domingo, 7 de outubro de 2012

É a política, estúpido!



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A solução para a crise, dentro do euro, só pode passar por medidas domésticas de estímulo ao crescimento e emprego, racionalização efectiva (e não cosmética) da despesa pública, alargamento das bases tributárias (e não aumento das taxa), e empenho político europeu a vários níveis. Com recessão ou fraco crescimento económico não conseguiremos suportar, económica e socialmente, os juros da dívida. Será necessária alguma forma de mutualização parcial da dívida, um orçamento europeu mais significativo, com redistribuição pessoal do rendimento e um imposto sobre transacções financeiras à escala europeia, entre outras medidas. Mas isto pressupõe a construção da União política europeia, federal e com clara legitimidade democrática. Curiosamente, Portugal tem estado alheado deste debate (à excepção de Teresa de Sousa, Viriato Soromenho Marques, Rui Tavares e outros). Só houve ténues iniciativas – um encontro da União Europeia dos Federalistas e amanhã do Movimento Europeu – mas nem o governo, nem os partidos políticos, nem a sociedade civil pareceram muito interessados no tema. Os extremos (PCP, Bloco e CDS) têm sido tradicionalmente antifederalistas e os partidos do bloco central indiferentes.”
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A crise económica e financeira foi criada pelo fracasso do sistema político, e a sua solução exige uma reforma das instituições, novos atores (individuais e institucionais), uma forma de fazer política. O primeiro teste de que é possível passar da expressão inorgânica de descontentamento, para uma cooperação pelo bem comum são as autárquicas de 2013, através de candidaturas independentes e credíveis de cidadãos com projectos  consistentes. Ao nível local há uma austeridade autárquica a combater e há valores a defender: apoio aos jovens e idosos, a qualidade ambiental, ordenamento urbano, combate à corrupção, promoção cultural e dos espaços públicos, entre outros.”
Paulo Trigo Pereira, cidadão português e europeu e professor universitário (ISEG/UTL)
PÚBLICO, 07-10-2012

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