sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Fala quem sabe para o surdo Crato

Sobrinho Simões
P. Os anteriores governos do PSD seguiram a linha iniciado por [Mariano] Gago. Este não fez o mesmo?
R. Este governo fez uma ruptura, que não foi só na ciência. Mas na ciência foi mais grave, porque é um tecido relativamente novo. Fez uma espécie de destruição criativa: rebentou com tudo, esperando que, das cinzas, nasça algo de novo. Na ciência, não nasce.
P. Como vê a proposta do Orçamento do Estado para o sector?
R. É péssima, porque corta de uma forma cega. Não reforça as instituições que merecem e deviam ser premiadas. Ao mesmo tempo, deveria reformular as instituições que não merecem. Do lado da ciência, há uma ideia de que um investigador muito bom pode juntar dois amigos e vai ali para o pátio do Hospital de S. João fazer um projecto de investigação.
P. É aplicar à ciência a cartilha do empreendedorismo?
R. A ciência, antes de mais, precisa de um tecido de suporte. O empreendedorismo é criminoso, porque tem estimulado perversões. O cientista que é muito empreendedor deve ser um empresário. Os estímulos deste tipo podem acabar por ser um convite ao chico-espertismo.
P. Como vê as alterações que a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) introduziu ao financiamento da ciência?
R. A FCT está de uma incompetência como eu nunca vi. Está a mudar permanentemente as regras e os prazos. Não há coisa mais difícil do que alguém planear a sua vida sem um mínimo de estabilidade.
P. E concorda com os critérios de avaliação, baseados na produção científica e obtenção de patentes, por exemplo?
R. São terríveis. Primeiro, porque coloca os investigadores das ciências sociais e humanas numa situação de dificuldade. E a sociedade portuguesa precisa, como de pão para a boca, de ciências sociais. Depois, parece-me que é mais importante a repercussão da nossa actividade no mundo científico e na sociedade do que o facto de se publicar numa revista com muito impacto. A FCT não pensa o mesmo.
Extratos da entrevista de Sobrinho Simões ao PÚBLICO de 22-11-2013

1 comentário:

Táxi Pluvioso disse...

Das cinzas nascerá algo de novo, também o nosso herói Cristiano acreditou, e das cinzas fez o nosso orgulho.