domingo, 8 de abril de 2012

As angústidas de D Mena Mónica


D Mena Mónica passeou-se pelos jardins de Lisboa e ficou abismada com o que viu num jardim próximo de sua casa: os homens jogavam às cartas, as mulheres entretinham-se a acabar um infindável napperon. E o drama consistia na angústia de D Mena Mónica não ter como possível uma “conversa séria” com tal gente porque, com a D Mena Mónica, só mesmo conversas a sério. Pela sua crónica no Expresso de 06-04-2012 não se sabe se tentou conversar seriamente. Mas admito que perante homens que jogam às cartas – que horror – e mulheres entretidas com um napperon, falou mais alto o preconceito da nossa socióloga: aquilo não era gente para ela. E ainda bem para os jogadores da sueca e da copa e as senhoras do napperon pois, interroga-se D Mena Mónica “Mas como falar das minhas angústias a compatriotas que nunca leram Camilo, Eça ou Cesário, que nunca ouviram a música de Mozart, de Schubert ou de Verdi, que nunca olharam uma estátua de Bernini, um quadro de Turner ou a nave de Alcobaça?”
Sim, que estes analfabetos vindos do campo, afirma ela de forma algo contraditória, apenas terão lido “ o livro de São Cipriano que ensinava a conquistar moçoilas, combater o demónio e amontoar uma fortuna”.
É muito exigente a D Mena Mónica quando trata de abordar as suas angústias. Mas que interesse podiam ter tais pessoas nas angústias de D Mena Mónica, quando o importante era ter o maior número de trunfos possível ou não apanhar copa alguma, consoante o jogo, ou, então, despachar o napperon?
D Mena Mónica não se enxerga e está muito longe disso. Até parece que refina com a idade. E, assim, lá teve que voltar com as suas angústias e, desta vez, com a certeza de que existe um abismo entre uma pedante e a gente simples. E uma coisa deveria deixá-la a pensar: aqueles “ainda de boné na cabeça” e “ainda de lenço na cabeça”, como os descreve, conviviam entre si, ao seu modo e jeito. D Mena Mónica entrou e saiu com as suas angústias. Quem teria, de facto, pachorra para a aturar?
E pagam à senhora para escrever estas bacoradas no semanário de maior circulação? Por que raio?

1 comentário:

lino disse...

Por isso é que eu não sujo as mãos com tal jornalismo. Às vezes ando de boné e jogo à sueca ou às copas e, para além dos autores que refere, li Ovídio, Séneca, Cícero e Horácio em latim bem como Platão, Safo, Esopo e Xenofonte em grego, autores que a socióloga de pacotilha nem deve saber que existem, mais uma catrefada deles em francês, espanhol, alguns em italiano e em inglês.
Abraço