígua à cozinha, onde eram trancados os presos cujo castigo era não serem alimentados mas sim torturados com o cheiro que lhes chegava da cozinha.
O que é que ele sugere como alternativa? Nada, que isso já era pedir de mais a este pensador e analista que muito nos diverte, às sextas, no Público.
Mas notem: o que para nós é uma diversão pode para vós vir a ser um tormento. É que ele gosta de ter razão e tudo fará para isso, nem que tenha que ajustar as suas análises à realidade que se apresente mais tarde. Ele nunca perde o pé, como no caso da guerra, invasão, do Iraque, pelo seu ídolo Bush. O que ele não fez para demonstrar, a torto e a direito, que a razão estava com ele, a começar pela crença na existência nas tais armas que nunca ninguém encontrou e que foram o pretexto para a invasão e para a guerra que está a acabar (?) como a gente sabe.
E se ele topa aquela coincidência de Hollande, "Holandinha", não sei não...





quarta-feira, 18 de abril de 2012

Um dilema

Artur Barrio - Artista Plástico

"A gente não sai da vida sem cicatizes e sem rugas. A única maneira de escapar a isso é morrer cedo."
Artur Barrio - Público 18-04-2012



segunda-feira, 16 de abril de 2012

Leituras em dia: "A Visita do Médico Real" - Per Olov Enquist


Era uma corte com saberes sob a forma de dogmas e, por isso, inimiga da liberdade de pensamento, indiferente a todo o humanismo e de uma feroz intolerância. E, para além disso, com o poder, absoluto, nas mãos de um rei louco, dependente e manobrável.
Tudo no auge do iluminismo em que a Dinamarca, apesar de tudo, se chega a envolver mas que sucumbe perante um fanático religioso, aniquilado que foi um arauto do iluminismo, no caso o médico real.
Haverá no livro muito de ficção, mas esta não será de todo alheia à realidade de então. E já há muito Hamlet tinha afirmado haver algo de podre no reino da Dinamarca.
E porque nem tudo é mera ficção é que vale a pena estar livre de um regime de pacotilha, de legitimidade insustentável, como é o monárquico.

MAC - Quem responde a Correia de Campos?


“Por que razão deve a MAC ser penalizada com a sua partição e desmantelamento, com o argumento de excesso de instalações, quando o que porventura pode estar a mais são as outras duas [Magalhães Coutinho e Hospital de São Francisco Xavier], cujo rendimento, prestígio e qualidade não se lhe equiparam? Não haverá um útil destino a dar às instalações que nunca se deveriam ter construído ou reconstruído, no HSFX e na Magalhães Coutinho?
Ao visarmos a MAC para o camartelo, não estaremos simplesmente a esconder uma cupidez por recursos valiosos, esquecendo até o património arquitectónico, sem ter garantido o necessário carácter alodial do terreno e edifício, caso se destinem a fins diversos dos actuais?
Que mal virá ao mundo em deixar viva e actuante, até que o Hospital de Todos os Santos seja edificado, a melhor maternidade do país, a qual, por seus méritos, se destina a ser naquele integrada?
Que súbita onda de zelo orçamental contamina os nossos decisores, para uma suposta economia temporária de ridículo montante, face à esmagadora dimensão de tanto desperdício conhecido?
Que súbita falta de senso político afecta o nosso executivo, em se deixar envolver numa querela afectiva de onde só poderá sair perdedor sem glória?”
Parte final da crónica de Correia de Campos no Público de 16-04-2012

sexta-feira, 13 de abril de 2012

CASO PORTUCALE - UMA VERGONHA


A dois meses das eleições legislativas de 2005, enquanto arrumam papéis, três ministros  assinam despacho que permite o abate ilegal de mais de dois mil sobreiros, a favor de um empreendimento turístico de empresa do BES.
Meses antes, o mesmo BES, por imperativo legal, deu conta de 115 depósitos em numerário num valor superior a um milhão de euros numa conta do CDS, em que como doador aparece mesmo o tal Jacinto Leite Capelo Rego, porque isto dava mesmo para gozar com o pagode.
A partir daí temos 11 arguidos, incluindo dirigentes do CDS, acusados, entre outros crimes, de tráfico de influências, abuso de poder e de falsificação.
Passados sete anos, nem uma só acusação provada, de acordo com sentença cujo acórdão foi lido a alta velocidade, sem pontuação, por vezes de forma impercetível, como se a vergonha queimasse. Isto é: crimes zero. E desculpem o incómodo.
Prova-se assim que pelas malhas da justiça não passa o pequeno furto do sem-abrigo num supermercado. Aqui o MP é eficaz e consegue convencer o tribunal. Quando há graúdos ao barulho e muita massa pelo meio, é o que se vê: não houve abate ilegal de sobreiros, nem financiamento ilegal a partidos, chegando-se ao ponto de se pôr em causa a honra e o bom nome de uns quantos anjinhos que a esta hora já devem ter estoirado umas boas garrafas de champanhe.
Nas escutas feitas a este caso surgiram as suspeitas sobre eventual corrupção no caso da aquisição dos submarinos, igualmente com proximidades a governantes de então. E podem fazer já apostas sobre o seu desfecho, caso chegue a tribunal.
 

domingo, 8 de abril de 2012

As angústidas de D Mena Mónica


D Mena Mónica passeou-se pelos jardins de Lisboa e ficou abismada com o que viu num jardim próximo de sua casa: os homens jogavam às cartas, as mulheres entretinham-se a acabar um infindável napperon. E o drama consistia na angústia de D Mena Mónica não ter como possível uma “conversa séria” com tal gente porque, com a D Mena Mónica, só mesmo conversas a sério. Pela sua crónica no Expresso de 06-04-2012 não se sabe se tentou conversar seriamente. Mas admito que perante homens que jogam às cartas – que horror – e mulheres entretidas com um napperon, falou mais alto o preconceito da nossa socióloga: aquilo não era gente para ela. E ainda bem para os jogadores da sueca e da copa e as senhoras do napperon pois, interroga-se D Mena Mónica “Mas como falar das minhas angústias a compatriotas que nunca leram Camilo, Eça ou Cesário, que nunca ouviram a música de Mozart, de Schubert ou de Verdi, que nunca olharam uma estátua de Bernini, um quadro de Turner ou a nave de Alcobaça?”
Sim, que estes analfabetos vindos do campo, afirma ela de forma algo contraditória, apenas terão lido “ o livro de São Cipriano que ensinava a conquistar moçoilas, combater o demónio e amontoar uma fortuna”.
É muito exigente a D Mena Mónica quando trata de abordar as suas angústias. Mas que interesse podiam ter tais pessoas nas angústias de D Mena Mónica, quando o importante era ter o maior número de trunfos possível ou não apanhar copa alguma, consoante o jogo, ou, então, despachar o napperon?
D Mena Mónica não se enxerga e está muito longe disso. Até parece que refina com a idade. E, assim, lá teve que voltar com as suas angústias e, desta vez, com a certeza de que existe um abismo entre uma pedante e a gente simples. E uma coisa deveria deixá-la a pensar: aqueles “ainda de boné na cabeça” e “ainda de lenço na cabeça”, como os descreve, conviviam entre si, ao seu modo e jeito. D Mena Mónica entrou e saiu com as suas angústias. Quem teria, de facto, pachorra para a aturar?
E pagam à senhora para escrever estas bacoradas no semanário de maior circulação? Por que raio?